Só no fim do jogo

Com o referendo britânico do próximo mês, as eleições presidenciais francesas em Abril-Maio e as alemãs entre Agosto e Setembro de 2017, a Europa vai ficar a marinar não por um mês mas por um ano, pelo menos.

Em 1966, o então primeiro-ministro Pompidou disse um dia, perante uma pilha de decretos que o jovem chargé de mission Chirac lhe dava a assinar: “Mais arrêtez donc d’emmerder les Français”. Isto é seguramente o que muitos europeus pensam da actual situação, quando os problemas persistem e as soluções faltam.

Nada de relevante será provavelmente feito a curto prazo por causa do referendo britânico do próximo mês, o que não quer dizer que vamos todos de férias para já. Mas Cameron “pediu” a Jean-Claude Juncker, Hollande e Merkel que estejam calados para não prejudicarem o ‘stay’, sobretudo agora que o sim (ficar) está em vantagem – 46% contra 41%; 81% dos apostadores estão pelo ‘stay’ – e o tempo parece jogar a seu favor.

Apenas Obama se pronunciou, a pedido, dizendo que se o Reino Unido saísse da União que não esperasse algum acordo preferencial com os EUA durante os próximos dez anos. Estados Unidos que, aliás, aparentemente só não vão subir novamente a taxa de juro já – Yellen já avisou que a próxima subida será este Verão – precisamente para não perturbar o dito referendo e assim provocar instabilidade nos mercados financeiros.

Não deixa de ser revelador a importância que dá ao referendo o país onde uma empresa, a Apple, tem uma reserva de liquidez da ordem do PIB português. E já agora também será interessante ver se Draghi, que o Le Monde baptizou “o equilibrista”, vai anunciar dia 2 o calendário e as modalidades do novo ‘Quantitative Easing’ (compra de títulos de empresas) ou se vai prudentemente adiar um mês, pela mesma razão.

Mas este só é o primeiro de três ‘matchs’, com as eleições presidenciais francesas em Abril-Maio e as alemãs entre 27 de Agosto e 22 de Setembro de 2017. Quanto às francesas, será o segundo momento em que está em causa a subida ao poder da extrema-direita, depois da derrota in extremis de Hofer na Áustria. Marine Le Pen está bem colocada nas sondagens, onde Hollande, o mesmo que respondeu à sua ministra Marylise Lebranchu, que o incitava a falar acerca da sua posição sobre a Europa e o Mundo na sequência da sua vitória em 2012, que “ninguém quer saber da Europa”, a nem sequer ir à segunda volta.

Já no tocante às eleições alemãs, o que está em causa não é a derrota do partido de Merkel, que poderá mesmo assim perder 10 pontos, mas sim a extensão da subida da AfD (Alternativa para a Alemanha), de extrema-direita. Joga-se à maior de três, como numa partida de ténis, para decidir se continuamos com os partidos tradicionais ou se vinga o populismo. Aliás, a batalha contra o populismo também só pode ser ganha no terreno, e só o será construindo uma boa alternativa. Até lá, é também como num jogo de ténis: vamos mexer muito a cabeça da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, mas sem pôr os pés ao caminho. A Europa vai ficar a marinar não por um mês mas por um ano, pelo menos.

Esperemos, pois, que tudo se passe de facto como num jogo de ténis em três partidas e que, de uma vez, possamos ver as coisas voltar ao “business as now unusual” e  se possa tratar dos problemas de fundo. É que se mesmo num jogo de ténis, se bem as coisas durem só três partidas, há o ‘tiebreak’ ou os ‘advantage sets’, a verdade é que o quinto ‘set’ entre Isner e Mahut, disputado em Wimbledon em 2010, durou oito horas e onze minutos. Isto, num jogo, pode ser sinónimo de ‘frisson’ e excitação, mas na economia e na política é mais um "emmerdement".

00:05 h
Fernando Pacheco, Economista
Económico