Eles andam aí

As acções da Mota-Engil começaram ontem o dia em queda-livre, chegaram a perder mais de 20% até ao momento em que, sensatamente, a CMVM ordenou a suspensão da sua negociação. Foram pedidos esclarecimentos à empresa, que os deu num comunicado público que reconheceu alguma perplexidade perante o comportamento dos títulos. A negociação foi então retomada, com as acções a encerrarem a sessão em forte baixa de 18,6%.

Os mercados vivem numa ficção de que os valores reflectem a realidade, ou pelo menos a percepção desta que é feita pelos investidores, em termos de valor futuro das empresas. Ora não só os mercados não são eficientes como o nosso é muito menos eficiente do que os outros, porque tem menos liquidez, menos transparência e, como tal, é mais facilmente manipulável. 

Queremos justificar a queda, e os motivos apontados, dados de boa fé, não chegam: queda do petróleo e situação macro em alguns mercados-chave. Sejamos francos.

A Mota completou ontem 11 sessões a cair. Ou seja, andou 10 sessões a desvalorizar. A baixa do petróleo não é de ontem, nem a situação de Angola. Ou seja, até poderíamos aceitar que factores “recorrentes” e conhecidos vinham a ser descontados no preço da acção Mota-Engil. O que justifica, então, uma queda de 20% na segunda-feira? 

Das duas uma: ou há algo de muito sério com a empresa (o que não se vislumbra); ou há aqui dedo agressivo de especuladores financeiros. A própria CMVM veio proibir o ‘short-selling’ sobre estes títulos, por não poder “excluir a ocorrência de um fenómeno de especulação com impacto negativo”. 

Para bom entendedor, meia palavra basta.

00:05 h 
Diário Económico