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Vamos cantar as janeiras...
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Vamos cantar as janeiras...
Os dias que estão para vir podem aquecer-nos a vontade de fazer parte do futuro que será o nosso enquanto povo, enquanto país.
Uma exposição patente no museu Soares dos Reis, no Porto, “Da fotografia ao azulejo”, dá conta da utilização do azulejo, na primeira metade do séc. xx, ao serviço da ideologia do Estado Novo e de como se pretendia passar a imagem de um Portugal bucólico onde o povo vivia feliz na sua simplicidade e fé. A iconografia oficial revelava-se nos painéis de azulejos que recobriam edifícios públicos, igrejas e as numerosas estações de caminho de ferro espalhadas pelo país. A estação de S. Bento, também no Porto, é aliás um belíssimo exemplo dessa “tradição”: os magníficos painéis do átrio da estação são de visita obrigatória.
O trabalho iconográfico da azulejaria portuguesa desta época merece todo o respeito que a arte deve merecer e não pode ficar refém da instrumentalização de que foi alvo por parte dos poderes de então. As cenas da vida campestre, idílica nos painéis, deixavam transparecer uma realidade rural abundosamente distante da vida nos campos. A fome grassava nas aldeias, onde as condições de habitação eram precárias, sem luz nem água canalizada, nem esgotos, nem coisa que se parecesse com dignidade de vida, muito menos com a serena bonomia das figuras retratadas nos azulejos. Assim se vendia a desdita de tantos portugueses, “pobrezinhos mas honrados”.
Chegados a janeiro de 2016, quase meio século depois, já não se pintam azulejos só para encher o olho de cenas de faz-de-conta. As aldeias já têm luz e saneamento básico, as casas até podem estar melhoradas mas... não têm gente. As nossas aldeias estão a morrer. De morte lenta e anunciada: tiraram-lhes as escolas, os correios, os postos médicos, as carreiras. Esticaram-lhes a distância ao hospital, ao tribunal, à repartição de Finanças, à Segurança Social, ao centro de emprego, a tudo quanto seja serviço de proximidade. Cortaram-lhes o sopro de vida ativa. Ficaram os velhos, as sobras, os trapos.
Mais de 40 anos depois do 25 de abril, 30 anos depois da adesão à CEE, tantos anos, esperança, sonhos e desilusão depois, Portugal chega ao princípio do fim da rota de marcha-atrás em que se viu enfiado sem saber ainda ao certo para onde caminha. Todavia, um novo rumo se lhe afigura, certa a vontade, incerto o destino, sendo embora a janela da esperança de novo aberta. E fresca a aragem que corre, esforçados os dias a desfazerem-se as nuvens negras que teimam em pairar, como se à espera de que a crença do povo não se afirme e lhe possam cair em cima, em bátegas de sacrifícios dados por arredados. Se correr bem, os obreiros vão sendo reconhecidos, sem grandes arrebatamentos, que a memória dos homens é curta. Se correr mal, vão troar trombetas e sair parangonas, que o ressentimento morde. E é tempo de frios e geadas, mas a política não se recolhe à braseira. Os dias que estão para vir podem aquecer-nos a vontade de fazer parte do futuro que será o nosso enquanto povo, enquanto país. Não podemos alhear-nos. A nós compete escolher. Escolher o trovador e a trova e... vamos cantar as janeiras!
13/01/2016
Maria Helena Magalhães
Jornal i
Uma exposição patente no museu Soares dos Reis, no Porto, “Da fotografia ao azulejo”, dá conta da utilização do azulejo, na primeira metade do séc. xx, ao serviço da ideologia do Estado Novo e de como se pretendia passar a imagem de um Portugal bucólico onde o povo vivia feliz na sua simplicidade e fé. A iconografia oficial revelava-se nos painéis de azulejos que recobriam edifícios públicos, igrejas e as numerosas estações de caminho de ferro espalhadas pelo país. A estação de S. Bento, também no Porto, é aliás um belíssimo exemplo dessa “tradição”: os magníficos painéis do átrio da estação são de visita obrigatória.
O trabalho iconográfico da azulejaria portuguesa desta época merece todo o respeito que a arte deve merecer e não pode ficar refém da instrumentalização de que foi alvo por parte dos poderes de então. As cenas da vida campestre, idílica nos painéis, deixavam transparecer uma realidade rural abundosamente distante da vida nos campos. A fome grassava nas aldeias, onde as condições de habitação eram precárias, sem luz nem água canalizada, nem esgotos, nem coisa que se parecesse com dignidade de vida, muito menos com a serena bonomia das figuras retratadas nos azulejos. Assim se vendia a desdita de tantos portugueses, “pobrezinhos mas honrados”.
Chegados a janeiro de 2016, quase meio século depois, já não se pintam azulejos só para encher o olho de cenas de faz-de-conta. As aldeias já têm luz e saneamento básico, as casas até podem estar melhoradas mas... não têm gente. As nossas aldeias estão a morrer. De morte lenta e anunciada: tiraram-lhes as escolas, os correios, os postos médicos, as carreiras. Esticaram-lhes a distância ao hospital, ao tribunal, à repartição de Finanças, à Segurança Social, ao centro de emprego, a tudo quanto seja serviço de proximidade. Cortaram-lhes o sopro de vida ativa. Ficaram os velhos, as sobras, os trapos.
Mais de 40 anos depois do 25 de abril, 30 anos depois da adesão à CEE, tantos anos, esperança, sonhos e desilusão depois, Portugal chega ao princípio do fim da rota de marcha-atrás em que se viu enfiado sem saber ainda ao certo para onde caminha. Todavia, um novo rumo se lhe afigura, certa a vontade, incerto o destino, sendo embora a janela da esperança de novo aberta. E fresca a aragem que corre, esforçados os dias a desfazerem-se as nuvens negras que teimam em pairar, como se à espera de que a crença do povo não se afirme e lhe possam cair em cima, em bátegas de sacrifícios dados por arredados. Se correr bem, os obreiros vão sendo reconhecidos, sem grandes arrebatamentos, que a memória dos homens é curta. Se correr mal, vão troar trombetas e sair parangonas, que o ressentimento morde. E é tempo de frios e geadas, mas a política não se recolhe à braseira. Os dias que estão para vir podem aquecer-nos a vontade de fazer parte do futuro que será o nosso enquanto povo, enquanto país. Não podemos alhear-nos. A nós compete escolher. Escolher o trovador e a trova e... vamos cantar as janeiras!
13/01/2016
Maria Helena Magalhães
Jornal i
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