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Mensagem por Admin Qui Out 22, 2015 11:00 am

“O problema dos nossos tempos é que o futuro já não é o que era”. Yanis Varoufakis recuperou as palavras de Valéry no último fim-de-semana, quando o ex-ministro das Finanças grego passou por Coimbra para falar de democracia – mas também de Europa, de economia, de política e de políticos.

O futuro já não é como era antes: previsível, controlado, sem surpresas. O economista inconformado, para quem a rigidez das regras tomou conta do sistema democrático, voltou a contestar o formalismo cego das instituições europeias e a brutal resistência à mudança nas políticas que regem a Europa. Não deixa de ser curioso, quase irónico, que Varoufakis o diga em Portugal e, sobretudo, num momento político em que o futuro há muito que não era tão imprevisível, tão fora de controlo, tão propício a surpresas. Um momento em que quase tudo está em aberto: as coligações à esquerda e à direita, os modelos de governo, as iniciativas do Presidente, a unidade dos partidos, os votos dos deputados, as contas do país. 

O futuro é mais imprevisível agora do que era até ao último dia 4 de Outubro. E o que antes eram certezas hoje dão margem para surpresas. Como quando o PS partiu para as legislativas convicto de que a vitória eleitoral estaria garantida contra um governo de austeridade. Quando a aliança PSD/CDS, mesmo sem maioria e perdendo votos, ainda garantiu mais deputados que a bancada socialista. Quando Cavaco Silva apelou a uma maioria para dar posse a um governo estável, certamente sem contar com o imbróglio parlamentar que se seguiria. Ou quando a proximidade de poder fez três inconciliáveis partidos de esquerda enterrarem o machado de guerra para conciliar posições que garantissem a tal estabilidade pedida por Belém. O futuro está hoje nas mãos de todos, sem estar na mão de nenhum. Passos, Portas, Costa, Catarina, Jerónimo estão temporariamente sós nas suas decisões: nenhum chega sozinho ao poder, todos precisam de alguém para lá chegar. E isso torna o futuro mais imprevisível do que nunca.

As únicas certezas que sobram, porém, são as que podem colocar tudo isto em causa e devolver a tal previsibilidade que entretanto se perdeu. Seja qual for o governo que se formar nos próximos dias, ele será decerto instável. Seja porque a coligação de direita não se segura sem o apoio do PS, seja porque o acordo (ainda por fechar) à esquerda esconde mais fraquezas do que forças. E o Presidente que suceder a Cavaco Silva também não vai ter aqui missão facilitada: seja porque vai ter de conter os danos causados por um governo fraco ou turbulento, seja porque dele se espera uma decisão que o evite. E chegamos a mais uma certeza: há um orçamento para definir e aprovar.

E as contas públicas, ainda desequilibradas, exigem um Executivo e um programa minimamente estáveis para não se descontrolarem ainda mais. Julgar que o défice e a dívida se resolvem por si, que as reformas estruturais podem esperar ou que as metas já acordadas se podem esticar como um harmónio, é mais do que uma ilusão – é irresponsável. E se há uma certeza que o país tem é que o seu futuro não pode voltar a ser como era no passado. Ou voltará a ser tudo como antes.

00:05 h
Helena Cristina Coelho
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