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Mensagem por Admin Dom Jan 10, 2016 7:09 pm

A História, sobretudo a História contemporânea – decisiva para a política como campo de argumentação e arma de arremesso no combate pelos corações e cabeças dos povos – tem geralmente um uso que não é inocente ou sequer objetivo. E essa objetividade não implica que o historiador se dispa das suas crenças, dos seus princípios ou até dos seus preconceitos, de religião, raça, nação ou classe: basta que não os esconda.

A herança do séc. XX é nisto pesada e permanente. Foi um século em que as ideologias dominantes – comunismo, fascismo, nacionalismo, democracia – tomaram conta de grandes Estados, empenhando-se também em tomar conta da cabeça e do coração dos intelectuais, dos comunicadores, dos fazedores de opinião ou, na romântica expressão de Estaline, dos ‘engenheiros de almas’.

Estes engenheiros de almas espalharam-se por toda a parte, desde os famosos historiadores da classe operária até aos ficcionistas do realismo socialista, que escreviam romances segundo um guião pré-determinado. O destino dos não-alinhados, de Mayakovsky a Pasternak, é eloquente.

Até que ponto a História escrita segundo uma teoria da História como o materialismo dialético pode contar a verdade? Não há dúvida que o conceito de classe é importante e útil mas não é absoluto. E sobretudo não é verdadeiro nas versões jadnovistas que bipolarizam a realidade em proletários e burgueses.

A História marxista e alinhada aplicou esta quadrícula ao séc. XX, recusando-se a ver a autonomia do político e dos fatores políticos e tentando reduzi-los ao epifenómeno da luta de classes a nível nacional ou internacional.

Assim, os movimentos fascistas, nacionais autoritários e o hitlerismo alemão foram, primeiro por ordem de Estaline e do Comintern e depois por conformismo e antifascismo militantes, interpretados pela intelligentsia de esquerda como instrumentos e mercenários do grande capital e da grande indústria. Hitler não passaria de um fantoche de Thyssen e Krupp; Mussolini, de um títere da Cofindustria; Franco de um lacaio de Juan Marchi; Salazar de um protegido e protetor de Alfredo da Silva…

O trabalho que Henry Ashby Turner desenvolveu no seu notável German Big Business and the Rise of Hitler (New York, Oxford University Press, 1985) demonstra, através da leitura detalhada dos jornais da época, da correspondência das empresas e do destino dos donativos, que os grandes capitalistas alemães não apoiaram o NSDAP até à tomada do poder. É a desmontagem de um mito: um modelo a seguir.

Jaime Nogueira Pinto | 07/01/2016 16:50
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