E as crianças

Como explicar a uma criança o que se passou em Paris na sexta-feira? Esta foi uma questão que se colocou aos franceses, nestes dias em que as televisões estiveram sintonizadas em canais de informação, incessantemente a mostrar imagens que, embora evitando o sangue, foram brutais para todos. O que dizer, o que responder às perguntas inevitáveis, como devolver a segurança aos que foram confrontados com uma violência e uma tristeza imensas? O fim de semana permitiu que a primeira reação fosse em casa. As escolas só reabriram ontem e houve tempo para preparar o regresso das crianças à rotina de estar entre os outros. O Ministério da Educação publicou no site indicações para os professores, e entretanto já estes se tinham juntado nas escolas para preparar a manhã de terça-feira. Uma coisa era certa: não era possível ignorar o assunto. Pelo contrário, era forçoso enfrentá-lo com respostas claras, sem rodeios, e explicar que a polícia presente nas ruas é protetora e amigável e que o islamismo, tão presente na sociedade francesa, não é igual ao jihadismo. Como disse uma psiquiatra ao Libération (que tem online o Le P"tit Libé, com explicações simples sobre o 13 de novembro), era preciso encontrar o equilíbrio: nem dizer "isto não vai voltar a acontecer" nem dramatizar numa superproteção que os deixaria à espera de novos ataques. Foi proibida a entrada de jornalistas nas escolas, para não haver perturbação, e era preciso ter em atenção as diferentes idades. Algumas crianças tinham assistido ao pior, quando lhes entraram desconhecidos feridos nas casas, quando ouviram as explosões, primeiro, e depois as sirenes ao longo da noite. Passar pela experiência de terça-feira nas escolas francesas foi mais uma prova de fogo para os adultos. Como disse uma professora, nos próximos dias os desenhos vão mostrar o que se passa naquelas cabecinhas. E talvez nos ajudem a perceber as nossas emoções.

Editorial
17 DE NOVEMBRO DE 2015
23:19
Ana Sousa Dias
Diário de Notícias