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Será também o sol enganador?
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Será também o sol enganador?
Só dois dias de sol e o mundo pareceu-me logo menos ameaçador
1. Os efeitos das variações climáticas no comportamento das pessoas ainda não estão devidamente estudados.
Deles falou desde sempre a literatura e, depois, o cinema.
Jurista que sou, recordo, contudo, uma jurisprudência antiga de um país do sul da Europa que defendia e aceitava como verdadeiros os efeitos psicológicos do vento siroco – em Portugal podia ser do levante – na predisposição dos habitantes de uma dada região para cometerem crimes violentos.
Estudados ou não tais resultados, pude, todavia, usufruir recentemente dos efeitos benéficos de dois dias seguidos de sol brilhante.
Dois dias excepcionais que interromperam a chuva que me esmagava num Verão que ainda durava.
Lancei-me para a rua, impus-me ir a pé para o trabalho, apreciei melhor o contorno das casas e a suas cores, as flores dos jardins e os seus cheiros e, sobretudo, vi com outros olhos pessoas descontraídas, mais conversadoras e alegres.
Dois dias que permitiram, enfim, sentir o mundo de uma forma que há muito eu não experimentava.
E, todavia, o mundo continua a rodar, soma mudanças ou hipóteses de que elas aconteçam e nada nas notícias sobre ele permitem que o olhemos indiferentemente.
Vejamos!
No fim-de-semana passado ocorreram as eleições no Partido Trabalhista britânico que, se determinarem consequências internas decisivas, poderão, além disso, contribuir para mudar a fisionomia política da Europa.
Nas próximas semanas avizinham--se eleições na Grécia e na Catalunha e qualquer delas poderá, sem dúvida, influenciar decisivamente não só o futuro dos respectivos países como o da própria União Europeia.
Depois, segue-se Portugal.
Todas essas mudanças desenham um cenário a que devemos estar atentos.
2. Há – cada vez mais chocante - o drama brutal dos refugiados e a necessidade de relembrar os seus motivos e impenitentes responsáveis, as suas consequências políticas e as soluções que uns verdadeiramente desejam e outros apenas aparentam desejar para os males que os afectam.
E, todavia, apesar da gravidade de tal tragédia, apenas me apetece falar dos sorrisos de alegria e alívio estampados nas caras dos refugiados que conseguiram escapar dos infernos que lhes impuseram nos países de origem e em muitos dos países europeus por onde tiveram de passar.
Há, ainda, os projectos absurdos – que invadem diariamente a minha rotina profissional – que as burocracias das instituições europeias vão laboriosamente inventando enquanto, indiferentes e bizantinas, assistem ao afundamento fatal do ainda chamado projecto europeu.
Futilmente, apetece-me, contudo, contar-vos apenas das visitas amigas, curiosas e trocistas que alguns colegas europeus fizeram ao meu gabinete para, especialmente, me elogiarem o bronzeado que umas poucas semanas de total repouso no Algarve me proporcionaram.
Diverte-me, também, contar-vos do ciúme bom de alguns deles, quando lhes mostrei as fotografias com a cor azul do mar algarvio e o branco resplandecente de luz do casario de Tavira.
3. Dois dias de sol apenas – só dois dias – e o mundo pareceu-me logo menos mau.
Talvez a jurisprudência de que falei não seja científica – ou talvez reflicta um saber antigo que já não conseguimos alcançar –, mas que uns dias de sol me permitiram, ao menos momentaneamente, olhar de uma maneira mais optimista para o mundo que me rodeia, permitiram.
Um único receio: será também o sol enganador?
Jurista
Escreve à terça-feira
António Cluny
15/09/2015 08:00
Jornal i
1. Os efeitos das variações climáticas no comportamento das pessoas ainda não estão devidamente estudados.
Deles falou desde sempre a literatura e, depois, o cinema.
Jurista que sou, recordo, contudo, uma jurisprudência antiga de um país do sul da Europa que defendia e aceitava como verdadeiros os efeitos psicológicos do vento siroco – em Portugal podia ser do levante – na predisposição dos habitantes de uma dada região para cometerem crimes violentos.
Estudados ou não tais resultados, pude, todavia, usufruir recentemente dos efeitos benéficos de dois dias seguidos de sol brilhante.
Dois dias excepcionais que interromperam a chuva que me esmagava num Verão que ainda durava.
Lancei-me para a rua, impus-me ir a pé para o trabalho, apreciei melhor o contorno das casas e a suas cores, as flores dos jardins e os seus cheiros e, sobretudo, vi com outros olhos pessoas descontraídas, mais conversadoras e alegres.
Dois dias que permitiram, enfim, sentir o mundo de uma forma que há muito eu não experimentava.
E, todavia, o mundo continua a rodar, soma mudanças ou hipóteses de que elas aconteçam e nada nas notícias sobre ele permitem que o olhemos indiferentemente.
Vejamos!
No fim-de-semana passado ocorreram as eleições no Partido Trabalhista britânico que, se determinarem consequências internas decisivas, poderão, além disso, contribuir para mudar a fisionomia política da Europa.
Nas próximas semanas avizinham--se eleições na Grécia e na Catalunha e qualquer delas poderá, sem dúvida, influenciar decisivamente não só o futuro dos respectivos países como o da própria União Europeia.
Depois, segue-se Portugal.
Todas essas mudanças desenham um cenário a que devemos estar atentos.
2. Há – cada vez mais chocante - o drama brutal dos refugiados e a necessidade de relembrar os seus motivos e impenitentes responsáveis, as suas consequências políticas e as soluções que uns verdadeiramente desejam e outros apenas aparentam desejar para os males que os afectam.
E, todavia, apesar da gravidade de tal tragédia, apenas me apetece falar dos sorrisos de alegria e alívio estampados nas caras dos refugiados que conseguiram escapar dos infernos que lhes impuseram nos países de origem e em muitos dos países europeus por onde tiveram de passar.
Há, ainda, os projectos absurdos – que invadem diariamente a minha rotina profissional – que as burocracias das instituições europeias vão laboriosamente inventando enquanto, indiferentes e bizantinas, assistem ao afundamento fatal do ainda chamado projecto europeu.
Futilmente, apetece-me, contudo, contar-vos apenas das visitas amigas, curiosas e trocistas que alguns colegas europeus fizeram ao meu gabinete para, especialmente, me elogiarem o bronzeado que umas poucas semanas de total repouso no Algarve me proporcionaram.
Diverte-me, também, contar-vos do ciúme bom de alguns deles, quando lhes mostrei as fotografias com a cor azul do mar algarvio e o branco resplandecente de luz do casario de Tavira.
3. Dois dias de sol apenas – só dois dias – e o mundo pareceu-me logo menos mau.
Talvez a jurisprudência de que falei não seja científica – ou talvez reflicta um saber antigo que já não conseguimos alcançar –, mas que uns dias de sol me permitiram, ao menos momentaneamente, olhar de uma maneira mais optimista para o mundo que me rodeia, permitiram.
Um único receio: será também o sol enganador?
Jurista
Escreve à terça-feira
António Cluny
15/09/2015 08:00
Jornal i
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