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Os recursos estratégicos do Estado
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Os recursos estratégicos do Estado
Modernização do Estado assenta em larga medida na capacidade de protagonizar esse desafio de mudança de paradigma
O Orçamento deve ser cada vez mais o instrumento para a consolidação de um Estado inteligente, onde os recursos sejam usados de forma adequada. O Estado existe para servir os cidadãos e estes têm que se rever na capacidade positiva deste de legitimar uma relação de confiança essencial. Quando David Osborne nos fala da crescente oportunidade e necessidade de recolocar na agenda o “reinventing the government”, está claramente a colocar a tónica num dos elementos centrais da modernidade competitiva das nações. Importa mais do que nunca reposicionar o Estado como “pivot” central da organização, monitorização e funcionamento adequado da nossa sociedade e fazer com que os cidadãos se sintam perfeitamente legitimados numa relação de confiança validada por um novo contrato social.
No quadro da sociedade do conhecimento e da economia global, cabe ao Estado o saber assumir de forma inequívoca uma atitude de mobilização ativa e empreendedora da revolução do tecido social. Ou seja, independentemente da dinâmica de mudança assentar nos atores da sociedade civil e da sua riqueza em grande parte depender a estabilidade estratégica das ações, cabe ao Estado, no quadro duma nova coerência estratégica e de uma nova base de intervenção política, monitorizar e acompanhar. Esta cumplicidade estratégica é essencial para a garantia de padrões coerentes de desenvolvimento e equilíbrio social. Nas sábias palavras de António Paim, emérito politólogo brasileiro, só assim se garante a verdadeira dimensão de confiança entre todos os que acreditam no futuro.
É neste sentido que a legitimidade de actuação e sustentação estratégica se torna central. Processos de compromisso e convergência entre uma base central forte e pontos de descentralização territorial autónomos e indutores de riqueza e bem-estar social a partir da inovação e conhecimento têm que ter por base uma forte relação de cumplicidade estratégica entre todos os actores do tecido social. Um compromisso sério entre uma capacidade natural de mobilizar e empreender e ao mesmo tempo uma vontade de tornar os processos estáveis nos resultados que potenciam. A modernização do Estado assenta em larga medida na capacidade de protagonizar esse desafio de mudança de paradigma.
Há que fazer por isso opções. Opções claras em termos operacionais no sentido de agilizar a máquina processual e através dos mecanismos da eficiência e produtividade garantir estabilidade e confiança em todos os que sustentam o tecido social. Opções claras em torno de um modelo objetivo de compromisso entre governação qualificada central, geradora de dimensão estabilizadora e indução de riqueza territorial através da participação inovadora dos actores sociais. Opções assumidas na capacidade de projetar no futuro uma lógica de intervenção do Estado que não se cinja ao papel clássico, dejá-vu, de correção in extremis das deficiências endémicas do sistema mas saiba com inteligência criativa fazer emergir, com articulação e cooperação, mecanismos autosustentados de correcção dos desequilíbrios que vão surgindo.
David Osborne tem razão em insistir na atualidade e pertinência da chama da reinvenção do Estado. É essencial na sociedade moderna do conhecimento consolidar mecanismos estratégicos que façam acreditar. Cabe ao estado esse papel. Encerra em si uma missão única de fazer da sociedade civil uma fonte permanente de mobilização de criatividade e inovação e de estabilização de participações cívicas adequadas. A governação é hoje um ato de promoção e qualificação da cidadania ativa. Importa ao Estado ser relevante. Importa ao Estado constituir-se como um operador de modernidade. Por isso, nunca como agora a sua reinvenção é um desafio de e para todos. A reinvenção do Estado é em grande medida a reinvenção da Nação.
Mais do que nunca se impõe neste tempo complexo um Estado inteligente capaz de projetar no país uma dinâmica de procura permanente da criação de valor e aposta na criatividade. Num tempo de mudança, em que só sobrevive quem é capaz de antecipar as expetativas do mercado e de gerir em rede, numa lógica de competitividade aberta, o Estado inteligente não pode demorar. Tem que se assumir como ator “perturbador” do sistema, induzindo na sociedade e na economia um capital de exigência e de inovação que lhe conferirá um desejado estatuto de centralidade e sobretudo de inequívoca liderança no processo de mudança em curso.
Por Francisco Jaime Quesado
Presidente da ESPAP – Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública
Publicado em: 10/02/2016 - 20:50:09
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