A realidade ganha sempre ao mundo virtual

O Mobile World Congress, exposição anual de telemóveis, fechou ontem em Barcelona. Foi marcado por uma foto de Mark Zuckerberg que ele próprio divulgou. Indo a uma conferência, o patrão do Facebook, de T-shirt e jeans, atravessa uma plateia de gente estranha: todos com uma espécie de máscara de mergulho tapando a cara. Com esse "brinquedo", o Samsung Gear VR, a plateia estava mergulhada na realidade virtual. Viam uma experiência fantástica que, já no palco, Zuckerberg garantiu dar a sensação de se estar numa praia do Taiti ou a pilotar um caça a jato... A foto fez escândalo, viu-se no meio sorriso de Zuckerberg e a multidão sem cara, um símbolo desse "admirável mundo novo", de facto, totalitário, em que a ciência um dia nos encerrará. O Washington Post lembrou que no anúncio, em 1984, do lançamento do computador Macintosh houve cuidado em pôr a multidão cinzenta, como a denunciada no livro 1984, a ser combatida por uma rapariga livre e colorida. E, agora, Zuckerberg aparece na foto como um daqueles que "são mais iguais do que outros", na fórmula também denunciada pelo 1984... A comparação é injusta. Esta semana, na foto de Barcelona, o povo - apesar das acrobacias aéreas "vividas" - está impassível. Ora, quando tirou máscara e viu que estava ao lado duma celebridade, pôs-se aos gritinhos e a tirar selfies. O que ficou, portanto, provado é que a realidade real, mesmo com o insosso Zuckerberg, vale sempre mais do que a virtual.

26 DE FEVEREIRO DE 2016
00:05
Ferreira Fernandes
Diário de Notícias