Economia do lucro e da morte

Que linguagem é esta na perspetiva das pessoas?

As farmácias registaram em 2015 uma falta diária de 166 mil embalagens de remédios nas prateleiras. Em todo o ano o número chega aos 57 milhões, fasquia de carência que já tínhamos atingido no ano anterior. De forma simples isto significa que a probabilidade de um doente conseguir obter, numa ida à farmácia, todos os remédios prescritos pelo médico é muito baixa. 

A investigação que publicamos nestas páginas é uma verdadeira radiografia do estado em que se encontra o setor do medicamento, das farmácias, mas também um sinal muito preocupante das sombras negras que pairam sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS). As farmácias queixam-se das descidas das margens de lucro, os laboratórios não resistem à tentação da exportação, os grossistas queixam-se dos problemas da produção e da pequenez do mercado nacional. Que linguagem é esta, afinal, na perspetiva das pessoas, utentes do SNS e contribuintes? Onde está a preocupação pela ideia de serviço aos portugueses? 

É compreensível que cada setor da cadeia do medicamento exacerbe os seus próprios problemas, mas alguém - do lado do Estado, porventura - tem de travar esta aparente inevitabilidade de transformar uma questão decisiva para a saúde dos portugueses numa economia da morte e do lucro.

20.02.2016 01:45
EDUARDO DÂMASO 
Diretor-adjunto
Correio da Manhã