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A história e as estórias
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A história e as estórias
Chegada a época do verão é justo pensar-se no descanso e em aproveitar os dias longos para descontrair. Apesar disso, a verdade é que a questão da Grécia e o clima pré-eleitoral em Portugal têm deixado pouco espaço para descontrações. Pensando nisto e nos livros que me têm dado prazer recentemente, decidi refletir sobre o momento histórico que vivemos e as histórias e estórias em torno dele.
Que estamos num momento que vai modificar certamente a paisagem não só da moeda comum, o euro, como de toda a União Europeia, não tenho qualquer dúvida. De como essa alteração ficará registada no presente e no futuro, já se trata de uma questão em aberto. E, afinal, estaremos nós a destacar neste momento os factos históricos ou as estórias em torno dos factos?
Como diz Sérgio Luís de Carvalho no seu livro “Equívocos, Enganos e Falsificações da História de Portugal”, editado este ano pela Planeta Manuscrito, “A História, como a vida, está em permanente evolução”. Esta é uma daquelas leituras simpáticas que convidam o leitor a viajar pela história e a ver que muitas vezes dos factos apenas conhece algumas estórias que se colam a estes e nunca mais saem. Se pensarmos no momento presente, veremos como aspetos tornados simbólicos na crise do euro, daqui a algum tempo não terão qualquer significado e nem sabemos bem se agora o tiveram ou não… mas como diz o autor deste livro, há uma certa necessidade de apimentar tudo o que por si parece ser apenas um acontecimento sem qualquer condimento. Assim, o que hoje é facto pode amanhã ser estória e vice-versa.
Depois também existem as nossas perspetivas daquilo que realmente se vai passando, seja nas nossas vidas, seja a nossa interpretação daquilo que nos rodeia. Nestas narrativas pessoais, podemos encontrar dos aspetos que nos parecem menos importantes, mas também os mais relevantes. Neste caso, refiro o livro de João Rosa Lã, “Do outro lado das coisas (in)confidências diplomáticas”, publicado pela Gradiva no ano passado, em que um relato na primeira pessoa percorre os meandros da diplomacia nacional em anos decisivos para o que é hoje o país. Desprestigiados durante muitos anos, as narrativas pessoais têm-se mostrado essenciais para se pensar e repensar o facto histórico, para além de quando bem escritas, como é o caso, servirem o propósito de uma leitura mais refrescante e menos enfadonha.
Assim sendo, o momento que vivemos é constituído por factos em construção e por um tempo que não está concluído. Para além destas questões que se ligam diretamente à construção das narrativas e discursos, mais ou menos formais, existem ainda outras tantas. Por exemplo, a análise antropológica da comunicação em que para além da palavra se associa a performance do comunicador e a sua relação com o interlocutor. Num livro muitíssimo bem estruturado e essencial para quem estuda estas áreas, Sandra Bornand e Cecile Leguy, lançam alguma luz sobre os estudos nestas áreas e sobre a construção da comunicação (“Anthropologie des Pratiques Langagières”, 2013, Armand Colin).
É na comunicação dos factos que muitas vezes se fazem estas transições entre história e estórias, entre narrativas pessoais e discursos que se tornam oficiais. Nestas três sugestões de leitura, encontram-se três testemunhos que nos podem ajudar a refletir os factos que hoje ocorrem e como estes poderão ser construídos agora e no futuro. Afinal, para além de leituras refrescantes, podem também ser formas auxiliares de repensar a história e a comunicação.
Cátia Miriam Costa
Investigadora do Centro de Estudos Internacionais, ISCTE – IUL
Por Oje
Data:Julho 23, 2015
Que estamos num momento que vai modificar certamente a paisagem não só da moeda comum, o euro, como de toda a União Europeia, não tenho qualquer dúvida. De como essa alteração ficará registada no presente e no futuro, já se trata de uma questão em aberto. E, afinal, estaremos nós a destacar neste momento os factos históricos ou as estórias em torno dos factos?
Como diz Sérgio Luís de Carvalho no seu livro “Equívocos, Enganos e Falsificações da História de Portugal”, editado este ano pela Planeta Manuscrito, “A História, como a vida, está em permanente evolução”. Esta é uma daquelas leituras simpáticas que convidam o leitor a viajar pela história e a ver que muitas vezes dos factos apenas conhece algumas estórias que se colam a estes e nunca mais saem. Se pensarmos no momento presente, veremos como aspetos tornados simbólicos na crise do euro, daqui a algum tempo não terão qualquer significado e nem sabemos bem se agora o tiveram ou não… mas como diz o autor deste livro, há uma certa necessidade de apimentar tudo o que por si parece ser apenas um acontecimento sem qualquer condimento. Assim, o que hoje é facto pode amanhã ser estória e vice-versa.
Depois também existem as nossas perspetivas daquilo que realmente se vai passando, seja nas nossas vidas, seja a nossa interpretação daquilo que nos rodeia. Nestas narrativas pessoais, podemos encontrar dos aspetos que nos parecem menos importantes, mas também os mais relevantes. Neste caso, refiro o livro de João Rosa Lã, “Do outro lado das coisas (in)confidências diplomáticas”, publicado pela Gradiva no ano passado, em que um relato na primeira pessoa percorre os meandros da diplomacia nacional em anos decisivos para o que é hoje o país. Desprestigiados durante muitos anos, as narrativas pessoais têm-se mostrado essenciais para se pensar e repensar o facto histórico, para além de quando bem escritas, como é o caso, servirem o propósito de uma leitura mais refrescante e menos enfadonha.
Assim sendo, o momento que vivemos é constituído por factos em construção e por um tempo que não está concluído. Para além destas questões que se ligam diretamente à construção das narrativas e discursos, mais ou menos formais, existem ainda outras tantas. Por exemplo, a análise antropológica da comunicação em que para além da palavra se associa a performance do comunicador e a sua relação com o interlocutor. Num livro muitíssimo bem estruturado e essencial para quem estuda estas áreas, Sandra Bornand e Cecile Leguy, lançam alguma luz sobre os estudos nestas áreas e sobre a construção da comunicação (“Anthropologie des Pratiques Langagières”, 2013, Armand Colin).
É na comunicação dos factos que muitas vezes se fazem estas transições entre história e estórias, entre narrativas pessoais e discursos que se tornam oficiais. Nestas três sugestões de leitura, encontram-se três testemunhos que nos podem ajudar a refletir os factos que hoje ocorrem e como estes poderão ser construídos agora e no futuro. Afinal, para além de leituras refrescantes, podem também ser formas auxiliares de repensar a história e a comunicação.
Cátia Miriam Costa
Investigadora do Centro de Estudos Internacionais, ISCTE – IUL
Por Oje
Data:Julho 23, 2015
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