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A Teoria Geral de Keynes aos 80
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A Teoria Geral de Keynes aos 80
A grande obra de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em Fevereiro de 1936, transformou a economia e a política económica. Oitenta anos depois, a teoria de Keynes ainda se mantém viva?
Em 1935, John Maynard Keynes escreveu a George Bernard Shaw: "Acredito estar a escrever um livro sobre teoria económica que revolucionará em grande medida – suponho que não de imediato, mas ao longo dos próximos dez anos – a forma como o mundo pensa os problemas económicos". E, de facto, a grande obra de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em Fevereiro de 1936, transformou a economia e a política económica. Oitenta anos depois, a teoria de Keynes ainda se mantém viva?
Dois elementos do legado de Keynes parecem estar assegurados. Em primeiro lugar, Keynes inventou a macroeconomia - a teoria da produção como um todo. Chamou a sua teoria de "geral" para distingui-la da teoria pré-keynesiana, que assumia um nível único de produção – o pleno emprego.
Ao mostrar como a economia poderia permanecer presa num equilíbrio de "subemprego", Keynes desafiou a ideia central da economia ortodoxa da sua época: que os mercados de todas as mercadorias, incluindo o trabalho, se equilibram de forma simultânea e automática pelos preços. E o seu desafio implicou uma nova dimensão para a formulação de políticas: os governos podem precisar de défices para manter o pleno emprego.
As equações agregadas que sustentam a "teoria geral" de Keynes ainda estão amplamente presentes nos livros de economia e dão forma à política macroeconómica. Mesmo aqueles que insistem que as economias de mercado gravitam na direcção do pleno emprego são forçados a defender a sua posição no quadro que Keynes criou. Os banqueiros centrais ajustam as taxas de juro para garantir um equilíbrio entre a procura total e a oferta, porque, graças a Keynes, sabe-se que o equilíbrio pode não ocorrer automaticamente.
O segundo grande legado de Keynes é a noção de que os governos podem e devem prevenir as depressões. A aceitação generalizada deste ponto de vista é visível na diferença entre a forte resposta, em termos de políticas, ao colapso de 2008-2009, e a reacção passiva à Grande Depressão de 1929-1932. Como o Prémio Nobel Robert Lucas, um adversário de Keynes, admitiu em 2008: "Acho que todo o mundo é keynesiano numa trincheira".
Dito isto, a teoria do equilíbrio do "subemprego" de Keynes não é mais aceite pela maioria dos economistas e responsáveis pela formulação de políticas. A crise financeira global de 2008 confirma isso mesmo. O colapso desacreditou a versão mais extrema da economia auto-ajustável de forma optimizada; mas não restaurou o prestígio da abordagem keynesiana.
As medidas keynesianas travaram a derrapagem da economia global. Mas também sobrecarregaram os governos com grandes défices, que rapidamente passaram a ser vistos como um obstáculo para a recuperação - o oposto do que Keynes ensinou. Com o desemprego ainda elevado, os governos regressaram à ortodoxia pré-keynesiana, cortando a despesa para reduzir o défice - penalizando a recuperação económica.
Há três razões principais para este retrocesso. Primeiro, nunca se invalidou completamente a crença no poder dos preços para equilibrar o mercado laboral numa economia capitalista. Por isso, muitos economistas chegaram a ver o desemprego persistente como uma circunstância extraordinária que acontece apenas quando as coisas estão a correr muito mal, e não certamente como o estado normal das economias de mercado. A rejeição do conceito de incerteza radical de Kaynes é o ponto fulcral desta regressão ao pensamento pré-keynesiano.
Em segundo lugar, as políticas keynesianas do pós-guerra sobre a "gestão da procura", que representaram um papel importante no longo "boom" pós-1945, tiveram problemas inflacionários no final da década de 1960. Conscientes da deterioração do equilíbrio entre inflação e desemprego, os formuladores de políticas keynesianas tentaram sustentar o crescimento através da política de rendimentos - controlar os custos salariais através da celebração de acordos nacionais com os sindicatos.
Desde a década de 1960 até ao final dos anos 1970, tentou aplicar-se esta política em muitos países. Na melhor das hipóteses, houve sucessos temporários, mas as políticas fracassaram sempre. Milton Friedman apresentou uma razão que ia ao encontro do desencanto crescente com os controlos de preços e salários, e que reafirmou a visão pré-keynesiana sobre o funcionamento das economias de mercado. A inflação, disse Friedman, foi o resultado das tentativas dos governos keynesianos de reduzirem o desemprego para um nível abaixo da sua taxa "natural". A chave para recuperar a estabilidade dos preços era abandonar o compromisso do pleno emprego, enfraquecer os sindicatos e desregulamentar o sistema financeiro.
E assim renasceu a velha ortodoxia. A meta de pleno emprego foi substituída por uma meta de inflação, e o desemprego foi largado para que encontrasse a sua taxa "natural", qualquer que ela fosse. Foi com este equipamento de navegação defeituoso que os políticos navegaram a todo vapor em direcção aos icebergs de 2008.
A última razão para a queda do keynesianismo foi a mudança ideológica para a direita, que começou com a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o presidente dos EUA Ronald Reagan. A mudança deveu-se mais à hostilidade contra o alargamento do Estado que surgiu após a Segunda Guerra Mundial do que propriamente à rejeição da política keynesiana. A política keynesiana foi apanhada no fogo cruzado, com muitos à direita a condená-la como uma manifestação da intervenção "excessiva" do governo na economia.
Duas reflexões finais sugerem um papel renovado, ainda que modesto, para a economia keynesiana. Um choque ainda maior para a ortodoxia pré-2008 do que o próprio colapso em si foi a revelação do poder corrupto do sistema financeiro e o facto de os governos posteriores terem permitido que as suas políticas fossem orientadas, em grande medida, pelos banqueiros. Controlar os mercados financeiros no interesse do pleno emprego e da justiça social assenta directamente na tradição keynesiana.
Em segundo lugar, para as novas gerações de estudantes, a relevância de Keynes pode estar menos nos seus remédios específicos para o desemprego e mais na sua crítica à profissão e aos modelos construídos com base em premissas irreais. Os estudantes de economia, ansiosos para escapar do mundo esquelético de agentes de optimização para o mundo dos seres humanos plenos e integrais, dentro das suas histórias, culturas e instituições, vão achar a economia de Keynes inerentemente simpática. É por isso que espero que Keynes seja uma presença viva daqui a 20 anos, no centenário da Teoria Geral, e muito além disso.
Robert Skidelsky, membro da British House of Lords, é professor emérito de Economia Política na Universidade de Warwick.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
ROBERT SKIDELSKY | 23 Março 2016, 20:30
Negócios
Em 1935, John Maynard Keynes escreveu a George Bernard Shaw: "Acredito estar a escrever um livro sobre teoria económica que revolucionará em grande medida – suponho que não de imediato, mas ao longo dos próximos dez anos – a forma como o mundo pensa os problemas económicos". E, de facto, a grande obra de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em Fevereiro de 1936, transformou a economia e a política económica. Oitenta anos depois, a teoria de Keynes ainda se mantém viva?
Dois elementos do legado de Keynes parecem estar assegurados. Em primeiro lugar, Keynes inventou a macroeconomia - a teoria da produção como um todo. Chamou a sua teoria de "geral" para distingui-la da teoria pré-keynesiana, que assumia um nível único de produção – o pleno emprego.
Ao mostrar como a economia poderia permanecer presa num equilíbrio de "subemprego", Keynes desafiou a ideia central da economia ortodoxa da sua época: que os mercados de todas as mercadorias, incluindo o trabalho, se equilibram de forma simultânea e automática pelos preços. E o seu desafio implicou uma nova dimensão para a formulação de políticas: os governos podem precisar de défices para manter o pleno emprego.
As equações agregadas que sustentam a "teoria geral" de Keynes ainda estão amplamente presentes nos livros de economia e dão forma à política macroeconómica. Mesmo aqueles que insistem que as economias de mercado gravitam na direcção do pleno emprego são forçados a defender a sua posição no quadro que Keynes criou. Os banqueiros centrais ajustam as taxas de juro para garantir um equilíbrio entre a procura total e a oferta, porque, graças a Keynes, sabe-se que o equilíbrio pode não ocorrer automaticamente.
O segundo grande legado de Keynes é a noção de que os governos podem e devem prevenir as depressões. A aceitação generalizada deste ponto de vista é visível na diferença entre a forte resposta, em termos de políticas, ao colapso de 2008-2009, e a reacção passiva à Grande Depressão de 1929-1932. Como o Prémio Nobel Robert Lucas, um adversário de Keynes, admitiu em 2008: "Acho que todo o mundo é keynesiano numa trincheira".
Dito isto, a teoria do equilíbrio do "subemprego" de Keynes não é mais aceite pela maioria dos economistas e responsáveis pela formulação de políticas. A crise financeira global de 2008 confirma isso mesmo. O colapso desacreditou a versão mais extrema da economia auto-ajustável de forma optimizada; mas não restaurou o prestígio da abordagem keynesiana.
As medidas keynesianas travaram a derrapagem da economia global. Mas também sobrecarregaram os governos com grandes défices, que rapidamente passaram a ser vistos como um obstáculo para a recuperação - o oposto do que Keynes ensinou. Com o desemprego ainda elevado, os governos regressaram à ortodoxia pré-keynesiana, cortando a despesa para reduzir o défice - penalizando a recuperação económica.
Há três razões principais para este retrocesso. Primeiro, nunca se invalidou completamente a crença no poder dos preços para equilibrar o mercado laboral numa economia capitalista. Por isso, muitos economistas chegaram a ver o desemprego persistente como uma circunstância extraordinária que acontece apenas quando as coisas estão a correr muito mal, e não certamente como o estado normal das economias de mercado. A rejeição do conceito de incerteza radical de Kaynes é o ponto fulcral desta regressão ao pensamento pré-keynesiano.
Em segundo lugar, as políticas keynesianas do pós-guerra sobre a "gestão da procura", que representaram um papel importante no longo "boom" pós-1945, tiveram problemas inflacionários no final da década de 1960. Conscientes da deterioração do equilíbrio entre inflação e desemprego, os formuladores de políticas keynesianas tentaram sustentar o crescimento através da política de rendimentos - controlar os custos salariais através da celebração de acordos nacionais com os sindicatos.
Desde a década de 1960 até ao final dos anos 1970, tentou aplicar-se esta política em muitos países. Na melhor das hipóteses, houve sucessos temporários, mas as políticas fracassaram sempre. Milton Friedman apresentou uma razão que ia ao encontro do desencanto crescente com os controlos de preços e salários, e que reafirmou a visão pré-keynesiana sobre o funcionamento das economias de mercado. A inflação, disse Friedman, foi o resultado das tentativas dos governos keynesianos de reduzirem o desemprego para um nível abaixo da sua taxa "natural". A chave para recuperar a estabilidade dos preços era abandonar o compromisso do pleno emprego, enfraquecer os sindicatos e desregulamentar o sistema financeiro.
E assim renasceu a velha ortodoxia. A meta de pleno emprego foi substituída por uma meta de inflação, e o desemprego foi largado para que encontrasse a sua taxa "natural", qualquer que ela fosse. Foi com este equipamento de navegação defeituoso que os políticos navegaram a todo vapor em direcção aos icebergs de 2008.
A última razão para a queda do keynesianismo foi a mudança ideológica para a direita, que começou com a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o presidente dos EUA Ronald Reagan. A mudança deveu-se mais à hostilidade contra o alargamento do Estado que surgiu após a Segunda Guerra Mundial do que propriamente à rejeição da política keynesiana. A política keynesiana foi apanhada no fogo cruzado, com muitos à direita a condená-la como uma manifestação da intervenção "excessiva" do governo na economia.
Duas reflexões finais sugerem um papel renovado, ainda que modesto, para a economia keynesiana. Um choque ainda maior para a ortodoxia pré-2008 do que o próprio colapso em si foi a revelação do poder corrupto do sistema financeiro e o facto de os governos posteriores terem permitido que as suas políticas fossem orientadas, em grande medida, pelos banqueiros. Controlar os mercados financeiros no interesse do pleno emprego e da justiça social assenta directamente na tradição keynesiana.
Em segundo lugar, para as novas gerações de estudantes, a relevância de Keynes pode estar menos nos seus remédios específicos para o desemprego e mais na sua crítica à profissão e aos modelos construídos com base em premissas irreais. Os estudantes de economia, ansiosos para escapar do mundo esquelético de agentes de optimização para o mundo dos seres humanos plenos e integrais, dentro das suas histórias, culturas e instituições, vão achar a economia de Keynes inerentemente simpática. É por isso que espero que Keynes seja uma presença viva daqui a 20 anos, no centenário da Teoria Geral, e muito além disso.
Robert Skidelsky, membro da British House of Lords, é professor emérito de Economia Política na Universidade de Warwick.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
ROBERT SKIDELSKY | 23 Março 2016, 20:30
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