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PARA QUE SERVEM OS SÁBIOS - Pensar o futuro
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PARA QUE SERVEM OS SÁBIOS - Pensar o futuro
Pensar o futuro é uma tarefa relativamente fácil, em que o acordo quanto ao diagnóstico e aos remédios é sempre pronto e unânime.
Não se passa um mês sem que se verifique uma nova reunião de sábios dedicada a pensar o futuro. Esta sintaxe inusitada do verbo ‘pensar’ dá a entender que a actividade é diferente dos modos mais familiares de pensar em coisas, ou pelo menos dos modos normais de falar disso. Requererá em consequência gente especial. Trata-se na maior parte dos casos de pessoas que já fizeram na sua vida intelectual tudo o que podiam ter feito, que são reconhecidas justamente por aquilo que já não fazem, e de que muitas vezes não querem sequer ouvir falar.
Estarão assim na posição perfeita para falar sobre aquilo de que ninguém, a começar por eles, pode ter qualquer ideia, e portanto para pensar o futuro.
Há uma certa sabedoria nos sábios; no que diz respeito ao futuro não se comprometerão com previsões concretas.
Fazer previsões, ensinou-lhes a sua vida anterior, é sempre dificultado por acontecimentos supervenientes. Em vez de fazer previsões os sábios preferem declarar por atacado a gravidade de vários problemas graves: a fome, a desigualdade, a guerra e o clima; e também, mas em tom optimista, a possibilidade de várias soluções optimistas.
Como há várias soluções optimistas possíveis é requerido o contributo de sábios de muitas especialidades diferentes.
Estão assim normalmente representadas nestas reuniões públicas, por ordem decrescente de dignidade, as neuro-coisas, as organizações internacionais, as ciências médicas, as religiões do mundo, a astrofísica e, em último lugar, o romance ou a economia. São todas especialidades muito técnicas, que requerem anos de preparação e trabalho; é assim praticamente impossível arranjar quem tenha uma ideia simultânea de todas; e só a quem não a tenha de nenhuma será possível ter de algumas. É pois precisa a cooperação do leitor médio, que, porque foi poupado a qualquer preparação, está habituado a admirar com equanimidade documentários sobre malformações genéticas, rituais religiosos, fotografias de corpos celestes, artigos sobre a desigualdade, e requisitórios contra a poluição dos riachos; e assim se explica que o tópico ‘pensar o futuro’ desperte tanto interesse no leitor médio.
A imagem de gente a pensar o futuro diante de plateias interessadas corresponde a uma tradição muito antiga: a das actividades verbais de um conjunto de pessoas que não tem nada de particular a dizer, realizadas diante de um conjunto de pessoas que nunca teriam qualquer possibilidade de perceber o que de particular alguém tivesse a dizer.
A atracção das segundas pelas primeiras é tão irremediável como a atracção de espécies menores pelas nuvens de tinta emitidas por chocos em fuga. Explica ainda que o acordo quanto aos diagnósticos e aos remédios seja pronto e unânime; e que pensar o futuro seja uma tarefa relativamente fácil.
Miguel Tamen
18/12/2015, 0:09
Observador
Não se passa um mês sem que se verifique uma nova reunião de sábios dedicada a pensar o futuro. Esta sintaxe inusitada do verbo ‘pensar’ dá a entender que a actividade é diferente dos modos mais familiares de pensar em coisas, ou pelo menos dos modos normais de falar disso. Requererá em consequência gente especial. Trata-se na maior parte dos casos de pessoas que já fizeram na sua vida intelectual tudo o que podiam ter feito, que são reconhecidas justamente por aquilo que já não fazem, e de que muitas vezes não querem sequer ouvir falar.
Estarão assim na posição perfeita para falar sobre aquilo de que ninguém, a começar por eles, pode ter qualquer ideia, e portanto para pensar o futuro.
Há uma certa sabedoria nos sábios; no que diz respeito ao futuro não se comprometerão com previsões concretas.
Fazer previsões, ensinou-lhes a sua vida anterior, é sempre dificultado por acontecimentos supervenientes. Em vez de fazer previsões os sábios preferem declarar por atacado a gravidade de vários problemas graves: a fome, a desigualdade, a guerra e o clima; e também, mas em tom optimista, a possibilidade de várias soluções optimistas.
Como há várias soluções optimistas possíveis é requerido o contributo de sábios de muitas especialidades diferentes.
Estão assim normalmente representadas nestas reuniões públicas, por ordem decrescente de dignidade, as neuro-coisas, as organizações internacionais, as ciências médicas, as religiões do mundo, a astrofísica e, em último lugar, o romance ou a economia. São todas especialidades muito técnicas, que requerem anos de preparação e trabalho; é assim praticamente impossível arranjar quem tenha uma ideia simultânea de todas; e só a quem não a tenha de nenhuma será possível ter de algumas. É pois precisa a cooperação do leitor médio, que, porque foi poupado a qualquer preparação, está habituado a admirar com equanimidade documentários sobre malformações genéticas, rituais religiosos, fotografias de corpos celestes, artigos sobre a desigualdade, e requisitórios contra a poluição dos riachos; e assim se explica que o tópico ‘pensar o futuro’ desperte tanto interesse no leitor médio.
A imagem de gente a pensar o futuro diante de plateias interessadas corresponde a uma tradição muito antiga: a das actividades verbais de um conjunto de pessoas que não tem nada de particular a dizer, realizadas diante de um conjunto de pessoas que nunca teriam qualquer possibilidade de perceber o que de particular alguém tivesse a dizer.
A atracção das segundas pelas primeiras é tão irremediável como a atracção de espécies menores pelas nuvens de tinta emitidas por chocos em fuga. Explica ainda que o acordo quanto aos diagnósticos e aos remédios seja pronto e unânime; e que pensar o futuro seja uma tarefa relativamente fácil.
Miguel Tamen
18/12/2015, 0:09
Observador
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