Fazer amigos no trabalho

Um engenheiro, um informático e um técnico de Recursos Humanos juntam-se numa sala e pegam cada um num instrumento musical. Não é o início de uma anedota - é assunto sério. É boa ideia juntar pessoas que trabalham juntas e com lugares tão diferentes num projeto comum e que nada tem que ver com trabalho? A informalidade não é, ao contrário do que muitas estruturas ainda acreditam, um mau sinal ou prenúncio da desintegração do respeito e do profissionalismo. Com o nível médio de educação a crescer, muitas das diferenças que sustentavam estruturas verticais nas empresas diluíram-se e hoje é muito mais comum - e muito mais saudável - encontrar uma orientação horizontal: todos sabem quem dá as ordens, mas também sabem que podem contar com essa pessoa para ajudá-los a chegar ao objetivo comum. Há cada vez menos chefes e cada vez mais líderes. E estes entendem que criar laços com aqueles com quem passamos grande parte do dia é saudável e desejável. Nos casos de que aqui ao lado se fala, profissionais de áreas distintas fizeram bandas e ensaiam e dão concertos. Podiam ter criado um clube de leitura, competir em maratonas, organizar torneios de padel, não importa. Tudo isto se passa fora do escritório, mas naturalmente a sua relação desenvolveu-se, em alguns casos tornou-se amizade - e isso tem reflexos na relação profissional. Que podem até ser muito vantajosos, desde que haja noção de que, dentro da empresa, os lugares não se alteraram e que o escritório não é o local para discutir música ou desporto. Havendo essa clareza na separação das águas, a aproximação só pode ser boa: gera empatia, facilita o entendimento, melhora o ambiente de trabalho. É muito mais provável que ajude alguém de quem gosta, que se esforce mais por uma pessoa com quem tem uma boa relação pessoal. E esse esforço acrescido tem efeitos na produtividade.

por Joana Petiz
Diário de Notícias