Queijo suíço

A notícia de que dois argelinos e dois marroquinos escaparam ao controle policial do Aeroporto Humberto Delgado em quatro meses não é motivo de preocupação apenas para nós, portugueses. O aeroporto funciona como fronteira do Espaço Schengen e isso significa que falhámos nos compromissos que assumimos com os nossos parceiros europeus. A situação é grave, porque os quatro fugitivos são de nacionalidades consideradas de risco e ainda nenhum foi apanhado pela polícia.

Sacudir a água do capote, recusar responsabilidades, como parecem estar a fazer as diferentes autoridades que devem zelar pela segurança daquela fronteira, em nada nos pode sossegar, bem pelo contrário. Para corrigir um erro, neste caso quatro erros em quatro meses, é preciso reconhecê-los, identificar as falhas, percebendo responsabilidades e corrigindo o que está mal.

Como nenhum dos quatro que fugiram do aeroporto foi apanhado, não podemos saber se são meros imigrantes à procura de melhor vida na Europa ou se são mesmo homens perigosos. O que sabemos é que o aeroporto, onde não pode entrar um passageiro com uma garrafa de água, parece um queijo suíço, cheio de buracos por onde se pode fugir, ao que parece, com relativa facilidade.

Não haverá razões para alarmismos desnecessários. Pode ser que tudo corra bem, mas a ministra da Administração Interna tem de estar preocupada. É que duas das fugas aconteceram já depois de o governo ter criado um grupo de trabalho especial que montou, com polícias e secretas, para evitar que estas coisas acontecessem. Estão no grupo a PSP, o SEF, a PJ e o SIS. É muita gente. Gente suficiente para que ninguém tenha de assumir responsabilidades. Se ninguém as assume, é certo e sabido que a responsabilidade acabará por ter de ser assumida por quem tutela estas polícias e estes serviços. Vamos lá ver se é desta que não passa mais ninguém.

30 DE SETEMBRO DE 2016
00:01
Paulo Baldaia
Diário de Notícias