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Mensagem por Admin Qua Mar 30, 2016 11:48 am

Em 2014 a globalização retomou o crescimento que havia retrocedido com a Grande Depressão de 2008. Actualmente, o valor dos fluxos em bens, serviços e financeiros representam cerca de 40 por cento do PIB global quando há 25 anos representavam 25 por cento. Todavia, as trocas em bens duradouros estagnaram ou até diminuíram, comparativamente com o crescimento da economia global, enquanto o fluxo de dados explodiu.

Hoje, as trocas digitais são 45 vezes maiores que há apenas dez anos, segundo o McKinsey Global Institute (MGI). Um dos impactos da reestruturação dos mercados é na alocação de capital. Hoje, os salários pagos a humanos são menos importantes na estrutura de custos e nas decisões de alocação de capital, que vai para onde for mais eficiente, assistindo-se simultaneamente à concentração de certas actividades, como por exemplo a gestão de recursos humanos. Hoje, metade do valor do mercado de serviços é digital.

Até há pouco tempo a globalização favorecia as grandes empresas multinacionais. Agora assiste-se à democratização da economia global, em particular no mundo ocidental, em consequência da digitalização. Hoje, há 50 milhões de pequenas empresas no Facebook, o dobro de há apenas dois anos. Segundo o MGI, 86 por cento das ‘startups’ tecnológicas abordam desde o início o mercado global.

Todavia, são relativamente poucos os países que estão realmente conectados à economia global. De acordo com o MGI Connectedness Index, no topo do índice está Singapura com um ‘score’ de 64.2, seguido da Holanda, EUA, Alemanha, Irlanda e Reino Unido. Portugal está em 40º lugar com um ‘score’ de 5.5, igual à Finlândia e um pouco mais que a Turquia. A Finlândia equipara-se a Portugal na produção de bens, mas ganha um pouco nos serviços e finança e bate-nos nos dados, onde está em 10º lugar, enquanto Portugal ocupa o 31º lugar. Graças ao turismo e à emigração, Portugal ganha na conectividade das pessoas ocupando o 23º lugar contra o 70º da Finlândia.

Estes dados e estudos parecem por em causa aqueles que defendem a “reindustrialização” de Portugal. Provavelmente seria mais correcto pensar na digitalização da indústria, designadamente através de 3D Printing que permite a deslocalização da produção, ou noutras actividades de maior valor acrescentado como a biotecnologia ou a medicina. Outra área onde Portugal dispõe de recursos humanos, naturais, conhecimento e alguma capacidade instalada é na produção de audiovisual. Seguindo o modelo da Nova Zelândia (48º lugar no Connectedness Index) venho há anos defendendo que Portugal poderia transformar em dinheiro as suas virtudes na área da produção de cinema e televisão como pólo europeu na pós-produção, hoje uma actividade cem por cento digital.

Portugal é pouco conhecido na Europa como destino para produção audiovisual, embora seja comum ver-se no Chiado e noutras zonas históricas equipas estrangeiras de cinema e televisão. E o que é que fica? Turismo. Alguns alugueres de equipamento e pessoal técnico – por vezes nem isso porque vem tudo de fora –, alojamento, refeições e deslocações. O conhecimento e as actividades mais valiosas não ficam cá. Não existe promoção direccionada e não existem incentivos fiscais, hoje absolutamente essenciais para atrair produção e investimento no cinema e televisão.

00:05 h
Nuno Cintra Torres
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