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Ásia kamikaze?
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Ásia kamikaze?
Foram os ventos divinos, os kamikaze, que no século XIII impediram que o Japão fosse invadido pela China da dinastia Yuan. Mas se mesmo no arquipélago nipónico, embora nunca submetido, a influência cultural chinesa foi fortíssima ao longo dos milénios, que dizer de países como Birmânia, Laos, Vietname ou Coreia que até ao século XIX eram tidos como vassalos pelo Império do Meio?
Todos esses países passaram por complicados processos de construção da independência, muitas vezes com a chegada do colonizador europeu a servir de corte com a tradicional submissão a Pequim. Ora, um legado chinês a toda esta região é o valor dado à memória, o que significa que a história está omnipresente nas relações entre os países da Ásia Oriental, como se pode comprovar pelos argumentos que Pequim usa hoje para justificar as suas pretensões sobre as Paracels e as Spratlys.
O próprio nome do mar onde todas estas ilhas e ilhotas se encontram, o mar do Sul da China, serve para o argumentário de Pequim, que choca com as reivindicações das outras nações envolvidas, que preferem recorrer aos critérios da ONU de águas territoriais e de zona económica exclusiva.
Este ressurgimento das reivindicações chinesas não é fortuito. Coincide com a recuperação do estatuto de grande potência que entre as décadas de 1840 (ataque britânico a Hong Kong) e 1940 (ocupação japonesa) desaparecera por completo. Consolidada a soberania com a proclamação da República Popular em 1949, foi só com o sucesso das reformas económicas pós-1979 que a China conseguiu os meios para afirmar o seu poderio, ainda que apenas a nível regional para já. E esses meios são já evidentes, pois o orçamento militar só fica atrás do dos Estados Unidos, calculando-se que em 2015 tenha atingido os 150 mil milhões de dólares, duplicando no espaço de uma década.
Estas pretensões marítimas chinesas chocam sobretudo com Vietname (um país comunista que fez guerra à China em 1979) e com Filipinas (antiga colónia dos Estados Unidos, que até à recente mudança de presidente apostava no retomar da aliança com os americanos). Mas também estão a testar a determinação dos Estados Unidos, cuja presença militar na região é maciça, graças às bases na Coreia do Sul e no Japão. Alegando a liberdade de navegação, navios americanos têm ignorado as fronteiras declaradas pela China.
É bizarro que esta disputa no mar do Sul da China se tenha tornado de alto risco, a ponto de ofuscar outras tensões na região, como a ameaça nuclear norte-coreana, o reacender dos problemas no Estreito de Taiwan ou o projeto de rearmamento japonês. Mas não se trata de China versus Vietname ou mesmo de China versus países da ASEAN. É sim um braço-de-ferro entre uma China emergente, decidida a fazer justiça à sua história imperial, e uns Estados Unidos que chegaram à Ásia Oriental em meados do século XIX obrigando ao livre comércio sob ameaça do canhão e que desde a Segunda Guerra Mundial se instalaram na região de uma forma que mesmo aos aliados chega a incomodar (veja-se os protestos em Okinawa).
Ora, vai prosseguir este teste de força entre chineses e americanos. Não só na benévola versão económica (o banco AIIB contra o tratado TPP) mas também na perigosa exibição de músculo. E o complicado é que na Ásia Oriental, na maioria dos potenciais conflitos, chineses e americanos parecem destinados a estar em lados opostos da barricada, basta pensar em Taiwan, nas Coreias ou mesmo num choque entre os nacionalismos chinês e japonês. E se é cómodo pensar que os interesses económicos mútuos servem de barreira a derivas militaristas, também é de notar que há já uma corrida às armas na região e que a história por vezes em vez de dar lições sobre os erros do passado contribui para que estes se repitam. Desde a Segunda Guerra Mundial kamikaze é sinónimo de suicida. Mas ninguém deseja uma Ásia kamikaze.
28 DE MAIO DE 2016
00:03
Leonídio Paulo Ferreira
Diário de Notícias
Todos esses países passaram por complicados processos de construção da independência, muitas vezes com a chegada do colonizador europeu a servir de corte com a tradicional submissão a Pequim. Ora, um legado chinês a toda esta região é o valor dado à memória, o que significa que a história está omnipresente nas relações entre os países da Ásia Oriental, como se pode comprovar pelos argumentos que Pequim usa hoje para justificar as suas pretensões sobre as Paracels e as Spratlys.
O próprio nome do mar onde todas estas ilhas e ilhotas se encontram, o mar do Sul da China, serve para o argumentário de Pequim, que choca com as reivindicações das outras nações envolvidas, que preferem recorrer aos critérios da ONU de águas territoriais e de zona económica exclusiva.
Este ressurgimento das reivindicações chinesas não é fortuito. Coincide com a recuperação do estatuto de grande potência que entre as décadas de 1840 (ataque britânico a Hong Kong) e 1940 (ocupação japonesa) desaparecera por completo. Consolidada a soberania com a proclamação da República Popular em 1949, foi só com o sucesso das reformas económicas pós-1979 que a China conseguiu os meios para afirmar o seu poderio, ainda que apenas a nível regional para já. E esses meios são já evidentes, pois o orçamento militar só fica atrás do dos Estados Unidos, calculando-se que em 2015 tenha atingido os 150 mil milhões de dólares, duplicando no espaço de uma década.
Estas pretensões marítimas chinesas chocam sobretudo com Vietname (um país comunista que fez guerra à China em 1979) e com Filipinas (antiga colónia dos Estados Unidos, que até à recente mudança de presidente apostava no retomar da aliança com os americanos). Mas também estão a testar a determinação dos Estados Unidos, cuja presença militar na região é maciça, graças às bases na Coreia do Sul e no Japão. Alegando a liberdade de navegação, navios americanos têm ignorado as fronteiras declaradas pela China.
É bizarro que esta disputa no mar do Sul da China se tenha tornado de alto risco, a ponto de ofuscar outras tensões na região, como a ameaça nuclear norte-coreana, o reacender dos problemas no Estreito de Taiwan ou o projeto de rearmamento japonês. Mas não se trata de China versus Vietname ou mesmo de China versus países da ASEAN. É sim um braço-de-ferro entre uma China emergente, decidida a fazer justiça à sua história imperial, e uns Estados Unidos que chegaram à Ásia Oriental em meados do século XIX obrigando ao livre comércio sob ameaça do canhão e que desde a Segunda Guerra Mundial se instalaram na região de uma forma que mesmo aos aliados chega a incomodar (veja-se os protestos em Okinawa).
Ora, vai prosseguir este teste de força entre chineses e americanos. Não só na benévola versão económica (o banco AIIB contra o tratado TPP) mas também na perigosa exibição de músculo. E o complicado é que na Ásia Oriental, na maioria dos potenciais conflitos, chineses e americanos parecem destinados a estar em lados opostos da barricada, basta pensar em Taiwan, nas Coreias ou mesmo num choque entre os nacionalismos chinês e japonês. E se é cómodo pensar que os interesses económicos mútuos servem de barreira a derivas militaristas, também é de notar que há já uma corrida às armas na região e que a história por vezes em vez de dar lições sobre os erros do passado contribui para que estes se repitam. Desde a Segunda Guerra Mundial kamikaze é sinónimo de suicida. Mas ninguém deseja uma Ásia kamikaze.
28 DE MAIO DE 2016
00:03
Leonídio Paulo Ferreira
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