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A coisa vai esquentar
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A coisa vai esquentar
Foi pela Páscoa, como hoje, que os nossos parentes chegaram ao Brasil. Daí o nome de Monte Pascoal, o primeiro pedaço de terra firme que encontraram do outro lado do mar. Mas isso é Canal História, que o Brasil destes dias prolonga a Quaresma e ameaça novo calvário, numa tripla e tormentosa crise: política, económica e ética. E o mais grave é que coincidem e alimentam-se umas das outras.
Tudo parecia fácil, ainda há pouco, na embalagem de quase duas décadas a crescer, com Fernando Henrique Cardoso e depois Lula da Silva na Presidência. Foram anos de euforia, alimentada pela extensão do crédito e pelo acesso ao consumo de 30 milhões de cidadãos arrancados à pobreza. O proselitismo acreditou que até Deus virara brasileiro.
Agora, a economia derrapa, a recessão espreita, a dívida pública dispara, a inflação ronda os 10%, o desemprego cresce, as taxas de juro também. E, como se não bastassem os 39 ministros que gerem uma administração ineficiente e transformada em balcão de negócios, a política brasileira é sacudida por escândalos de corrupção como a gigantesca rede de subornos na Petrobras, a joia da coroa empresarial.
As suspeitas (operação Lava Jato), que estoiram bem perto de Dilma Rousseff e também de Lula, envolvem dezenas de deputados e empresários. Mas nos tentáculos do polvo esbracejam políticos de quase todos os 28 partidos que integram um Congresso atomizado e que cavalga o pretexto para pedir, a golpe, no Palácio e na rua, a destituição da presidente.
A coisa vai esquentar. Desta vez não há tanques à vista, mas há um juiz que acusa à margem da lei, ignorando o princípio da soberania democrática e a separação de poderes. O mal está feito, a desconfiança semeada, a rua ameaça falar mais alto, eis um Brasil a resvalar para um tempo do vale tudo para destruir adversários.
Reclama-se, primeiro, a decapitação política de Lula, prendê-lo seja a que pretexto for. E impedir que o antigo torneiro mecânico possa, de novo, aspirar à Presidência. Só depois virá o processo de destituição de Dilma, conduzido por uma comissão parlamentar em que mais de metade dos deputados está a contas com a justiça.
Sabemos como tudo começou, difícil é acabar bem. Quando faltam pouco mais de 100 dias para as Olimpíadas do Rio, o povo descobre que quase todos os ídolos têm pés de barro e que é muito alto o preço dos sonhos na terra onde o samba é filho da dor.
27.03.2016
AFONSO CAMÕES
Jornal de Notícias
Tudo parecia fácil, ainda há pouco, na embalagem de quase duas décadas a crescer, com Fernando Henrique Cardoso e depois Lula da Silva na Presidência. Foram anos de euforia, alimentada pela extensão do crédito e pelo acesso ao consumo de 30 milhões de cidadãos arrancados à pobreza. O proselitismo acreditou que até Deus virara brasileiro.
Agora, a economia derrapa, a recessão espreita, a dívida pública dispara, a inflação ronda os 10%, o desemprego cresce, as taxas de juro também. E, como se não bastassem os 39 ministros que gerem uma administração ineficiente e transformada em balcão de negócios, a política brasileira é sacudida por escândalos de corrupção como a gigantesca rede de subornos na Petrobras, a joia da coroa empresarial.
As suspeitas (operação Lava Jato), que estoiram bem perto de Dilma Rousseff e também de Lula, envolvem dezenas de deputados e empresários. Mas nos tentáculos do polvo esbracejam políticos de quase todos os 28 partidos que integram um Congresso atomizado e que cavalga o pretexto para pedir, a golpe, no Palácio e na rua, a destituição da presidente.
A coisa vai esquentar. Desta vez não há tanques à vista, mas há um juiz que acusa à margem da lei, ignorando o princípio da soberania democrática e a separação de poderes. O mal está feito, a desconfiança semeada, a rua ameaça falar mais alto, eis um Brasil a resvalar para um tempo do vale tudo para destruir adversários.
Reclama-se, primeiro, a decapitação política de Lula, prendê-lo seja a que pretexto for. E impedir que o antigo torneiro mecânico possa, de novo, aspirar à Presidência. Só depois virá o processo de destituição de Dilma, conduzido por uma comissão parlamentar em que mais de metade dos deputados está a contas com a justiça.
Sabemos como tudo começou, difícil é acabar bem. Quando faltam pouco mais de 100 dias para as Olimpíadas do Rio, o povo descobre que quase todos os ídolos têm pés de barro e que é muito alto o preço dos sonhos na terra onde o samba é filho da dor.
27.03.2016
AFONSO CAMÕES
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