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Para onde o vento nos levar
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Para onde o vento nos levar
Os miúdos acham que é magia e é por isso adoram carrinhos telecomandados. Dois objetos sem nada a ligá-los mas que funcionam como um só. Carregam num botão, e o carro anda para frente. Carregam noutro, e ele anda para trás. Há mais dois botões para mudar de direção, levando-o mais para a esquerda ou mais para a direita. Como? Estranha geringonça esta. Entre o comando e o carro não há nada.
Depois crescemos e a magia desaparece porque alguém nos explica que, na verdade, esse vazio está cheio de radio frequências (e não só) e é através delas que o comando faz o carro mexer. Agora queremos carros maiores, que não caibam na palma da mão, que andem mais depressa e não precisem de comando. Claro que, em dias como o de hoje, com um protesto de taxistas em marcha lenta por Lisboa, Porto e Faro a ameaçar paralisar as cidades "até ao natal", os carros ficam parados e (nessa e só nessa condição) pegamos no telemóvel para ler o Expresso Curto. Sobra tempo para a nostalgia e para contemplar o mundo lá fora à espera que a magia reapareça.
Não é difícil. Basta olhar as folhas que balançam nas árvores. Não vemos o vento que as faz mexer, mas sabemos que está lá (fraco num dia de sol, diz o IPMA). Como sabemos que nunca o conseguiremos parar com as mãos. E este é o problema da guerra entre os taxis e a Uber. Podemos discutir todas as implicações legais em todos os países do mundo e todos os pontos de vista, mas não podemos perder de vista o essencial: as sociedades modernas são sociedades de pessoas diferentes que querem as mesmas coisas de sempre. Quanto mais baratas melhor, quanto mais depressa melhor. Foi há três meses, mas parece que já foi há três anos, que em pleno Forum Económico de Davos ouvimos falar da Quarta Revolução Industrial e dos 5 milhões de empregos que vão desaparecer. Os pequenos carros telecomandados de ontem já não respondem aos botões.
Caminhamos para um mundo diferente, imparável, que avança para nós a mil à hora e a resposta dos taxis não podia ser mais simbólica: uma marcha lenta contra a Uber, um serviço online que funciona à base de telemóveis com Internet de alta velocidade. Pense no seguinte: Quantas vezes usou um táxi no último mês? Quantas vezes já pegou no telemóvel para usar conteúdos online hoje? Quantos minutos já perdeu na Internet esta manhã? Está a fazê-lo agora. Essa diferença explica tudo. O mundo está a mudar e é preciso ter consciência de que será muito difícil travar essa mudança. Claro que nada é inevitável, mas tudo tem consequências. Podemos bloquear o acesso à app da Uber, podemos inundar os tribunais de processos, podemos ilegalizar ou até desligar a Internet. A guerra é global e complexa.
Ontem à tarde, véspera do grande protesto, a Uber enviou um email aos clientes a alertar para as complicações desta manhã e a prometer fazer tudo o que fosse possível para os ajudar a chegar depressa ao destino. O Expresso preparou um guia para evitar problemas. Em Lisboa, onde são esperados cerca de quatro mil lentos táxis, arrancam da zona do Parque das Nações às nove e só devem chegar à Assembleia da República às 13h00. Portanto, se não conseguiu escapar, aproveite a pausa no trânsito e veja aqui como o problema não é exclusivo de Portugal - em Nova Iorque, a Uber já ultrapassou os táxis (este artigo tem uns dias). E se quer mesmo espantar-se, imagine o dia em que taxistas e condutores da Uber vão marchar, lentamente, lado a lado contra a Car2Go...
Ivo Andric, em "A Ponte sobre o Drina", escreveu sobre 1914 uma frase cheia de atualidade
"Estava-se num período de fronteira entre duas épocas da história humana, de onde era muito mais fácil avistar o fim da época que se encerrava do que o principio dessoutra que se abria."
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/newsletters/expressomatinal/2016-04-29-Para-onde-o-vento-nos-levar
POR RICARDO MARQUES
Jornalista
29 de Abril de 2016
Expresso
Depois crescemos e a magia desaparece porque alguém nos explica que, na verdade, esse vazio está cheio de radio frequências (e não só) e é através delas que o comando faz o carro mexer. Agora queremos carros maiores, que não caibam na palma da mão, que andem mais depressa e não precisem de comando. Claro que, em dias como o de hoje, com um protesto de taxistas em marcha lenta por Lisboa, Porto e Faro a ameaçar paralisar as cidades "até ao natal", os carros ficam parados e (nessa e só nessa condição) pegamos no telemóvel para ler o Expresso Curto. Sobra tempo para a nostalgia e para contemplar o mundo lá fora à espera que a magia reapareça.
Não é difícil. Basta olhar as folhas que balançam nas árvores. Não vemos o vento que as faz mexer, mas sabemos que está lá (fraco num dia de sol, diz o IPMA). Como sabemos que nunca o conseguiremos parar com as mãos. E este é o problema da guerra entre os taxis e a Uber. Podemos discutir todas as implicações legais em todos os países do mundo e todos os pontos de vista, mas não podemos perder de vista o essencial: as sociedades modernas são sociedades de pessoas diferentes que querem as mesmas coisas de sempre. Quanto mais baratas melhor, quanto mais depressa melhor. Foi há três meses, mas parece que já foi há três anos, que em pleno Forum Económico de Davos ouvimos falar da Quarta Revolução Industrial e dos 5 milhões de empregos que vão desaparecer. Os pequenos carros telecomandados de ontem já não respondem aos botões.
Caminhamos para um mundo diferente, imparável, que avança para nós a mil à hora e a resposta dos taxis não podia ser mais simbólica: uma marcha lenta contra a Uber, um serviço online que funciona à base de telemóveis com Internet de alta velocidade. Pense no seguinte: Quantas vezes usou um táxi no último mês? Quantas vezes já pegou no telemóvel para usar conteúdos online hoje? Quantos minutos já perdeu na Internet esta manhã? Está a fazê-lo agora. Essa diferença explica tudo. O mundo está a mudar e é preciso ter consciência de que será muito difícil travar essa mudança. Claro que nada é inevitável, mas tudo tem consequências. Podemos bloquear o acesso à app da Uber, podemos inundar os tribunais de processos, podemos ilegalizar ou até desligar a Internet. A guerra é global e complexa.
Ontem à tarde, véspera do grande protesto, a Uber enviou um email aos clientes a alertar para as complicações desta manhã e a prometer fazer tudo o que fosse possível para os ajudar a chegar depressa ao destino. O Expresso preparou um guia para evitar problemas. Em Lisboa, onde são esperados cerca de quatro mil lentos táxis, arrancam da zona do Parque das Nações às nove e só devem chegar à Assembleia da República às 13h00. Portanto, se não conseguiu escapar, aproveite a pausa no trânsito e veja aqui como o problema não é exclusivo de Portugal - em Nova Iorque, a Uber já ultrapassou os táxis (este artigo tem uns dias). E se quer mesmo espantar-se, imagine o dia em que taxistas e condutores da Uber vão marchar, lentamente, lado a lado contra a Car2Go...
Ivo Andric, em "A Ponte sobre o Drina", escreveu sobre 1914 uma frase cheia de atualidade
"Estava-se num período de fronteira entre duas épocas da história humana, de onde era muito mais fácil avistar o fim da época que se encerrava do que o principio dessoutra que se abria."
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/newsletters/expressomatinal/2016-04-29-Para-onde-o-vento-nos-levar
POR RICARDO MARQUES
Jornalista
29 de Abril de 2016
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