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A maioria silenciosa
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A maioria silenciosa
José Sérgio
Entre as memórias que guardo das campanhas eleitorais em que tive o privilégio de participar estão duas de que hoje me lembrei: uma ocorreu recentemente e a outra há já muito tempo. Esta última, nos idos de 80, teve lugar no Alentejo, onde havia quem lembrasse as indicações para a concentração de votos no PS, de modo a evitar os avanços de outras esquerdas. A mais recente ocorreu há semanas, quando uma pessoa já de idade me interpelou na rua e começou por me garantir que uma maioria silenciosa dos eleitores iria dar um novo mandato ao Governo em funções.
O que pareceria ser um mau enredo de um filme de qualidade duvidosa está a desenvolver-se na realidade do cenário político nacional
Mas a verdade é que o que pareceria ser um mau enredo de um filme de qualidade duvidosa está a desenvolver-se na realidade do cenário político nacional.
O principal derrotado das eleições legislativas de 2015, manobrando taticamente a posição de pivot que obteve, parece estar a tentar garantir ao seu líder uma sobrevivência política de curto prazo. Para isso, parece pretender alienar a posição que ocupa no sistema partidário nacional e violentar a expressão maioritária dos eleitores, assim como a tradição política nacional em que assenta também a confiança dos cidadãos no sistema político.
Todos conhecemos a importância assumida pelo PS na construção da democracia portuguesa e na resistência que deu aos totalitarismos e autoritarismos de extrema-esquerda que queriam amordaçar Portugal. No entanto, parece ser agora o próprio PS a esquecer a sua identidade.
Este enfraquecimento político é, obviamente, perigoso para a democracia portuguesa e para a condução da coisa pública, como se tem visto também ao longo dos últimos dias pela navegação errática com que o PS nos tem brindado.
Imaginemos agora, por segundos, que o PS, também perante as sondagens que conhecemos nas últimas semanas, e consciente da necessidade de encontrar um suplemento eleitoral, tinha anunciado a sua disponibilidade para uma convergência como a que agora vem trabalhando. Alguém acredita que o eleitorado do PS permaneceria incólume e resoluto nesse voto?
Os entendimentos com a extrema-esquerda não teriam roubado grande parte da expressão eleitoral do PS, levando-o a uma 'pasokisação' eleitoral? Os mais de 70% dos eleitores que votaram nos partidos do arco da governação e, também, da governabilidade, teriam distribuído os votos do mesmo modo? Não teria essa hipótese dado, muito provavelmente, uma maioria absoluta aos partidos da coligação Portugal à Frente?
Uma das provas concludentes de que o cenário hoje vivido não se encontrava em cima da mesa, e muito menos submetido aos eleitores, é-nos dada pela proposta de realização de um referendo interno no PS para decidir o caminho a trilhar. É o próprio PS que, apesar de ter antevisto a possibilidade, quer agora colocá-la em cima da mesa, para a tentar legitimar no pós-eleições.
Penso que nenhum democrata deseja que o PS saia estilhaçado deste processo, desde logo porque importa que na democracia portuguesa contemos com partidos como o PS.
Mas muito menos se admite que seja o País o sacrificado.
Importará, assim, que os atores em cena se recordem dos diferentes papéis desempenhados na genética e na atualidade democrática nacional, bem como que não esqueçam a clara expressão eleitoral de há escassos dias, em que a maioria silenciosa tão bem se fez ouvir.
* jurista
António Delicado * | 13/10/2015 16:27
SOL
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