Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 51 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 51 visitantes :: 2 motores de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
O comboio vai de carrinho
Página 1 de 1
O comboio vai de carrinho
A história começou mal e hoje também não promete. Conta a Marquesa de Rio Maior, sobre a primeira viagem de comboio em Portugal, que boa parte dos convidados de D. Pedro V nem assistiu ao foguetório que os esperava no Carregado. Uma das duas locomotivas avariou a meio caminho, e a que sobrou não teve "força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram e foi-as largando ao longo da linha".
Quase 160 anos depois, o problema já não está no comboio mas na ferrovia. Um estudo recente, que escrutinou a frequência da utilização, a qualidade e a segurança da infraestrutura ferroviária, atribui-nos o segundo pior desempenho da Europa.
E, no entanto, já estivemos entre os 10 melhores. A própria rede, iniciada com Fontes Pereira de Melo, é hoje menor que no início do século XX, coisa que faria corar de vergonha o velho António Maria!
A Infraestruturas de Portugal, a nova empresa pública que gere as nossas redes rodoviária e ferroviária, acaba de atirar para cima da campanha eleitoral a intenção de investir 414 milhões na ferrovia, ao longo dos próximos cinco anos, sobretudo em obras de reabilitação. Nada, porém, que acrescente à velocidade e menos ainda às ligações à Europa, para lá dos Pirenéus.
Assistimos, em 30 anos, ao maior desinvestimento de que há memória na ferrovia portuguesa, em contramão com toda a União Europeia. Em nome da sustentabilidade, encerrámos quase mil quilómetros de via-férrea, uma política particularmente devastadora no Norte do país.
E, nos anos seguintes, apostou-se quase em exclusivo nos eixos metropolitanos, tendo-se iniciado um dos maiores fracassos da história do caminho de ferro português: a modernização da Linha do Norte, que se arrasta penosamente, muitos milhões e muitos anos depois.
Sim, os Alfa Pendular, que hoje circulam de Braga a Faro, vieram introduzir um novo paradigma de qualidade no serviço ferroviário. Mas são caso solteiro entre os comboios nacionais.
Crescemos em autoestradas o que perdemos na ferrovia. Temos 1,17 quilómetros de autoestradas por cada quilómetro de linha férrea, um rácio várias vezes superior à média europeia. Mas estamos a 2 mil quilómetros dos nossos principais mercados e não há uma tonelada de mercadorias exportadas via terrestre que vá de comboio para lá dos Pirenéus. Vai e vem tudo de camião, não há conversa sobre competitividade que convença o pagode.
Se pensarmos que, até 2020 e só em rendas às antigas Scut, a mesma empresa pública vai pagar (1500 milhões) três vezes mais o valor que se propõe investir na ferrovia, estamos conversados. O comboio vai de carrinho. E com portagem.
DIRETOR
19.07.2015
AFONSO CAMÕES
Jornal de Notícias
Quase 160 anos depois, o problema já não está no comboio mas na ferrovia. Um estudo recente, que escrutinou a frequência da utilização, a qualidade e a segurança da infraestrutura ferroviária, atribui-nos o segundo pior desempenho da Europa.
E, no entanto, já estivemos entre os 10 melhores. A própria rede, iniciada com Fontes Pereira de Melo, é hoje menor que no início do século XX, coisa que faria corar de vergonha o velho António Maria!
A Infraestruturas de Portugal, a nova empresa pública que gere as nossas redes rodoviária e ferroviária, acaba de atirar para cima da campanha eleitoral a intenção de investir 414 milhões na ferrovia, ao longo dos próximos cinco anos, sobretudo em obras de reabilitação. Nada, porém, que acrescente à velocidade e menos ainda às ligações à Europa, para lá dos Pirenéus.
Assistimos, em 30 anos, ao maior desinvestimento de que há memória na ferrovia portuguesa, em contramão com toda a União Europeia. Em nome da sustentabilidade, encerrámos quase mil quilómetros de via-férrea, uma política particularmente devastadora no Norte do país.
E, nos anos seguintes, apostou-se quase em exclusivo nos eixos metropolitanos, tendo-se iniciado um dos maiores fracassos da história do caminho de ferro português: a modernização da Linha do Norte, que se arrasta penosamente, muitos milhões e muitos anos depois.
Sim, os Alfa Pendular, que hoje circulam de Braga a Faro, vieram introduzir um novo paradigma de qualidade no serviço ferroviário. Mas são caso solteiro entre os comboios nacionais.
Crescemos em autoestradas o que perdemos na ferrovia. Temos 1,17 quilómetros de autoestradas por cada quilómetro de linha férrea, um rácio várias vezes superior à média europeia. Mas estamos a 2 mil quilómetros dos nossos principais mercados e não há uma tonelada de mercadorias exportadas via terrestre que vá de comboio para lá dos Pirenéus. Vai e vem tudo de camião, não há conversa sobre competitividade que convença o pagode.
Se pensarmos que, até 2020 e só em rendas às antigas Scut, a mesma empresa pública vai pagar (1500 milhões) três vezes mais o valor que se propõe investir na ferrovia, estamos conversados. O comboio vai de carrinho. E com portagem.
DIRETOR
19.07.2015
AFONSO CAMÕES
Jornal de Notícias
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin