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Pessoas
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O pior é o vento norte, explica. A protecção do planalto serve de pouco.- O estupor mete-se por aí abaixo e faz remoinho - resume.
- Pensei que o sul fosse pior - converso. - Por causa dos nevoeiros.
- O norte é pior.
Estamos na Fajã dos Vimes, que descemos com a admiração de quem desce um vale encantado. Mais de 600 pessoas chegaram a habitar esta e a fajã ao lado, a que chamam dos Bodes. Hoje, pouco mais de 30 residem na segunda. Na dos Vimes, umas 65.
- 57 - interrompe um tipo de bigode, acabado de entrar.
É pouco mais velho do que eu, apesar do ar envelhecido. Trabalha "lá fora", como pintor de construção civil, mas vem dormir à fajã. Como é domingo, ficou por casa. Assim que viu o homem abrir o café, aproveitou para vir beber uma fresca.
- Disse-me o Décio: 57 - insiste. - Uma miséria de gente.
Foi dos últimos a chegar, há nove anos. Depois do filho, agora na escola primária lá fora na Ribeira Seca, só nasceram mais duas crianças, a última há um mês.
- Mais de 60.
- 57.
- Mais de 60.
- Isso era dantes. Olhe, só da casa do Sr. Fontes, são menos duas. Do Teladeira, menos cinco.
- Vou contá-las à tarde - insiste o taberneiro. - É só começar aqui por cima.
Tem o único estabelecimento comercial da fajã. Produz a fruta que come, o café que vende e a tecelagem que expõe.
Conhece a clientela.
- E já nem para comer se chegam - diz o pintor, ignorando-o. Torce os olhos para o balcão: - Quantas pessoas viu nas sopas do Salão, há dias?
Olho o mar que brilha em frente, a Piedade do Pico recortando-se ao de leve na neblina. Uma velhinha de bata atravessa a estrada e perde-se na distância, arrastando os chinelos sobre a bagacina, a caminho da encosta.
Já não há pessoas, aqui como em tantos outros sítios de Portugal. Nesse aspecto, chegamos a parecer um país uno e indivisível.
por JOEL NETO
Diário de Notícias
- Pensei que o sul fosse pior - converso. - Por causa dos nevoeiros.
- O norte é pior.
Estamos na Fajã dos Vimes, que descemos com a admiração de quem desce um vale encantado. Mais de 600 pessoas chegaram a habitar esta e a fajã ao lado, a que chamam dos Bodes. Hoje, pouco mais de 30 residem na segunda. Na dos Vimes, umas 65.
- 57 - interrompe um tipo de bigode, acabado de entrar.
É pouco mais velho do que eu, apesar do ar envelhecido. Trabalha "lá fora", como pintor de construção civil, mas vem dormir à fajã. Como é domingo, ficou por casa. Assim que viu o homem abrir o café, aproveitou para vir beber uma fresca.
- Disse-me o Décio: 57 - insiste. - Uma miséria de gente.
Foi dos últimos a chegar, há nove anos. Depois do filho, agora na escola primária lá fora na Ribeira Seca, só nasceram mais duas crianças, a última há um mês.
- Mais de 60.
- 57.
- Mais de 60.
- Isso era dantes. Olhe, só da casa do Sr. Fontes, são menos duas. Do Teladeira, menos cinco.
- Vou contá-las à tarde - insiste o taberneiro. - É só começar aqui por cima.
Tem o único estabelecimento comercial da fajã. Produz a fruta que come, o café que vende e a tecelagem que expõe.
Conhece a clientela.
- E já nem para comer se chegam - diz o pintor, ignorando-o. Torce os olhos para o balcão: - Quantas pessoas viu nas sopas do Salão, há dias?
Olho o mar que brilha em frente, a Piedade do Pico recortando-se ao de leve na neblina. Uma velhinha de bata atravessa a estrada e perde-se na distância, arrastando os chinelos sobre a bagacina, a caminho da encosta.
Já não há pessoas, aqui como em tantos outros sítios de Portugal. Nesse aspecto, chegamos a parecer um país uno e indivisível.
por JOEL NETO
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