O striptease da política

Na estória que os pais sempre contam aos filhos tentando prepará-los para uma vida rodeada de ilusões e aparências, é o rei que vai nu. Nestes tempos de pré-campanha eleitoral da República Portuguesa não temos rei para despir, mas o que não falta é gente que se despe. Literalmente... ou descobrindo a careca. Tirando a roupa, ou deixando cair as vestes. Estamos perante o verdadeiro striptease da política, numas legislativas grávidas de incertezas. Mas transparentes como nunca.

1. As divergências postas a nu - Com José Sócrates devolvido à capital, apesar de continuar confinado ao espaço domiciliário e limitado nos contactos, não vejo como é que António Costa poderá continuar a fingir que o rei vai nu. Mesmo sem precisar de iludir a vistosa vigilância policial que o mantém preso em casa, não vai ser necessário esperar mais um fabuloso momento de magia do meu amigo Luís de Matos, para vermos Sócrates "aparecer" no debate mais aguardado de sempre e que pela primeira vez é transmitido em direto, mais logo, pelos três principais canais generalistas.

Ainda antes de Paulo Rangel fazer a sua entrada de elefante nesta campanha de porcelanas, já se tinha percebido que um dos eixos da estratégia eleitoral da coligação no poder era colar António Costa à governação Sócrates. Muito antes da transferência do ex-primeiro-ministro de Évora para Lisboa, já era claro que o candidato do PS tudo faz e fará, para falar do futuro, fugindo de um passado que não quer renegar, mas também não lhe interessa assumir.

Se a estas duas circunstâncias somarmos a declaração de "amor" ao PS e a Costa já emanada do novo domicílio "presidiário" de José Sócrates, parece-me cristalino que as divergências que serão postas a nu no frente a frente de logo, serão muito mais as contradições insanáveis do PS, do que as divergências entre aquilo que os dois líderes defendem para o futuro de Portugal.

Será caso para perguntar, se com um governo do PS, o ex-primeiro-ministro teria saído de Évora a tempo de "participar" na campanha eleitoral? Aqui está um verdadeiro segredo da justiça. Que não estou manifestamente em condições de violar.

2. O nu que expõe as divergências - É justo que se diga que a beleza sensual de Joana Amaral Dias há muito que não era segredo para ninguém.

Julgo não violar nenhuma consciência, por mais crítica que seja, se acrescentar que a sua aparição como veio ao Mundo (e prestes a dar mais um contributo para combater a baixa natalidade das últimas décadas) na capa de uma revista, não ajuda a desvendar mais nada nestes aspetos. Se me permitem, diria até que a beleza da foto nos remete para um universo familiar, onde a sensualidade desaparece a grande velocidade. Provavelmente desaparece para um segundo plano, que talvez esteja nas páginas interiores, mas devo confessar que a minha curiosidade não chegou tão longe.

Mas é tempo de avançar para a ideia que a visão da última edição desta revista "Cristina" me suscitou.

Quem é capaz de agir como ela, para além de um corpo que não esgrima demasiado com as potencialidades do Photoshop, tem que ter uma cabeça que seja capaz de reagir aos comentários e apreciações mais vigorosos. 

Incluindo os dos seus colegas da política, que não disfarçaram o incómodo com esta facécia da cabeça de lista por Lisboa às próximas legislativas, pondo a nu as divergências com uma decisão que admitem ser legítima, mas que pensam que lhes deveria ter sido comunicada em primeira mão.

Fica a certeza que candidatura mais transparente que a de Joana não há e se já há divergências postas a nu no seio desta pequena coligação da Esquerda, é apenas mais do mesmo, numa prova de coerência que não se percebe como os portugueses teimam em não aproveitar. Temos de esperar pelos resultados das eleições, para ver quanto valem estes novos partidos, mas não me consta que a pulverização do Bloco possa alguma vez resultar numa parte maior que o todo. Nem com uma cabeça de lista que acaba de pôr a nu que pode valer por dois.

09.09.2015
MANUEL SERRÃO
Jornal de Notícias