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Mensagem por Admin Dom Set 06, 2015 10:44 am

Talvez não fazer nada, hoje, seja um dia meio caminho andado para uma morte precoce

Quando redobraram as notícias sobre multidões que fogem para a Grécia e para a Europa em geral, pensei tratar-se de uma falha - nas notícias ou no GPS das multidões. Afinal, estivemos meses a aprender que na Grécia, e na Europa em geral, se vivia uma tragédia humanitária nunca vista. Contra todas as expectativas, havia tragédias assaz maiores já ali ao lado. E os que lamentavam a devastadora austeridade que nos caiu em cima são os mesmos que agora exigem a partilha da nossa ofensiva abundância com os desafortunados do Médio Oriente e de onde calha. De súbito, a Europa tornou-se rica e repleta de empregos, alojamentos decentes, mesas fartas, privilégios sem fim. É o lado bom da crise dos refugiados.

O lado mau é que os corpos dos refugiados, vivos ou mortos, continuam a dar à costa. Vale que a reacção dos europeus se revela de fulgurante utilidade: correr para o Facebook a partilhar a fotografia do cadáver de uma criança estendido na praia e a criticar a passividade da Europa. Ou a indiferença dos governos. Ou a desumanidade de um destinatário genérico que naturalmente exclui o próprio - e heróico - indignado em causa. Parece um concurso para apurar qual é o cidadão mais piedoso.

Por falta de candidatos, não é de certeza um concurso para apurar qual o cidadão que abriria as portas de casa ao maior número de refugiados. Descontadas as "dezenas" de voluntários de que falam as notícias, não vi muitas almas sensíveis passarem da sensibilidade à prática e afirmarem-se disponíveis para albergar, por um período transitório, dois sírios ou quatro curdos no quarto das traseiras. Possivelmente os refugiados perturbariam o sossego do lar, essencial para se alinhavar no Facebook manifestos de extrema preocupação com o destino dos refugiados. Esta atitude traduz a típica bravura moral de quem subscreve petições pelos pobres e não se digna olhar o mendigo que o interpela na rua. Ou de quem chora os "cortes" no SNS e não visita o amigo doente. Ou de quem protesta as touradas e não abriga um cão vadio. O sentimentalismo sem compromisso preza a higiene. E é, desculpem lá, uma treta.

Mas houve pelo menos um português que saltou por cima das tretas e foi directamente ao assunto: o combate ao Estado Islâmico. A Sábado desta semana entrevista Mário Nunes, o militar de 21 anos que desertou da Força Aérea para, ao longo de quatro meses, lutar contra os jihadistas na Síria. Porquê? Porque prefere "morrer a não fazer nada". É maluco? Deve ser. Sensatos são os que ficam pelas ditas "redes sociais", a repousar as consciências e a responsabilizar uma vaga Europa pelos refugiados que a Europa real acolhe, sabe Deus a que preço. Talvez não fazer nada, hoje, seja um dia meio caminho andado para uma morte precoce. Ou pior, dadas as carências do islão imoderado em matéria de compaixão.

Sábado, 5 de Setembro

O segundo maior inimigo de António Costa

Há dias, o Facebook oficial de António Costa publicou o seguinte texto: "António Costa e Fernanda Tadeu casaram há 28 anos. Não houve festa mas sim um hambúrguer rápido no Abracadabra na Rua do Ouro, com os padrinhos Diogo e Teresa Machado, antes de seguirem para Veneza em lua-de-mel. António sempre soube gerir a sua vida pessoal e profissional e Fernanda tem sido o seu maior apoio." A ilustrar a pérola, uma fotografia antiga do líder socialista, de calções amarelos e bolsinha à cintura, com o braço em redor do pescoço da esposa. Uma atitude descontraída, a caminho de um hambúrguer rápido. Também rapidamente, imagem e legenda desapareceram do Facebook, decerto por razões técnicas. Mas ficou a intenção. E a garantia de que um sujeito que ingere fast food a fim de celebrar o matrimónio é, evidentemente, a pessoa ideal para governar o país.

Se restavam dúvidas, estas dissiparam-se após a entrevista da acima citada Fernanda Tadeu à edição de Agosto do Alternativa Socialista, notável folheto de campanha dirigido por Edite Estrela. Somos aí informados de que o Dr. Costa é exímio a cozinhar "lombo Wellington, terrines, muqueca de camarão e tripas à moda do Porto". Prova-se assim que o Dr. Costa possui, a somar aos hambúrgueres, uma visão global que o recomenda a representar Portugal no mundo ou a concorrer ao MasterChef.

Os socialistas acusam Passos Coelho de usar a mulher para ganhar votos. Aparentemente, o Dr. Costa usa a mulher para perdê--los. Coitada dela, coitado dele. Há nisto, apenas mais um dos sucessivos embaraços da campanha socialista, um bafio publicitário, um cheirinho a 1982, uma afirmação de desespero que nem vos conto. Quem acompanhar à distância tamanho espectáculo de inépcia julgará que o Dr. Costa é o principal entusiasta da coligação.

Quem acompanha de perto julga o mesmo. O Dr. Costa só não é o seu maior inimigo porque existe José Sócrates, agora parcialmente à solta.

por ALBERTO GONÇALVES
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