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Contra o medo
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Contra o medo
[Passos] sabe que tem muito boa Imprensa e a docilidade untuosa de uma televisão.
O medo é a inspiração e o respaldo dos tiranos. Nós, portugueses, temos sofrido, ao longo da História, doses substanciais de medo e é surpreendente que, mesmo assim, subsistimos como cultura e como força moral. O antifascismo é isso mesmo: uma força moral que congregou monárquicos, republicanos, comunistas, católicos, animados pelo singelo desejo de liberdade. A ideologia que os reuniu consistia nesse poder incomparável, talvez possível de sintetizar no verso admirável de Carlos de Oliveira: "Não há machado que corte a raiz ao pensamento". Nestes últimos quarenta anos, o medo tem sido um dos instrumentos daqueles dos nossos governantes que, para se manterem no poder, utilizam toda a utensilagem de que o medo dispõe.
As ‘sondagens’, que pareciam credibilizar o rigor das informações, serviam como viático para a jornada do medo. Caíram por terra, no Reino Unido, e, agora, com fragor idêntico, na Grécia: davam empate técnico ao Syriza e à Nova Democracia, partido irmão do PSD português, e foi o que se viu. Uma agência de rating, a Standard and Poor’s, introduziu-se nas eleições portuguesas, e foi dizendo que Portugal está muitíssimo bem, e que o Governo a seguir a este não deve alterar o rumo.
O ‘rumo’ é o que nos proporcionou a Coligação de Direita nos últimos quatro anos. O pavor que inspira é do conhecimento de todos nós: além da miséria, do êxodo, da ausência de razão crítica, das perseguições (sei muito bem do que falo), do favorecimento a factótuns e a ‘jornalistas’ estipendiados, conseguiu estiolar, pela espórtula ou pela intimidação obcecante, a força motriz do nosso destemor.
"Nós nunca seremos oposição ao País", proclamou, há dias, o dr. Pedro Passos Coelho, tão inexaurível na mentira como na desfaçatez e no desdém por nós manifestado. Ele sabe que, por artes malabares, tem muito boa Imprensa e a docilidade untuosa de uma televisão, ávida de recolher as suas frases vulgares e os seus movimentos programados. Nada disto é normal numa sociedade desejada limpa e digna. E numa comunicação social que legou pergaminhos de honra em épocas onde o medo era, também, a componente do dia-a-dia.
Está na hora de travar este medo, de escorraçar a mentira que nos enreda, e de reconquistar a esperança que nos tem sido sonegada.
23.09.2015 00:30
BAPTISTA-BASTOS
Jornalista
Correio da Manhã
O medo é a inspiração e o respaldo dos tiranos. Nós, portugueses, temos sofrido, ao longo da História, doses substanciais de medo e é surpreendente que, mesmo assim, subsistimos como cultura e como força moral. O antifascismo é isso mesmo: uma força moral que congregou monárquicos, republicanos, comunistas, católicos, animados pelo singelo desejo de liberdade. A ideologia que os reuniu consistia nesse poder incomparável, talvez possível de sintetizar no verso admirável de Carlos de Oliveira: "Não há machado que corte a raiz ao pensamento". Nestes últimos quarenta anos, o medo tem sido um dos instrumentos daqueles dos nossos governantes que, para se manterem no poder, utilizam toda a utensilagem de que o medo dispõe.
As ‘sondagens’, que pareciam credibilizar o rigor das informações, serviam como viático para a jornada do medo. Caíram por terra, no Reino Unido, e, agora, com fragor idêntico, na Grécia: davam empate técnico ao Syriza e à Nova Democracia, partido irmão do PSD português, e foi o que se viu. Uma agência de rating, a Standard and Poor’s, introduziu-se nas eleições portuguesas, e foi dizendo que Portugal está muitíssimo bem, e que o Governo a seguir a este não deve alterar o rumo.
O ‘rumo’ é o que nos proporcionou a Coligação de Direita nos últimos quatro anos. O pavor que inspira é do conhecimento de todos nós: além da miséria, do êxodo, da ausência de razão crítica, das perseguições (sei muito bem do que falo), do favorecimento a factótuns e a ‘jornalistas’ estipendiados, conseguiu estiolar, pela espórtula ou pela intimidação obcecante, a força motriz do nosso destemor.
"Nós nunca seremos oposição ao País", proclamou, há dias, o dr. Pedro Passos Coelho, tão inexaurível na mentira como na desfaçatez e no desdém por nós manifestado. Ele sabe que, por artes malabares, tem muito boa Imprensa e a docilidade untuosa de uma televisão, ávida de recolher as suas frases vulgares e os seus movimentos programados. Nada disto é normal numa sociedade desejada limpa e digna. E numa comunicação social que legou pergaminhos de honra em épocas onde o medo era, também, a componente do dia-a-dia.
Está na hora de travar este medo, de escorraçar a mentira que nos enreda, e de reconquistar a esperança que nos tem sido sonegada.
23.09.2015 00:30
BAPTISTA-BASTOS
Jornalista
Correio da Manhã
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