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Nacionalismo, anti-nacionalismo e trans-nacionalismo
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Nacionalismo, anti-nacionalismo e trans-nacionalismo
Mais do que qualquer outra coisa, Agostinho da Silva foi, porém, um trans-nacionalista lusófono.
A questão emergiu num recente Colóquio sobre Agostinho da Silva, por ocasião dos seus 110 anos, em que participei. A certa altura, discutiu-se um alegado “nacionalismo” no seu pensamento.
Tive a oportunidade de questionar essa alegação. Não me parece, de todo, que Agostinho da Silva tenha sido um nacionalista. Pelo menos, um nacionalista português. Quanto muito, foi um nacionalista brasileiro, tais as esperanças que depositava neste nosso país irmão.
Mais do que qualquer outra coisa, Agostinho da Silva foi, porém, um trans-nacionalista lusófono, prefigurando, para Portugal e para os restantes países de língua portuguesa, um caminho de convergência. Deixou-nos igualmente outras portas abertas: por exemplo, a do trans-nacionalismo ibérico e mesmo hispânico, vislumbrando uma possível união entre os países hispânicos e lusófonos, muito para além do espaço ibérico.
Na sua visão, um país como Portugal não poderia sobreviver sozinho num mundo cada vez mais globalizado. Como nunca se iludiu com a nossa integração europeia, essa convergência com os restantes países de língua portuguesa parecia-lhe a melhor forma de garantir a existência histórica de Portugal, fortalecendo inclusive a nossa posição no seio da Europa.
Eis, em suma, porque Agostinho da Silva não era realmente um nacionalista. A seu ver, para um país como Portugal, a posição nacionalista era demasiado insuficiente para garantir a nossa existência histórica. Se mesmo um país como o Brasil não pode sobreviver sozinho num mundo cada vez mais globalizado, quanto mais um país como Portugal. De resto, sempre foi assim na nossa história. Foi sempre uma hábil política de alianças trans-nacionais o que foi garantindo, até hoje, a nossa existência histórica.
Dito isto, assumo que não contribuo para o “peditório” do anti-nacionalismo. Como no próprio Colóquio disse, de forma provocatória mas não levianamente, “se o nacionalismo é mau, o anti-nacionalismo é bem pior”. Apesar de já nada me espantar, ainda me consigo surpreender com algumas pessoas que são anti-nacionalistas cá dentro – desprezando à partida tudo o que é português –, mas que depois valorizam, para lá das nossas fronteiras, outros nacionalismos culturais e políticos.
É esse, por exemplo, o caso do nacionalismo galego, apoiado expressamente por muitos anti-nacionalistas portugueses – pela simples mas suficiente razão que em Portugal ser nacionalista passe por ser uma posição de “direita” e na Galiza o nacionalismo seja visto como uma posição de “esquerda” (atente-se no caso do Bloco Nacionalista Galego, o partido nacionalista – assumidamente de “esquerda” – que, na Galiza, teve no passado recente, os melhores resultados eleitorais). Bom exemplo, este. Também na Galiza, as pessoas mais lúcidas já perceberam há muito que o nacionalismo galego só poderá sobreviver no quadro mais vasto do trans-nacionalismo lusófono.
Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono, www.movimentolusofono.org
RENATO EPIFÂNIO
25/03/2016 - 06:50
Público
A questão emergiu num recente Colóquio sobre Agostinho da Silva, por ocasião dos seus 110 anos, em que participei. A certa altura, discutiu-se um alegado “nacionalismo” no seu pensamento.
Tive a oportunidade de questionar essa alegação. Não me parece, de todo, que Agostinho da Silva tenha sido um nacionalista. Pelo menos, um nacionalista português. Quanto muito, foi um nacionalista brasileiro, tais as esperanças que depositava neste nosso país irmão.
Mais do que qualquer outra coisa, Agostinho da Silva foi, porém, um trans-nacionalista lusófono, prefigurando, para Portugal e para os restantes países de língua portuguesa, um caminho de convergência. Deixou-nos igualmente outras portas abertas: por exemplo, a do trans-nacionalismo ibérico e mesmo hispânico, vislumbrando uma possível união entre os países hispânicos e lusófonos, muito para além do espaço ibérico.
Na sua visão, um país como Portugal não poderia sobreviver sozinho num mundo cada vez mais globalizado. Como nunca se iludiu com a nossa integração europeia, essa convergência com os restantes países de língua portuguesa parecia-lhe a melhor forma de garantir a existência histórica de Portugal, fortalecendo inclusive a nossa posição no seio da Europa.
Eis, em suma, porque Agostinho da Silva não era realmente um nacionalista. A seu ver, para um país como Portugal, a posição nacionalista era demasiado insuficiente para garantir a nossa existência histórica. Se mesmo um país como o Brasil não pode sobreviver sozinho num mundo cada vez mais globalizado, quanto mais um país como Portugal. De resto, sempre foi assim na nossa história. Foi sempre uma hábil política de alianças trans-nacionais o que foi garantindo, até hoje, a nossa existência histórica.
Dito isto, assumo que não contribuo para o “peditório” do anti-nacionalismo. Como no próprio Colóquio disse, de forma provocatória mas não levianamente, “se o nacionalismo é mau, o anti-nacionalismo é bem pior”. Apesar de já nada me espantar, ainda me consigo surpreender com algumas pessoas que são anti-nacionalistas cá dentro – desprezando à partida tudo o que é português –, mas que depois valorizam, para lá das nossas fronteiras, outros nacionalismos culturais e políticos.
É esse, por exemplo, o caso do nacionalismo galego, apoiado expressamente por muitos anti-nacionalistas portugueses – pela simples mas suficiente razão que em Portugal ser nacionalista passe por ser uma posição de “direita” e na Galiza o nacionalismo seja visto como uma posição de “esquerda” (atente-se no caso do Bloco Nacionalista Galego, o partido nacionalista – assumidamente de “esquerda” – que, na Galiza, teve no passado recente, os melhores resultados eleitorais). Bom exemplo, este. Também na Galiza, as pessoas mais lúcidas já perceberam há muito que o nacionalismo galego só poderá sobreviver no quadro mais vasto do trans-nacionalismo lusófono.
Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono, www.movimentolusofono.org
RENATO EPIFÂNIO
25/03/2016 - 06:50
Público
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