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Um orçamento contorcionista
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Um orçamento contorcionista
Outubro de 2006. Confiante na recuperação económica, o então ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou o fim da crise.
“Acabou totalmente”, declarou, para depois corrigir o tiro. Afinal, “o que eu quero dizer é que não é bom falar de crise”.
Maio de 2009. O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, partilha o seu contentamento com o resto do país ao ver os indicadores de confiança dos empresários e dos consumidores subirem. “Estamos mais próximos do fim da crise do que do seu início”, declarou.
Novembro de 2011. “Este é o ano que vai marcar o fim da crise”, anunciou o então ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, convicto de que a retoma para o crescimento estava só a dar os primeiros passos.
Fevereiro de 2016. No dia em que, no Parlamento, apresenta o Orçamento do Estado para este ano, o ministro das Finanças, Mário Centeno, assegura que o país vive um ponto de viragem. “É o início do fim da austeridade.”
Revendo estes últimos dez anos, em que não faltaram optimistas incorrigíveis a governar o país e um resgate financeiro pelo meio, é difícil evitar alguns calafrios quando se ouve o actual ministro das Finanças a anunciar ao país que a crise e a austeridade têm os dias contados. Nada tenho contra injecções de esperança, mas suspeito sempre dos excessos de optimismo. Esuspeito ainda mais quando a convicção do actual governo assenta num Orçamento que ainda ninguém poupou a críticas ou reservas. As últimas vieram da equipa de técnicos do Parlamento e com um carimbo de “elevada incerteza” à volta dos cenários e previsões definidos pelo Governo. Os riscos são mais do que as certezas. E há muitas interrogações pelo meio. Como vão as empresas e investidores reagir à política económica proposta? Como se estimula o consumo reforçando o rendimento disponível de um lado e, por outro, aplicando medidas disuassoras, como os impostos, desse mesmo consumo? E como vai crescer a economia sem isso? Como se reduz o alto endividamento e, ao mesmo tempo, se aumenta a despesa do Estado? E qual vai ser o impacto de um orçamento que, afinal, se revela contraccionista - e não expansionista - como alerta o relatório da UTAO?
O excesso de optimismo nos últimos anos, como as últimas intervenções e resgastes demonstram, tem este problema de toldar uma visão mais realista dos problemas. E de, por isso, tornar ainda mais difícil a saída de uma crise que parece eterna.
Amenos que este Governo tenha alguns trunfos na manga e saiba como os cenários mais optimistas se podem concretizar, o mais provável é que este orçamento passe de contraccionista a contorcionista. Porque conseguir conciliar todos os riscos e alertas com as convicções do governo parece um exercício digno de artistas.
00:05 h
Helena Cristina Coelho
Económico
“Acabou totalmente”, declarou, para depois corrigir o tiro. Afinal, “o que eu quero dizer é que não é bom falar de crise”.
Maio de 2009. O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, partilha o seu contentamento com o resto do país ao ver os indicadores de confiança dos empresários e dos consumidores subirem. “Estamos mais próximos do fim da crise do que do seu início”, declarou.
Novembro de 2011. “Este é o ano que vai marcar o fim da crise”, anunciou o então ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, convicto de que a retoma para o crescimento estava só a dar os primeiros passos.
Fevereiro de 2016. No dia em que, no Parlamento, apresenta o Orçamento do Estado para este ano, o ministro das Finanças, Mário Centeno, assegura que o país vive um ponto de viragem. “É o início do fim da austeridade.”
Revendo estes últimos dez anos, em que não faltaram optimistas incorrigíveis a governar o país e um resgate financeiro pelo meio, é difícil evitar alguns calafrios quando se ouve o actual ministro das Finanças a anunciar ao país que a crise e a austeridade têm os dias contados. Nada tenho contra injecções de esperança, mas suspeito sempre dos excessos de optimismo. Esuspeito ainda mais quando a convicção do actual governo assenta num Orçamento que ainda ninguém poupou a críticas ou reservas. As últimas vieram da equipa de técnicos do Parlamento e com um carimbo de “elevada incerteza” à volta dos cenários e previsões definidos pelo Governo. Os riscos são mais do que as certezas. E há muitas interrogações pelo meio. Como vão as empresas e investidores reagir à política económica proposta? Como se estimula o consumo reforçando o rendimento disponível de um lado e, por outro, aplicando medidas disuassoras, como os impostos, desse mesmo consumo? E como vai crescer a economia sem isso? Como se reduz o alto endividamento e, ao mesmo tempo, se aumenta a despesa do Estado? E qual vai ser o impacto de um orçamento que, afinal, se revela contraccionista - e não expansionista - como alerta o relatório da UTAO?
O excesso de optimismo nos últimos anos, como as últimas intervenções e resgastes demonstram, tem este problema de toldar uma visão mais realista dos problemas. E de, por isso, tornar ainda mais difícil a saída de uma crise que parece eterna.
Amenos que este Governo tenha alguns trunfos na manga e saiba como os cenários mais optimistas se podem concretizar, o mais provável é que este orçamento passe de contraccionista a contorcionista. Porque conseguir conciliar todos os riscos e alertas com as convicções do governo parece um exercício digno de artistas.
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Helena Cristina Coelho
Económico
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