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Há pânico à esquerda
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Há pânico à esquerda
Num mundo egoísta, agarrado aos números, ao consumo, ao sucesso e realização individual, enfim, agarrado ao dinheiro. Nesta sociedade de exigências públicas quase sem limite. As políticas sociais defendidas pela esquerda, esgotando-se o crédito, limitado o endividamento, ficam suspensas. Ficam na esfera das promessas. À espera do crescimento económico ideal. Se e quando acontecer.
O velho e fundamental papel da esquerda democrática no desenvolvimento europeu parece chegado a um impasse.
Não sendo totalmente dispensável, o modelo afigura-se esgotado. O seu financiamento exige esforços desmesurados. Estagna ou recua ou muita coisa terá de mudar.
Entretanto, para manter-se na ribalta, tudo o que a esquerda sabe dizer, prometer ou reivindicar não tem limites.
Tudo o que, no poder, consegue fazer não vai um degrau para cima daquilo que o realismo – que caracteriza a direita – o vai permitindo.
Ganhar simpatias políticas e sociais até é fácil. Chegar ao poder até é possível. Mas, governar cumprindo as promessas. Decidir sem gorar expectativas é o drama da esquerda em Portugal e na Europa. Já todos perceberam que o maior sarilho é justificar a impossibilidade de mudança. É deixar tudo na mesma. Como se fosse um governo de direita. E pensar: então para que serve, hoje, a esquerda, se todos os dados socioeconómicos estão lançados, consolidados e de difícil mutação?
E, perante a ausência duma resposta tranquilizadora. Perante o fracasso de Hollande e Tsypras. Antecipando - porque assim estão convencidos- o seu próprio fracasso, a esquerda portuguesa vai sendo tomada pelo pânico. Pelo medo do julgamento futuro ao qual inevitavelmente se vai sujeitar. Pelo medo de não ter soluções. De a única saída ser de direita. Por muito tempo.
É esse o dilema do PS em Portugal. Hoje até pode ser poder. À força. Contra todas as regras e se houver entendimento. Para realização pessoal do líder e ocupação de lugares apetecíveis por destacados dirigentes e amigos. Mas fica a angústia e algum pânico por saber que este processo vai inevitavelmente consolidar, em breve, um governo de centro-direita. Possivelmente por mais de um mandato.
A bancarrota do Estado, da Região, de muitas autarquias, de bancos e de empresas de referência, a vinda da Troika e as medidas de austeridade introduziram novas realidades na política portuguesa. Trouxeram realismo.
Desvalorizaram as promessas e a demagogia. Esmoreceram a leviandade. Amadureceram o eleitorado. Em todo o território nacional. Agora, melhor é não contar com a ingenuidade do cidadão. As desculpas e justificações pós-eleitorais agora têm perna curta. Ou o político faz aquilo que prometeu, sem lamúrias, ou tem os dias contados. No país, na região ou na autarquia.
Quem não quer viver em alvoroço e acabar no descrédito que não faça promessas estapafúrdias só para chegar ao poder. Na autarquia ou na região é grave. No país é um desastre. Num país a recuperar da bancarrota pode ser uma catástrofe.
Emanuel Gomes
Diário de Notícias da Madeira
Quarta, 11 de Novembro de 2015
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