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O regresso do colapso das moedas
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O regresso do colapso das moedas
As taxas de câmbio sobrevalorizadas têm estado entre os principais indicadores de crises financeiras. Sendo assim, resta questionar se estamos perante uma repetição do que aconteceu entre 1994 e 1997 - só que desta vez com os papeis invertidos.
A volatilidade do mercado cambial existe há décadas, se não há séculos. Grandes variações nas taxas de câmbio tornaram-se num elemento básico dos mercados financeiros internacionais depois de o sistema Bretton Woods ter colapsado no início dos anos 1970, e as mega-desvalorizações eram comuns no final da década e em grande parte da década de 1980, quando a inflação assolou grande parte do mundo. Mesmo durante a maior parte dos anos 1990 e início da década de 2000, 10 a 20% dos países de todo o mundo vivenciaram uma grande desvalorização da moeda ou mesmo um "crash" num determinado ano.
E então, de repente, a calma prevaleceu. Excluindo o caos associado à crise financeira global do final de 2008 e início de 2009, os "crashes" de moedas foram poucos e distantes no tempo, no período entre 2004 e 2014. Mas os desenvolvimentos recentes sugerem que a escassez de colapsos durante essa década pode ser lembrada como a excepção que confirma a regra.
O quase desaparecimento dos "crashes" de moedas entre 2004 e 2014 reflectem largamente as taxas de juros internacionais baixas e estáveis e os grandes fluxos de capital para os mercados emergentes, juntamente com um "boom" nos preços das matérias-primas e (principalmente) as saudáveis taxas de crescimento nos países que escaparam à crise financeira mundial. Com efeito, a principal preocupação de muitos países durante esses anos foi evitar a valorização sustentada da moeda em relação ao dólar americano e às moedas de outros parceiros comerciais.
Isso mudou em 2014, quando a deterioração das condições globais reavivou o colapso cambial en masse. Desde então, quase metade da amostra de 179 países sofreu desvalorizações anuais superiores a 15%. É verdade que os acordos cambiais mais flexíveis eliminaram, a maior parte das vezes, o drama de abandonar taxas de câmbio estabilizadas ou semiestabilizadas pré-anunciadas. Mas, até agora, não há muita coisa que sugira que as desvalorizações tenham tido um grande efeito positivo no crescimento económico que, em grande medida, se manteve lento.
A desvalorização acumulada em relação ao dólar americano tem rondado os 35%, em média, de Janeiro de 2014 a Janeiro de 2016. Para muitos mercados emergentes, onde as desvalorizações foram consideravelmente maiores, enfraquecer as taxas de câmbio agravou os actuais problemas associados às crescentes dívidas em moeda estrangeira.
Além disso, num mundo interligado, os efeitos dos colapsos das moedas não terminam no país onde surgem. Em 1994, a China reformou o seu quadro cambial, uniformizou o seu sistema de taxas de câmbio múltiplas e, no processo, desvalorizou o yuan em 50%. Tem sido argumentado de modo persuasivo que a desvalorização chinesa resultou numa perda de competitividade para a Tailândia, Coreia, Indonésia, Malásia e Filipinas, que tinham criado uma ligação (ou semi-ligação) das suas moedas com o dólar americano. Esta sobrevalorização acumulada, por sua vez, ajudou a preparar o terreno para a crise asiática que surgiu em meados de 1997.
As taxas de câmbio sobrevalorizadas têm estado entre os principais indicadores de crises financeiras. Sendo assim, resta questionar se estamos perante uma repetição do que aconteceu entre 1994 e 1997 - só que desta vez com os papeis invertidos. Desde o início de 2014, o yuan desvalorizou apenas 7,5% em relação ao dólar, em comparação com os cerca de 25% de desvalorização do euro neste período, já para não mencionar o enfraquecimento ainda mais rápido das moedas em muitos mercados emergentes. Para uma economia baseada na produção, como a da China, a relação entre a sobrevalorização e o crescimento não deve ser subestimada.
O anúncio da China, em Agosto passado, da sua intenção de permitir uma modesta desvalorização e, eventualmente, uma maior flexibilidade da taxa de câmbio do yuan provocou uma montanha-russa nos mercados financeiros. Para assegurar a confiança, os governantes emitiram declarações no sentido de que a China iria caminhar apenas gradualmente nessa direcção. Mas talvez a lição das crises asiáticas seja a de que o gradualismo nesta frente acarreta os seus próprios riscos.
Naturalmente, os efeitos potenciais de "empobrecer o vizinho" devido à subida em flecha dos colapsos das moedas nos últimos dois anos não são exclusivos da China. Eles também se podem aplicar a qualquer país que tenha mantido uma taxa de câmbio relativamente fixa (uma categoria que inclui grandes produtores de petróleo).
O que distingue o caso chinês dos outros é a dimensão da sua economia em relação ao PIB mundial, bem como a sua influência em muitos países de todas as regiões, desde fornecedores de produtos primários até países que dependem de financiamento chinês ou de investimento directo. O ponto principal é simples: os mercados emergentes representam actualmente cerca de 60% do PIB mundial, face aos 35% no início da década de 1980. Restaurar a prosperidade global requer uma base geográfica mais ampla do que na altura. O regresso dos colapsos das moedas pode tornar esta tarefa mais difícil.
Carmen Reinhart lecciona a cadeira de Sistema Financeiro Internacional na Kennedy School of Government (Faculdade de Administração Pública) da Universidade de Harvard.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
CARMEN REINHART | 08 Fevereiro 2016, 20:30
Negócios
A volatilidade do mercado cambial existe há décadas, se não há séculos. Grandes variações nas taxas de câmbio tornaram-se num elemento básico dos mercados financeiros internacionais depois de o sistema Bretton Woods ter colapsado no início dos anos 1970, e as mega-desvalorizações eram comuns no final da década e em grande parte da década de 1980, quando a inflação assolou grande parte do mundo. Mesmo durante a maior parte dos anos 1990 e início da década de 2000, 10 a 20% dos países de todo o mundo vivenciaram uma grande desvalorização da moeda ou mesmo um "crash" num determinado ano.
E então, de repente, a calma prevaleceu. Excluindo o caos associado à crise financeira global do final de 2008 e início de 2009, os "crashes" de moedas foram poucos e distantes no tempo, no período entre 2004 e 2014. Mas os desenvolvimentos recentes sugerem que a escassez de colapsos durante essa década pode ser lembrada como a excepção que confirma a regra.
O quase desaparecimento dos "crashes" de moedas entre 2004 e 2014 reflectem largamente as taxas de juros internacionais baixas e estáveis e os grandes fluxos de capital para os mercados emergentes, juntamente com um "boom" nos preços das matérias-primas e (principalmente) as saudáveis taxas de crescimento nos países que escaparam à crise financeira mundial. Com efeito, a principal preocupação de muitos países durante esses anos foi evitar a valorização sustentada da moeda em relação ao dólar americano e às moedas de outros parceiros comerciais.
Isso mudou em 2014, quando a deterioração das condições globais reavivou o colapso cambial en masse. Desde então, quase metade da amostra de 179 países sofreu desvalorizações anuais superiores a 15%. É verdade que os acordos cambiais mais flexíveis eliminaram, a maior parte das vezes, o drama de abandonar taxas de câmbio estabilizadas ou semiestabilizadas pré-anunciadas. Mas, até agora, não há muita coisa que sugira que as desvalorizações tenham tido um grande efeito positivo no crescimento económico que, em grande medida, se manteve lento.
A desvalorização acumulada em relação ao dólar americano tem rondado os 35%, em média, de Janeiro de 2014 a Janeiro de 2016. Para muitos mercados emergentes, onde as desvalorizações foram consideravelmente maiores, enfraquecer as taxas de câmbio agravou os actuais problemas associados às crescentes dívidas em moeda estrangeira.
Além disso, num mundo interligado, os efeitos dos colapsos das moedas não terminam no país onde surgem. Em 1994, a China reformou o seu quadro cambial, uniformizou o seu sistema de taxas de câmbio múltiplas e, no processo, desvalorizou o yuan em 50%. Tem sido argumentado de modo persuasivo que a desvalorização chinesa resultou numa perda de competitividade para a Tailândia, Coreia, Indonésia, Malásia e Filipinas, que tinham criado uma ligação (ou semi-ligação) das suas moedas com o dólar americano. Esta sobrevalorização acumulada, por sua vez, ajudou a preparar o terreno para a crise asiática que surgiu em meados de 1997.
As taxas de câmbio sobrevalorizadas têm estado entre os principais indicadores de crises financeiras. Sendo assim, resta questionar se estamos perante uma repetição do que aconteceu entre 1994 e 1997 - só que desta vez com os papeis invertidos. Desde o início de 2014, o yuan desvalorizou apenas 7,5% em relação ao dólar, em comparação com os cerca de 25% de desvalorização do euro neste período, já para não mencionar o enfraquecimento ainda mais rápido das moedas em muitos mercados emergentes. Para uma economia baseada na produção, como a da China, a relação entre a sobrevalorização e o crescimento não deve ser subestimada.
O anúncio da China, em Agosto passado, da sua intenção de permitir uma modesta desvalorização e, eventualmente, uma maior flexibilidade da taxa de câmbio do yuan provocou uma montanha-russa nos mercados financeiros. Para assegurar a confiança, os governantes emitiram declarações no sentido de que a China iria caminhar apenas gradualmente nessa direcção. Mas talvez a lição das crises asiáticas seja a de que o gradualismo nesta frente acarreta os seus próprios riscos.
Naturalmente, os efeitos potenciais de "empobrecer o vizinho" devido à subida em flecha dos colapsos das moedas nos últimos dois anos não são exclusivos da China. Eles também se podem aplicar a qualquer país que tenha mantido uma taxa de câmbio relativamente fixa (uma categoria que inclui grandes produtores de petróleo).
O que distingue o caso chinês dos outros é a dimensão da sua economia em relação ao PIB mundial, bem como a sua influência em muitos países de todas as regiões, desde fornecedores de produtos primários até países que dependem de financiamento chinês ou de investimento directo. O ponto principal é simples: os mercados emergentes representam actualmente cerca de 60% do PIB mundial, face aos 35% no início da década de 1980. Restaurar a prosperidade global requer uma base geográfica mais ampla do que na altura. O regresso dos colapsos das moedas pode tornar esta tarefa mais difícil.
Carmen Reinhart lecciona a cadeira de Sistema Financeiro Internacional na Kennedy School of Government (Faculdade de Administração Pública) da Universidade de Harvard.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
CARMEN REINHART | 08 Fevereiro 2016, 20:30
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