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Mensagem por Admin Qui Out 08, 2015 3:58 pm

O país reconquistou a sua credibilidade externa, teve uma saída limpa do processo de resgate e viu a sua capacidade de actuação reforçada nos mercados financeiros 

Ao longo dos últimos quatro anos, Portugal enfrentou um dos mais duros combates da sua história. Mais do que um “mero” processo de resgate num contexto de dificuldades financeiras próprias (como já antes acontecera por duas vezes, sempre na sequência de governos do Partido Socialista), a chamada da troika em 2011 revestiu-se de características particulares, no quadro dos compromissos externos que decorrem da participação na moeda única.
Por esse motivo, o novo governo teve de adoptar medidas particularmente penalizadoras do interesse próprio (e dos rendimentos) de largas franjas da população, com especial ênfase para os funcionários públicos, os pensionistas e a classe média.

Uma após outra, as medidas políticas implementadas – muitas das quais já antes vertidas para o Memorando que constituiu o último legado da governação Sócrates –, tinham um de dois efeitos possíveis: aumentar receita ou cortar despesa do Estado, mas convergindo sempre na capacidade de criar antipatia em diversos quadrantes da população (e do eleitorado).

Sem mais avaliações do mérito do desempenho do governo no seu todo ou de cada um dos ministérios em particular, os protagonistas deste “caminho das pedras” podiam facilmente ser alvo do rancor de um país martirizado por uma catadupa de sacrifícios, mergulhado num crescimento desmesurado do desemprego e na retracção generalizada do consumo, do investimento e da actividade económica no seu todo.

Por entre os fortes problemas sociais que tivemos de enfrentar, muitos optaram por emigrar, avolumando-se em todo o território as intervenções de primeira resposta dos organismos de proximidade, autarquias locais e/ou IPSS.
Apesar de tudo, e sem prejuízo da natural contestação das forças políticas da oposição, estruturas sindicais e corporativas, não deixa de ser assinalável a paz social genericamente vivida neste período, ao ponto de em confronto com a emergência da revolta syriziana, Portugal ter sido rotulado por visões mais extremistas como um país de “acomodados”.

Essa tranquila resistência colectiva acabou por dar os seus frutos. O país reconquistou a sua credibilidade externa, teve uma saída limpa do processo de resgate e viu a sua capacidade de actuação reforçada nos mercados financeiros internacionais.

As taxas de juro dos nossos financiamentos caíram a pique, foi possível proceder a reembolsos antecipados de parte dos financiamentos externos e o défice desceu para níveis compatíveis com os patamares da convergência.
A economia reanimou e cresceu a níveis superiores às estimativas gerais e acima da média da União Europeia. O desemprego desceu. A confiança de consumidores e investidores retomou velhos máximos. Progressivamente, as medidas de austeridade foram sendo aligeiradas e reforçaram-se os mecanismos de apoio social às franjas mais necessitadas da população. 

Evocar estes factos, quase em tom de manifesto eleitoral e/ou de declaração de voto, faz todo o sentido ainda que passados alguns dias do acto eleitoral, porquanto os mesmos servem para explicar boa parte dos resultados da noite de domingo, para enquadrar as iniciativas do Presidente da República e para projectar o desempenho futuro dos principais protagonistas no novo quadro parlamentar.

Diálogo. Compromisso. Responsabilidade. Chavões que se vão repetir à exaustão nos próximos meses. A democracia funcionou. A democracia vai continuar a funcionar.
Hoje, Portugal pode mesmo mais.

Presidente da Câmara de Braga
Escreve à quinta-feira 

Ricardo Rio 
08/10/2015 13:00
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