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O país real
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O país real
Temos de pugnar por políticas que assegurem mais igualdade de oportunidades e maior distribuição de riqueza.
De acordo com os dados divulgados recentemente pelo INE, no segundo trimestre de 2015 a economia portuguesa cresceu 1,5% face ao período homólogo e relativamente ao primeiro trimestre deste ano o PIB aumentou 0,4%.
Mas a verdade é que, no dia-a-dia, o que se constata é a persistência de uma crise económica e social que — em consequência de crise financeira internacional de 2008 — vem afectando a vida quotidiana dos portugueses, sendo também ainda muito visível ao nível empresarial nos inúmeros encerramentos e falências (vide o pequeno comércio).
Ora, é preciso que, ainda que fraco, este crescimento económico chegue à generalidade das pessoas.
De facto persistem problemas no nosso país com fortes repercussões sociais.
Desde logo, no mercado de trabalho. A taxa de desemprego permanece muito elevada: se em 2007, ou seja no início da crise internacional, se situava nos 8,1%, em 2014 foi de 13,9% (tendo diminuído 2,3 p.p. face à observada em 2013); depois, também em 2014, a proporção de desempregados à procura de emprego há 12 e mais meses (Desemprego de Longa Duração) no total da população desempregada foi estimada em 65,5%. E identicamente preocupante é ainda o decréscimo da taxa de emprego: segundo o INE a taxa de emprego caiu de 53,5% em 2011 para 50,7% em 2014.
Esta deterioração do mercado de trabalho forçou assim muita da população activa a emigrar, tendo nos últimos 4 anos emigrado mais de 300 mil portugueses.
É preciso notar que o peso dos inactivos tem crescido nos últimos anos em Portugal. E embora o país esteja extremamente envelhecido não são só os reformados mas também as pessoas que simplesmente desistiram de procurar emprego (daí o aumento da população inactiva com idades dos 25 aos 44 anos) ou que emigraram. E se a taxa de desemprego está a descer, isso deve-se também ao significativo aumento dos inactivos.
Por estas razões, em virtude do elevado número de desempregados, desencorajados e trabalhadores precários (que, na sua maioria, auferem salários baixos), a pobreza tem aumentado em Portugal e muitas pessoas e famílias não têm hoje, ainda — não obstante a ligeira recuperação económica — a capacidade para prover as suas necessidades básicas: segundo dados do Instituto da Segurança Social, no primeiro semestre deste ano foram servidas cerca de 8,6 milhões de refeições nas 843 cantinas sociais do país.
Justamente pelo forte desgaste dos rendimentos da maioria das famílias (e suas consequências na procura interna) o nosso país enfrenta a situação socioeconómica mais crítica da sua história recente, sendo premente combater esta situação. Por isso, nesta conjuntura, será premente implementar políticas que assegurem a recuperação do rendimento das famílias, não só das mais carenciadas mas também das da denominada “classe média”, garantindo justiça social. E, nesta medida, parece incontornável que temos de pugnar por políticas que assegurem mais igualdade de oportunidades e maior distribuição de riqueza, numa lógica de solidariedade. Não é o que tem acontecido mas é preciso mudar esta situação.
Como, na sua obra Democracia, referia o ensaísta António Sérgio: “É preciso que o país da realidade, o país dos casais, das aldeias, das vilas, das cidades (...) acabe com o país nominal, inventado nas secretarias (...)”.
GLÓRIA REBELO
18/09/2015 - 05:57
Público
De acordo com os dados divulgados recentemente pelo INE, no segundo trimestre de 2015 a economia portuguesa cresceu 1,5% face ao período homólogo e relativamente ao primeiro trimestre deste ano o PIB aumentou 0,4%.
Mas a verdade é que, no dia-a-dia, o que se constata é a persistência de uma crise económica e social que — em consequência de crise financeira internacional de 2008 — vem afectando a vida quotidiana dos portugueses, sendo também ainda muito visível ao nível empresarial nos inúmeros encerramentos e falências (vide o pequeno comércio).
Ora, é preciso que, ainda que fraco, este crescimento económico chegue à generalidade das pessoas.
De facto persistem problemas no nosso país com fortes repercussões sociais.
Desde logo, no mercado de trabalho. A taxa de desemprego permanece muito elevada: se em 2007, ou seja no início da crise internacional, se situava nos 8,1%, em 2014 foi de 13,9% (tendo diminuído 2,3 p.p. face à observada em 2013); depois, também em 2014, a proporção de desempregados à procura de emprego há 12 e mais meses (Desemprego de Longa Duração) no total da população desempregada foi estimada em 65,5%. E identicamente preocupante é ainda o decréscimo da taxa de emprego: segundo o INE a taxa de emprego caiu de 53,5% em 2011 para 50,7% em 2014.
Esta deterioração do mercado de trabalho forçou assim muita da população activa a emigrar, tendo nos últimos 4 anos emigrado mais de 300 mil portugueses.
É preciso notar que o peso dos inactivos tem crescido nos últimos anos em Portugal. E embora o país esteja extremamente envelhecido não são só os reformados mas também as pessoas que simplesmente desistiram de procurar emprego (daí o aumento da população inactiva com idades dos 25 aos 44 anos) ou que emigraram. E se a taxa de desemprego está a descer, isso deve-se também ao significativo aumento dos inactivos.
Por estas razões, em virtude do elevado número de desempregados, desencorajados e trabalhadores precários (que, na sua maioria, auferem salários baixos), a pobreza tem aumentado em Portugal e muitas pessoas e famílias não têm hoje, ainda — não obstante a ligeira recuperação económica — a capacidade para prover as suas necessidades básicas: segundo dados do Instituto da Segurança Social, no primeiro semestre deste ano foram servidas cerca de 8,6 milhões de refeições nas 843 cantinas sociais do país.
Justamente pelo forte desgaste dos rendimentos da maioria das famílias (e suas consequências na procura interna) o nosso país enfrenta a situação socioeconómica mais crítica da sua história recente, sendo premente combater esta situação. Por isso, nesta conjuntura, será premente implementar políticas que assegurem a recuperação do rendimento das famílias, não só das mais carenciadas mas também das da denominada “classe média”, garantindo justiça social. E, nesta medida, parece incontornável que temos de pugnar por políticas que assegurem mais igualdade de oportunidades e maior distribuição de riqueza, numa lógica de solidariedade. Não é o que tem acontecido mas é preciso mudar esta situação.
Como, na sua obra Democracia, referia o ensaísta António Sérgio: “É preciso que o país da realidade, o país dos casais, das aldeias, das vilas, das cidades (...) acabe com o país nominal, inventado nas secretarias (...)”.
GLÓRIA REBELO
18/09/2015 - 05:57
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