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E as pessoas, pá?
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E as pessoas, pá?
Catarina Martins quer acabar com as parcerias público-privadas na saúde. É uma posição que não espanta. A líder do Bloco desconfia das empresas e dos bancos, exceto se forem públicos, tem muitas reservas sobre a economia de mercado. Dez por cento dos eleitores deixaram-se convencer por esta retórica em outubro do ano passado, nas eleições legislativas, mas embora a percentagem pareça elevada quando comparada com resultados anteriores do BE e também com os do PCP, especialmente com os do PCP, na realidade os números ficaram muito aquém dos conseguidos em circunstâncias políticas parecidas - recessão profunda, desemprego, austeridade - pelo Podemos (20,7%) e pelo Syriza (35,1%).
O grande pormenor de António Costa ter precisado dos votos do Bloco para formar governo acabou por atribuir a Catarina Martins uma importância muito acima dos votos recolhidos e ajudou a esconder esta evidência, um resultado pífio, mas isso, a dinâmica atual que o partido inegavelmente atravessa, não significa que o BE tenha a vida facilitada, pelo contrário. Apoiar o governo num dia e criticá-lo no dia seguinte envia sinais contraditórios, é confuso, é pouco claro, é escorregadio, pode ter consequências imprevisíveis.
Neste contexto, qual é a mensagem dos bloquistas? Na verdade, é igual à dos comunistas. Há uma espécie de campeonato entre os dois partidos, eles vigiam-se de perto, daí a necessidade que o Bloco tem de regressar à vulgata anticapitalista mais rudimentar para não perder terreno nos temas, digamos, mais core - abaixo os bancos privados, as PPP na saúde, etc., etc. -, apesar de parte do seu eleitorado urbano não se rever em nenhuma destas bandeiras genéricas.
Há outros assuntos nacionais com impacto na vida das pessoas que poderiam ser explorados - mas por algum motivo nunca o são. Por exemplo, as dívidas do Estado às empresas voltaram a aumentar neste ano, o que provoca graves dificuldades de tesouraria, impede ou atrasa o investimento, justifica salários em atraso e afeta o PIB. O Bloco não fala disto porquê? E as tabelas de retenção do IRS, construídas de modo a financiar o Estado (600 milhões todos os anos) com dinheiro que deveria estar no bolso das famílias, isto não indispõe Catarina? O Bloco gosta mais do cidadão do que do consumidor, mas talvez se lhe chamar cidadão-consumidor perceba que há muito a fazer neste campo para ajudar as pessoas. As pessoas - a economia de mercado é só um detalhe ideológico.
Editorial
13 DE MAIO DE 2016
00:00
André Macedo
Diário de Notícias
O grande pormenor de António Costa ter precisado dos votos do Bloco para formar governo acabou por atribuir a Catarina Martins uma importância muito acima dos votos recolhidos e ajudou a esconder esta evidência, um resultado pífio, mas isso, a dinâmica atual que o partido inegavelmente atravessa, não significa que o BE tenha a vida facilitada, pelo contrário. Apoiar o governo num dia e criticá-lo no dia seguinte envia sinais contraditórios, é confuso, é pouco claro, é escorregadio, pode ter consequências imprevisíveis.
Neste contexto, qual é a mensagem dos bloquistas? Na verdade, é igual à dos comunistas. Há uma espécie de campeonato entre os dois partidos, eles vigiam-se de perto, daí a necessidade que o Bloco tem de regressar à vulgata anticapitalista mais rudimentar para não perder terreno nos temas, digamos, mais core - abaixo os bancos privados, as PPP na saúde, etc., etc. -, apesar de parte do seu eleitorado urbano não se rever em nenhuma destas bandeiras genéricas.
Há outros assuntos nacionais com impacto na vida das pessoas que poderiam ser explorados - mas por algum motivo nunca o são. Por exemplo, as dívidas do Estado às empresas voltaram a aumentar neste ano, o que provoca graves dificuldades de tesouraria, impede ou atrasa o investimento, justifica salários em atraso e afeta o PIB. O Bloco não fala disto porquê? E as tabelas de retenção do IRS, construídas de modo a financiar o Estado (600 milhões todos os anos) com dinheiro que deveria estar no bolso das famílias, isto não indispõe Catarina? O Bloco gosta mais do cidadão do que do consumidor, mas talvez se lhe chamar cidadão-consumidor perceba que há muito a fazer neste campo para ajudar as pessoas. As pessoas - a economia de mercado é só um detalhe ideológico.
Editorial
13 DE MAIO DE 2016
00:00
André Macedo
Diário de Notícias
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