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Televisão e política
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Televisão e política
A televisão ocupou a política. De forma avassaladora. Tudo o que nela passa tem um conteúdo político. Aquilo que está fora não existe. O processo foi relativamente lento, mas inexorável.
Já na década de 1990, Emídio Rangel, então diretor da SIC e um dos primeiros a perceber o poder da televisão, dizia que conseguia vender um presidente da República. E tinha razão. A televisão vendeu bem Cavaco Silva aos portugueses. Como agora procura vender Passos Coelho.
Esta ingerência tem efeitos no discurso e comportamento dos políticos. Arte do momento, a televisão exige declarações curtas, ideias primárias, gritaria e palhaçada, muita palhaçada. A complexidade das questões é resumida a uma frase que nada esclarece e tanta vez nem sequer tem que ver com o assunto em debate. Conta mais a postura, a imagem que se transmite, de confiança ou agressividade, de ataque ou defesa, como se de um concurso de luta livre se tratasse. A tal ponto que transformou os homens políticos em "entertainers" que se prestam a todo o tipo de malabarismos só para aparecer nas pantalhas durante alguns segundos. Não admira. Se não o fizerem não existem.
A campanha eleitoral, momento importante da democracia que implica uma escolha que determina o futuro da sociedade, tronou-se num mero programa televisivo. Mais um. Que entretém, diverte, mas pouco esclarece.
Ao contrário do que afirmou recentemente um jornalista, o importante nunca é o que se diz, mas a postura, a imagem que se transmite, a pequena anedota do dia, a parvoíce que se faz ou profere para as câmaras. A televisão é aliás extremamente ativa. Já não dá notícias. Inventa polémicas e há muito que deixou de seguir as agendas, para as criar todos os dias.
O resto, o que se passa no mundo real, é pura paisagem, cenário. Nada conta, nem interessa. E nesse abandono cresce também o desinteresse das pessoas. Podemos falar da má qualidade dos cartazes. A propósito, os da coligação impressionam pelo amadorismo. A minha mulher diz que parecem um anúncio a uma pasta dentífrica. Aquele risco em forma de sorriso branco é de gosto mais do que duvidoso. Não venderia uma única embalagem. Mas que importa. Quem olha ainda para os cartazes?
Ou quem realmente se interessa pelas idas aos mercados, às feiras, aos jantares de bacalhau e carne assada com os militantes, às arruadas? Exercícios de apaniguados onde não se conquista um único voto que não esteja previamente garantido.
Ou mesmo quem segue o conteúdo dos debates? Quando a cor da gravata é tão mais importante? Para não falar da manipulação, em que todos os canais se empenham ferozmente, quando no final temos a habitual análise de uns quantos comentadores residentes, que não é análise nenhuma, mas uma declaração das suas próprias preferências políticas.
Quanto às promessas valem pouco ou mesmo nada. Ninguém acredita nelas. Bem pode António Costa afirmar que fez as contas se ninguém se interessa por elas. A porta de entrada de um prédio em Lisboa é muito mais telegénica.
A campanha eleitoral está assim reduzida a um espetáculo televisivo. Um "reality show". Um tipo de entretenimento que transforma os políticos em bombos da festa, gozados por todos, tomados a sério por poucos.
E, no entanto, hoje existe um meio de comunicação muito mais poderoso. E muito mais interessante, diga-se. Na verdade já não é a televisão que domina as nossas vidas, mas a Internet. Desde logo no tempo que lhe dedicamos. Seja em navegação, interação, troca de mensagens, leitura, produção profissional, criativa ou lúdica, passamos agora muito mais tempo na Internet do que em frente ao televisor. Além disso, tem muitas vantagens. Desde logo não é de sentido único. Permite o diálogo, a partilha de informação, tão diversificada quanto os milhões de pessoas que nela transitam. É livre, de uma liberdade como não existe em mais nenhum lugar neste mundo.
É de esperar que um dia se faça um verdadeiro "upgrade" na forma de comunicação política. Inventando algo radicalmente novo, um tipo de Facebook político, uma espécie de Uber das soluções possíveis, uma Wikipedia das ideias sociais. Até lá não há política a sério, só mais palhaçadas televisivas. n
Artista Plástico
Este artigo está em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico
17 Setembro 2015, 18:20 por Leonel Moura | leonel.moura@mail.telepac.pt
Negócios
Já na década de 1990, Emídio Rangel, então diretor da SIC e um dos primeiros a perceber o poder da televisão, dizia que conseguia vender um presidente da República. E tinha razão. A televisão vendeu bem Cavaco Silva aos portugueses. Como agora procura vender Passos Coelho.
Esta ingerência tem efeitos no discurso e comportamento dos políticos. Arte do momento, a televisão exige declarações curtas, ideias primárias, gritaria e palhaçada, muita palhaçada. A complexidade das questões é resumida a uma frase que nada esclarece e tanta vez nem sequer tem que ver com o assunto em debate. Conta mais a postura, a imagem que se transmite, de confiança ou agressividade, de ataque ou defesa, como se de um concurso de luta livre se tratasse. A tal ponto que transformou os homens políticos em "entertainers" que se prestam a todo o tipo de malabarismos só para aparecer nas pantalhas durante alguns segundos. Não admira. Se não o fizerem não existem.
A campanha eleitoral, momento importante da democracia que implica uma escolha que determina o futuro da sociedade, tronou-se num mero programa televisivo. Mais um. Que entretém, diverte, mas pouco esclarece.
Ao contrário do que afirmou recentemente um jornalista, o importante nunca é o que se diz, mas a postura, a imagem que se transmite, a pequena anedota do dia, a parvoíce que se faz ou profere para as câmaras. A televisão é aliás extremamente ativa. Já não dá notícias. Inventa polémicas e há muito que deixou de seguir as agendas, para as criar todos os dias.
O resto, o que se passa no mundo real, é pura paisagem, cenário. Nada conta, nem interessa. E nesse abandono cresce também o desinteresse das pessoas. Podemos falar da má qualidade dos cartazes. A propósito, os da coligação impressionam pelo amadorismo. A minha mulher diz que parecem um anúncio a uma pasta dentífrica. Aquele risco em forma de sorriso branco é de gosto mais do que duvidoso. Não venderia uma única embalagem. Mas que importa. Quem olha ainda para os cartazes?
Ou quem realmente se interessa pelas idas aos mercados, às feiras, aos jantares de bacalhau e carne assada com os militantes, às arruadas? Exercícios de apaniguados onde não se conquista um único voto que não esteja previamente garantido.
Ou mesmo quem segue o conteúdo dos debates? Quando a cor da gravata é tão mais importante? Para não falar da manipulação, em que todos os canais se empenham ferozmente, quando no final temos a habitual análise de uns quantos comentadores residentes, que não é análise nenhuma, mas uma declaração das suas próprias preferências políticas.
Quanto às promessas valem pouco ou mesmo nada. Ninguém acredita nelas. Bem pode António Costa afirmar que fez as contas se ninguém se interessa por elas. A porta de entrada de um prédio em Lisboa é muito mais telegénica.
A campanha eleitoral está assim reduzida a um espetáculo televisivo. Um "reality show". Um tipo de entretenimento que transforma os políticos em bombos da festa, gozados por todos, tomados a sério por poucos.
E, no entanto, hoje existe um meio de comunicação muito mais poderoso. E muito mais interessante, diga-se. Na verdade já não é a televisão que domina as nossas vidas, mas a Internet. Desde logo no tempo que lhe dedicamos. Seja em navegação, interação, troca de mensagens, leitura, produção profissional, criativa ou lúdica, passamos agora muito mais tempo na Internet do que em frente ao televisor. Além disso, tem muitas vantagens. Desde logo não é de sentido único. Permite o diálogo, a partilha de informação, tão diversificada quanto os milhões de pessoas que nela transitam. É livre, de uma liberdade como não existe em mais nenhum lugar neste mundo.
É de esperar que um dia se faça um verdadeiro "upgrade" na forma de comunicação política. Inventando algo radicalmente novo, um tipo de Facebook político, uma espécie de Uber das soluções possíveis, uma Wikipedia das ideias sociais. Até lá não há política a sério, só mais palhaçadas televisivas. n
Artista Plástico
Este artigo está em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico
17 Setembro 2015, 18:20 por Leonel Moura | leonel.moura@mail.telepac.pt
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