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Um Governo com síndrome de Estocolmo?
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Um Governo com síndrome de Estocolmo?
Em vez de lutar por mudanças na Europa, o Governo parece uma vítima da síndrome de Estocolmo, sequestrada e gostou. Os outros países querem concessões da Alemanha? Portugal não alinha em pieguices.
Um dos aspectos mais desconcertantes da actual União Europeia é a assimetria que existe entre aquilo que os cidadãos exigem dos seus governos e aquilo que estes podem efectivamente fazer, no quadro de uma união monetária onde, pelos vistos, manda quem pode e obedece quem deve.
A discussão à volta da austeridade versus crescimento é um dos temas onde esta assimetria mais se tem feito sentir. A verdade é que, perante um resgate internacional, qualquer governo português teria de escolher entre um cenário mau, um péssimo e um catastrófico.
Desde 2011, Portugal escolheu o cenário mau, enquanto a Grécia optou pelo péssimo e vai a caminho do catastrófico. Basta comparar o desempenho dos dois países, desde os respectivos resgates: Portugal passou pela maior recessão dos últimos 30 anos, o desemprego atingiu taxas recorde e milhões de portugueses têm sofrido muito. Mas a crise parece estar a ficar para trás: o desemprego tem vindo a baixar, o défice público está controlado, o défice crónico da balança corrente (o nosso principal problema, que rondava os 10% do PIB em 2010) transformou-se em excedente, a República consegue financiar-se nos mercados a juros muito baixos (refinanciando a dívida) e o crescimento das exportações serve de "motor" à tímida retoma. Já a Grécia está como sabemos.
Porém, isto não significa que, uma vez ultrapassada a situação de emergência e recuperada a "soberania" (aspas justificam-se), o Governo de Portugal não possa defender, na Europa, uma alternativa à solução "alemã" para a crise dos países periféricos. Uma alternativa que tenha em conta o facto de os défices comerciais dos países do Sul espelharem o excedente recorde da Alemanha. Que aceite que, por muitas reformas estruturais que se façam, alguns países tornam-se mais competitivos pelo facto de o euro ser uma moeda suficientemente fraca para as suas exportações, enquanto outros perdem competitividade por terem uma moeda demasiado forte. Uma alternativa que passe por metas orçamentais mais flexíveis para permitir à economia respirar, seguindo o exemplo dos EUA. Ao mesmo tempo que o Fed injectava dinheiro na economia, o governo americano deixou o défice aumentar (tocou os 12% em 2010), para combater a crise. E só começou a reduzir o défice público quando a economia aqueceu: em 2014, os EUA cresceram 2,6%, tendo o défice público caído para 2,8%. Já a economia da zona euro, no seu colete de forças orçamental, cresceu apenas 0,8%, enquanto o défice público ficou nos 2,3%. Esta diferença deveria dar que pensar a quem manda na Europa.
O Governo não tem margem para deixar deslizar o défice, mas não viria mal ao mundo se defendesse mudanças a nível europeu, que seriam do interesse de Portugal. A entrevista que o ministro da Economia concedeu à Reuters, na sexta-feira, é um bom exemplo dessa miopia ideológica que tolda a visão do Executivo. Pires de Lima afirmou que Portugal não aceita participar numa conferência sobre as dívidas europeias e que, da Grécia, espera "que assuma os compromissos" com os credores.
Assim, em vez de lutar por uma mudança que seria do interesse nacional, o Governo parece uma vítima da síndrome de Estocolmo, que é sequestrada e acaba por gostar. Os outros países querem obter concessões da Alemanha? Senhora Merkel, esteja tranquila, Portugal não alinha em pieguices.
Agostinho da Silva disse em tempos que o trabalho existe por causa do Homem e não o contrário. O mesmo pode ser dito da economia: no longo prazo, todos estaremos mortos e o objectivo das políticas económicas deve ser assegurar o crescimento e o emprego. Europa não devia ser sinónimo de castigo.
Filipe Alves
00.05 h
Económico
Um dos aspectos mais desconcertantes da actual União Europeia é a assimetria que existe entre aquilo que os cidadãos exigem dos seus governos e aquilo que estes podem efectivamente fazer, no quadro de uma união monetária onde, pelos vistos, manda quem pode e obedece quem deve.
A discussão à volta da austeridade versus crescimento é um dos temas onde esta assimetria mais se tem feito sentir. A verdade é que, perante um resgate internacional, qualquer governo português teria de escolher entre um cenário mau, um péssimo e um catastrófico.
Desde 2011, Portugal escolheu o cenário mau, enquanto a Grécia optou pelo péssimo e vai a caminho do catastrófico. Basta comparar o desempenho dos dois países, desde os respectivos resgates: Portugal passou pela maior recessão dos últimos 30 anos, o desemprego atingiu taxas recorde e milhões de portugueses têm sofrido muito. Mas a crise parece estar a ficar para trás: o desemprego tem vindo a baixar, o défice público está controlado, o défice crónico da balança corrente (o nosso principal problema, que rondava os 10% do PIB em 2010) transformou-se em excedente, a República consegue financiar-se nos mercados a juros muito baixos (refinanciando a dívida) e o crescimento das exportações serve de "motor" à tímida retoma. Já a Grécia está como sabemos.
Porém, isto não significa que, uma vez ultrapassada a situação de emergência e recuperada a "soberania" (aspas justificam-se), o Governo de Portugal não possa defender, na Europa, uma alternativa à solução "alemã" para a crise dos países periféricos. Uma alternativa que tenha em conta o facto de os défices comerciais dos países do Sul espelharem o excedente recorde da Alemanha. Que aceite que, por muitas reformas estruturais que se façam, alguns países tornam-se mais competitivos pelo facto de o euro ser uma moeda suficientemente fraca para as suas exportações, enquanto outros perdem competitividade por terem uma moeda demasiado forte. Uma alternativa que passe por metas orçamentais mais flexíveis para permitir à economia respirar, seguindo o exemplo dos EUA. Ao mesmo tempo que o Fed injectava dinheiro na economia, o governo americano deixou o défice aumentar (tocou os 12% em 2010), para combater a crise. E só começou a reduzir o défice público quando a economia aqueceu: em 2014, os EUA cresceram 2,6%, tendo o défice público caído para 2,8%. Já a economia da zona euro, no seu colete de forças orçamental, cresceu apenas 0,8%, enquanto o défice público ficou nos 2,3%. Esta diferença deveria dar que pensar a quem manda na Europa.
O Governo não tem margem para deixar deslizar o défice, mas não viria mal ao mundo se defendesse mudanças a nível europeu, que seriam do interesse de Portugal. A entrevista que o ministro da Economia concedeu à Reuters, na sexta-feira, é um bom exemplo dessa miopia ideológica que tolda a visão do Executivo. Pires de Lima afirmou que Portugal não aceita participar numa conferência sobre as dívidas europeias e que, da Grécia, espera "que assuma os compromissos" com os credores.
Assim, em vez de lutar por uma mudança que seria do interesse nacional, o Governo parece uma vítima da síndrome de Estocolmo, que é sequestrada e acaba por gostar. Os outros países querem obter concessões da Alemanha? Senhora Merkel, esteja tranquila, Portugal não alinha em pieguices.
Agostinho da Silva disse em tempos que o trabalho existe por causa do Homem e não o contrário. O mesmo pode ser dito da economia: no longo prazo, todos estaremos mortos e o objectivo das políticas económicas deve ser assegurar o crescimento e o emprego. Europa não devia ser sinónimo de castigo.
Filipe Alves
00.05 h
Económico
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