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Síndrome do emigrante
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Síndrome do emigrante
Eu padeço da síndrome do emigrante. Nómada nos afetos e nas casas, muito cedo perdi as minhas raízes (se alguma vez as tive) e não sinto que pertença a lugar algum. Sou emigrante dentro do meu próprio país. Não é uma situação muito rara, nem muito comum. Acontece. Saí das margens do Mar da Palha e fui parar à região onde a palha se fabrica.
Há 17 anos no Alentejo profundo, numa longa hibernação, despertei recentemente, como quem entra de automóvel no troço empedrado de uma localidade algures no meio da estrada nacional. Descubro um Alentejo efervescente de notícias: entre o reconhecimento internacional da sua identidade cantada, e uma acusação de imoralidade cultural para com a morte suspensa nas traves e nos troncos dos enforcados; entre os novos agricultores servidos pelas águas de Alqueva, modernizados com tratores guiados por GPS e pivots controlados por telemóvel, e as tabernas onde ainda se bebe e canta genuinamente fora dos palcos mediáticos.
Nunca o Alentejo foi tão estudado, entrevistado, fotografado. Mas para quem cá vive, mesmo que não se pertença à família alentejana, a dureza silenciosa e ininteligível, inexplicável, lenta e implacável, é a mesma, a mesma… aquela dureza descrita nas crónicas antigas como nas recentes. Como uma estranheza sem sintomas e sem cura, à qual se resiste mais, ou se resiste menos – mas viver no Alentejo é isso: Resistir. Não se sabe (ninguém sabe) a que é que se resiste, como se resiste, até quando se resiste. O tempo do Alentejo é o gerúndio mais do que em qualquer outra parte do mundo. Resistindo.
É isso que é fascinante no Alentejo, e define afinal as suas reais fronteiras geográficas e culturais: essa força telúrica, uma ressonância do Ser que só reverbera na alma como se de uma voz divina se tratasse. Canta-se um Alentejo sagrado – e talvez seja isso mesmo: Um sagrado que nunca poderá ser escrito e só as vozes em comunhão estendem como uma paisagem velada, visível apenas de olhos fechados.
Rui Cambraia Fotógrafo
24-03-2016 10:26:53
Diário do Alentejo
Há 17 anos no Alentejo profundo, numa longa hibernação, despertei recentemente, como quem entra de automóvel no troço empedrado de uma localidade algures no meio da estrada nacional. Descubro um Alentejo efervescente de notícias: entre o reconhecimento internacional da sua identidade cantada, e uma acusação de imoralidade cultural para com a morte suspensa nas traves e nos troncos dos enforcados; entre os novos agricultores servidos pelas águas de Alqueva, modernizados com tratores guiados por GPS e pivots controlados por telemóvel, e as tabernas onde ainda se bebe e canta genuinamente fora dos palcos mediáticos.
Nunca o Alentejo foi tão estudado, entrevistado, fotografado. Mas para quem cá vive, mesmo que não se pertença à família alentejana, a dureza silenciosa e ininteligível, inexplicável, lenta e implacável, é a mesma, a mesma… aquela dureza descrita nas crónicas antigas como nas recentes. Como uma estranheza sem sintomas e sem cura, à qual se resiste mais, ou se resiste menos – mas viver no Alentejo é isso: Resistir. Não se sabe (ninguém sabe) a que é que se resiste, como se resiste, até quando se resiste. O tempo do Alentejo é o gerúndio mais do que em qualquer outra parte do mundo. Resistindo.
É isso que é fascinante no Alentejo, e define afinal as suas reais fronteiras geográficas e culturais: essa força telúrica, uma ressonância do Ser que só reverbera na alma como se de uma voz divina se tratasse. Canta-se um Alentejo sagrado – e talvez seja isso mesmo: Um sagrado que nunca poderá ser escrito e só as vozes em comunhão estendem como uma paisagem velada, visível apenas de olhos fechados.
Rui Cambraia Fotógrafo
24-03-2016 10:26:53
Diário do Alentejo
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