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Sonhos e pesadelos
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Sonhos e pesadelos
Muita gente da esquerda – mas também da direita, sobretudo da direita mais radical – entusiasmou-se com o sonho grego e indignou-se com a Alemanha, acusando-a de egoísmo, egocentrismo e falta de solidariedade.
Não é de admirar: essa gente sempre viveu de sonhos.
Ao contrário dos liberais e dos socialistas moderados, que gostam de viver com os pés na terra, os esquerdistas e os direitistas convictos precisam de ter grandes ‘causas’.
Em Portugal, a minha geração cantou em gloriosos serões os célebres versos de Gedeão musicados por Manuel Freire: “Eles não sabem nem sonham/ que o sonho comanda a vida/ e sempre que um homem sonha/ o mundo pula e avança/ como bola colorida/ entre as mãos de uma criança”.
Nos anos 60 e princípios de 70 emocionei-me muitas vezes a cantar ou ouvir estes versos – que, além de belos e bem musicados, me pareciam conter uma mensagem óbvia, inquestionável e universal.
Nunca pensei que pudessem não ser verdadeiros.
Com o passar do tempo, porém, fui constatando que os meus sonhos não eram iguais aos do meu vizinho do lado; e que os deste não coincidiam com os do seu vizinho; e assim sucessivamente, numa constelação de anseios diferentes.
O tempo foi-me fazendo perceber que é muito fácil as pessoas juntarem-se para protestar contra qualquer coisa; mas é muito difícil reunirem-se para fazerem uma obra em conjunto.
Aí começam as dúvidas, as discussões, as dissensões – porque cada um tem uma ideia diferente e quer concretizá-la.
É neste salto do individual para o colectivo – ou seja, dos sonhos individuais para o sonho único colectivo – que muitas vezes as sociedades humanas descarrilam.
A extrema-esquerda e a direita radical são emocionais – e por isso vivem de grandes causas.
Uma e outra julgam-se cheias de razão, acham que estão a fazer o que convém ao povo – mas a verdade é que têm arrastado os povos para terríveis catástrofes.
Todos sabemos como acabaram os grandes sonhos da direita e da esquerda.
Sabemos como acabou o fascismo.
Como acabou o nazismo.
Como acabou o comunismo – nas suas versões leninista ou maoista.
Todos acabaram afogados em sangue, com milhões de mortos deixados pelo caminho.
E, a outra escala, o resultado sempre foi o mesmo.
A República Espanhola acabou com a ditadura de Franco e fuzilamentos contra ‘el paredón’.
O Chile de Allende acabou com o golpe de Pinochet e uma mortandade num campo de futebol.
A Cuba de Fidel Castro degenerou em ditadura.
A Líbia de Kadhafi, a Venezuela de Chávez, a Primavera Árabe tiveram o destino que se sabe.
A Coreia do Norte tem a sorte que está à vista.
Em todos estes cenários viveram-se sonhos, ilusões, promessas de um amanhã redentor.
Por isso, quando ouço os políticos falarem de sonhos, estremeço.
Livrem-nos dos sonhos colectivos!
Os sonhos são bons para viver individualmente ou em família, como nas epopeias do Oeste americano; mas são quase sempre trágicos quando pretendem ser vividos em sociedade.
Quando me falavam no ‘sonho grego’, eu espantava-me: será que as pessoas não aprenderam?
Nunca leram um livro de História?
Já viram algum sonho deste tipo que acabasse bem?
Eu olhava para os dirigentes gregos – para Tsipras, para Varoufakis – e, onde muitos viam uns heróis, eu via uns irresponsáveis, uns aventureiros, uns vendedores de ilusões.
Que haviam prometido ao seu povo o que não podiam prometer, porque não tinham como cumprir; e que depois se viraram para a Europa e disseram: agora resolvam o problema, porque foi isto que os gregos votaram.
Nenhum dirigente político tem o direito de conduzir o seu povo por um caminho que pode levar ao precipício.
Ao contrário daqueles que estão sempre prontos a correr atrás do primeiro vendedor de sonhos que apareça, eu digo: o mais elementar conhecimento da História aconselha a que os mantenhamos longe do poder.
Não devemos seguir os que prometem a Lua, mas sim ouvir os que têm os pés assentes no chão.
Estes, para os quais ninguém olha como heróis, têm uma sabedoria que falta aos outros; e por isso os liberais ou os socialistas moderados nunca organizaram matanças, nem encostaram ninguém à parede, nem fundaram ditaduras.
Lembremo-nos sempre disto: o papel dos governos não é liderarem sonhos colectivos – é criarem condições para que as pessoas (e as famílias) concretizem os seus sonhos particulares.
Os grandes sonhos colectivos trazem invariavelmente nas suas entranhas os gérmenes da desgraça.
José António Saraiva | 10/08/2015 20:59
SOL
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