Ter tem, mas tem que fazer!

O Governo assinalou os seus primeiros cem dias de governação com um Conselho de Ministros dedicado ao mar. Cavaco Silva, que deu especial atenção às questões do mar durante a sua presidência, esteve presente nesse Conselho. Um sinal claro da importância desta aposta no mar e para a qual é desejável que exista um amplo consenso nacional. Um consenso que envolva quer a classe política quer a chamada sociedade civil.

A Zona Económica Exclusiva de Portugal é de cerca de 1,7 milhões quilómetros quadrados. A terceira maior na UE e a 11ª à escala mundial. Está em curso nas Nações Unidas um processo de alargamento dessa zona que a poderá duplicar nos próximos anos. Porém, a "Economia do Mar" representa apenas cerca de 2,5% da produto interno e 2,3% do emprego da economia. Para quem andou "por mares nunca dantes navegados", este vasto mar que está diante de nós representa ainda muito pouco. Sem políticas e incentivos para o desenvolvimento do cluster das atividades ligadas ao mar, sem empreendedores e financiadores que dinamizem tais atividades, Portugal continuará a não tirar grande proveito dos recursos e oportunidades que o mar lhe pode proporcionar.

A afirmação de Portugal como ponto de apoio estratégico nas rotas marítimas atlânticas, o desenvolvimento da atividade piscatória e da aquicultura, o turismo e a atividade náutica, o desenvolvimento de infraestruturas de apoio à atividade marítima, a construção e reparação naval, a "biotecnologia azul", a energia, a atividade de investigação científica e tecnológica dedicada ao mar, etc., são exemplos de áreas que podem contribuir em muito para o desenvolvimento da nossa "Economia do Mar". Num país com fracas perspetivas de crescimento no médio e longo prazos, as enormes potencialidades de exploração económica que tão vasta área pode oferecer podem ser um importante catalisador do seu crescimento económico. Importa por isso dar continuidade às iniciativas políticas que têm sido desenvolvidas nos últimos anos visando impulsionar as atividades ligadas ao mar. Importa igualmente apoiar as associações cívicas e empresariais que têm igualmente reivindicado uma maior relevância estratégica do mar na nossa economia.

Há uns anos, num almoço com Sérgio Cabral, então governador do Rio de Janeiro, falávamos sobre a grande relevância estratégica das relações entre Portugal e o Brasil. Perguntei-lhe: "Andamos há tantos anos a dizer quão importantes são as relações entre os nossos países, mas nada acontece. Que se passa, governador?" Nunca mais esqueci a sua resposta: "Isso lembra-me uma vez que fui a Salvador. Parei numa lanchonete e perguntei à menina "tem misto quente?" ao que ela me respondeu: "ter tem, mas tem que fazer!"".

12.03.2016
FERNANDO TEIXEIRA DOS SANTOS
Jornal de Notícias