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O povo a galope
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O povo a galope
A melhor definição de Espanha li-a há uns anos como epígrafe a uma biografia de Juan Carlos: "O que é a Espanha? É a poeira que se levanta em turbilhão no caminho da história, depois de um grande povo por ele ter passado a galope." Pertence a Ortega y Gasset, mas mesmo sendo de filósofo é compreensível para quem leu um pouco sobre o país vizinho e também já o atravessou, sobretudo naqueles dias de agosto em que as terras da meseta parecem tão amarelentas como intermináveis. Gentes e paisagens, é dessa soma que se fez a personalidade da Espanha.
Ora, não é num dia que se muda um país assim, por surpreendentes que tenham sido os votos, por muitas incógnitas que existam sobre o governo. Espanha permanecerá um grande país desde que continue a ser Espanha e esse sim é o desafio maior. Afinal o que é uma crise económica e política para o povo que expulsou os mouros da Península, conquistou as Américas da Califórnia à Patagónia, inventou a guerrilla para humilhar Napoleão e nos últimos 40 anos soube construir uma admirável democracia depois de décadas de ditadura, antecedidas de uma guerra civil em que todas as potências, das fascistas à comunista, usaram o país para medir forças?
Espanha é uma construção política que demorou séculos e prossegue. Nunca conseguiu ser um Estado-nação como Portugal. Aliás, enganam-se aqueles que dizem que Portugal conquistou a independência aos espanhóis. Espanha só nasce em 1492 quando os Reis Católicos, depois de unirem as coroas castelhana e aragonesa, tomam Granada. Os catalães dirão mesmo que só existe desde 1714, quando o monarca Borbón impõe a corte de Madrid como todo-poderosa. Quando muito, Portugal correu riscos de fazer parte dessa construção, quando os Filipes acumularam as coroas ibéricas. Mas releia-se as palavras de Ortega y Gasset e perceba-se que os portugueses não encaixam: nós tivemos os navegadores, eles os conquistadores, nós admiramos Vasco da Gama e Álvares Cabral, eles Cortés e Pizarro. Mesmo nas Descobertas, mantiveram-se a galope, não à vela. Os grandes marinheiros da história espanhola são um italiano e um português.
Inimigo contra o qual há 200 anos que não travamos nenhuma guerra! É tão natural que os admiremos, por D. Quixote, por Picasso, pela Sagrada Família, pelo Pata Negra, pelo Real e o Barça. Eça gabava o seu patriotismo, outros garantem ser um povo com cojones, até na hora de votar. São sobretudo os nossos únicos vizinhos e o bem deles é o nosso, mesmo que não o percebesse quem buscava justificações para as mortes da ETA ou agora se entusiasma com a revolta catalã.
Que Espanha se entenda para ter um governo. E que a economia cresça. Portugal ficará de certeza a ganhar. E sem complexos de cantar o E Viva España, imortalizado por Manolo Escobar.
21 DE DEZEMBRO DE 2015
00:01
Leonídio Paulo Ferreira
Diário de Notícias
Ora, não é num dia que se muda um país assim, por surpreendentes que tenham sido os votos, por muitas incógnitas que existam sobre o governo. Espanha permanecerá um grande país desde que continue a ser Espanha e esse sim é o desafio maior. Afinal o que é uma crise económica e política para o povo que expulsou os mouros da Península, conquistou as Américas da Califórnia à Patagónia, inventou a guerrilla para humilhar Napoleão e nos últimos 40 anos soube construir uma admirável democracia depois de décadas de ditadura, antecedidas de uma guerra civil em que todas as potências, das fascistas à comunista, usaram o país para medir forças?
Espanha é uma construção política que demorou séculos e prossegue. Nunca conseguiu ser um Estado-nação como Portugal. Aliás, enganam-se aqueles que dizem que Portugal conquistou a independência aos espanhóis. Espanha só nasce em 1492 quando os Reis Católicos, depois de unirem as coroas castelhana e aragonesa, tomam Granada. Os catalães dirão mesmo que só existe desde 1714, quando o monarca Borbón impõe a corte de Madrid como todo-poderosa. Quando muito, Portugal correu riscos de fazer parte dessa construção, quando os Filipes acumularam as coroas ibéricas. Mas releia-se as palavras de Ortega y Gasset e perceba-se que os portugueses não encaixam: nós tivemos os navegadores, eles os conquistadores, nós admiramos Vasco da Gama e Álvares Cabral, eles Cortés e Pizarro. Mesmo nas Descobertas, mantiveram-se a galope, não à vela. Os grandes marinheiros da história espanhola são um italiano e um português.
Inimigo contra o qual há 200 anos que não travamos nenhuma guerra! É tão natural que os admiremos, por D. Quixote, por Picasso, pela Sagrada Família, pelo Pata Negra, pelo Real e o Barça. Eça gabava o seu patriotismo, outros garantem ser um povo com cojones, até na hora de votar. São sobretudo os nossos únicos vizinhos e o bem deles é o nosso, mesmo que não o percebesse quem buscava justificações para as mortes da ETA ou agora se entusiasma com a revolta catalã.
Que Espanha se entenda para ter um governo. E que a economia cresça. Portugal ficará de certeza a ganhar. E sem complexos de cantar o E Viva España, imortalizado por Manolo Escobar.
21 DE DEZEMBRO DE 2015
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Leonídio Paulo Ferreira
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