Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 73 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 73 visitantes :: 2 motores de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
Caro cliente, sei mais sobre si do que você imagina
Página 1 de 1
Caro cliente, sei mais sobre si do que você imagina
Os desafios para os reguladores são óbvios. Que questões endereçar e em que sentido é o que importa definir. Até onde deixar o mercado e a tecnologia funcionarem sem interferências.
Caro leitor, se é daquelas pessoas que vai fazendo cada vez mais a sua vida online, deve estar habituado a ser reconhecido sempre que entra nos sítios da web que mais frequenta e mesmo noutros que nunca visitou. Entre a informação que fornecemos voluntariamente em sítios da Internet e nas redes sociais, e a que é recolhida sem nos apercebermos como, a “Internet” acumula e trata cada vez mais informação sobre cada um de nós. Por essa razão, a nossa experiência online tende a ser mais personalizada, o que origina vantagens mas também preocupações.
Entre as vantagens estão a publicidade direcionada aos nossos interesses, a apresentação das páginas dos sítios web que visitamos com a informação “customizada” e as recomendações de produtos que ponderamos verdadeiramente comprar ao invés de outros que nos são indiferentes. Entre as preocupações encontra-se a capacidade que as empresas que estão online têm de utilizar a informação de que dispõem sobre o cliente para alterar o preço dos produtos e serviços.
Um exemplo simples, que já vai acontecendo hoje em dia, está na venda de bilhetes de aviação online. Abrimos o nosso computador pessoal e simulamos a reserva de uma viagem, sem, no entanto, a consumar. Numa das vezes seguintes que abrimos o computador para simular a mesma viagem, o preço já subiu. No entanto, se fizermos a operação de um equipamento diferente e/ou num outro local, é possível que ainda se mantenha. Na verdade, a companhia de aviação sabe que o utilizador já visitou o seu site algumas vezes mas ainda não comprou o bilhete, pelo que aumenta o preço para o pressionar a comprar rapidamente para evitar outros aumentos. No entanto, o utilizador que visita o mesmo site pela primeira vez e simula a mesma viagem num outro terminal, tem um preço mais reduzido. Isto só é possível porque a companhia de aviação tem dados sobre o nosso comportamento que não teria se entrássemos anonimamente num dos seus balcões de rua e pedíssemos informações.
O mesmo pode suceder com outros serviços que nos dão a comodidade do online. Se entrarmos num táxi convencional, o preço é igual para todos. Nas plataformas digitais pode não ser necessariamente assim. Recentemente, numa entrevista ao jornal Telegraph, o diretor de investigação económica da Uber reconhecia que a plataforma sabe quando o utilizador está sem bateria no telemóvel e sabe também que nestas situações está disposto a pagar um preço mais alto pela viagem. A empresa garante que, apesar de possuir esta informação, não aumenta o preço. Mas, e se aumentasse? E se a livraria online presumir o nosso poder económico com base no histórico de compras (ou no cartão de crédito registado, ou noutra informação a que tenha acesso) e nos pedir mais por um livro do que a outro visitante que presume menos abastado. Os exemplos podem multiplicar-se.
A transição para o digital e a inerente maior informação sobre o cliente que proporciona permite às empresas diferenciar o preço de forma mais precisa. Aquilo que antes era feito de forma “arcaica”, por exemplo, praticando preços mais altos para a população ativa e mais baixos para jovens e idosos, pode agora ser levado a cabo de modo mais certeiro.
Claro que se colocam aqui várias questões, entre as quais as relativas à legitimidade e admissibilidade da discriminação de preços. A teoria económica identifica-lhe efeitos ambíguos pelo que proibições ‘tout court’ são perigosas e indesejáveis. Se, por um lado, há um tema de potencial injustiça para quem paga mais, por outro, a discriminação pode também permitir aumentos de vendas como um todo, viabilizando assim o acesso a produtos ou a serviços por parte de grupos de consumidores que, de outra forma, poderiam não ter capacidade para os adquirir.
O tema é complexo e suscitam-se questões de privacidade, de concorrência e de proteção do consumidor, entre outras. Os desafios para os reguladores são óbvios. Que questões endereçar e em que sentido é o que importa definir. Até onde deixar o mercado e a tecnologia funcionarem sem interferências. Se há algo que neste momento, em vésperas da Web Summit, faz sentido não perder de vista, é que a ação regulatória deve ser convenientemente amadurecida e coordenada de forma a termos mercados digitais mais seguros e vantajosos para o consumidor. A reflexão neste domínio está já em curso em diversos fóruns internacionais e por iniciativa de reguladores de outros países. Seria interessante que Portugal apanhasse a carruagem dianteira e não ficasse atrás.
Ricardo Junqueiro, Advogado
00:08
Jornal Económico
Caro leitor, se é daquelas pessoas que vai fazendo cada vez mais a sua vida online, deve estar habituado a ser reconhecido sempre que entra nos sítios da web que mais frequenta e mesmo noutros que nunca visitou. Entre a informação que fornecemos voluntariamente em sítios da Internet e nas redes sociais, e a que é recolhida sem nos apercebermos como, a “Internet” acumula e trata cada vez mais informação sobre cada um de nós. Por essa razão, a nossa experiência online tende a ser mais personalizada, o que origina vantagens mas também preocupações.
Entre as vantagens estão a publicidade direcionada aos nossos interesses, a apresentação das páginas dos sítios web que visitamos com a informação “customizada” e as recomendações de produtos que ponderamos verdadeiramente comprar ao invés de outros que nos são indiferentes. Entre as preocupações encontra-se a capacidade que as empresas que estão online têm de utilizar a informação de que dispõem sobre o cliente para alterar o preço dos produtos e serviços.
Um exemplo simples, que já vai acontecendo hoje em dia, está na venda de bilhetes de aviação online. Abrimos o nosso computador pessoal e simulamos a reserva de uma viagem, sem, no entanto, a consumar. Numa das vezes seguintes que abrimos o computador para simular a mesma viagem, o preço já subiu. No entanto, se fizermos a operação de um equipamento diferente e/ou num outro local, é possível que ainda se mantenha. Na verdade, a companhia de aviação sabe que o utilizador já visitou o seu site algumas vezes mas ainda não comprou o bilhete, pelo que aumenta o preço para o pressionar a comprar rapidamente para evitar outros aumentos. No entanto, o utilizador que visita o mesmo site pela primeira vez e simula a mesma viagem num outro terminal, tem um preço mais reduzido. Isto só é possível porque a companhia de aviação tem dados sobre o nosso comportamento que não teria se entrássemos anonimamente num dos seus balcões de rua e pedíssemos informações.
O mesmo pode suceder com outros serviços que nos dão a comodidade do online. Se entrarmos num táxi convencional, o preço é igual para todos. Nas plataformas digitais pode não ser necessariamente assim. Recentemente, numa entrevista ao jornal Telegraph, o diretor de investigação económica da Uber reconhecia que a plataforma sabe quando o utilizador está sem bateria no telemóvel e sabe também que nestas situações está disposto a pagar um preço mais alto pela viagem. A empresa garante que, apesar de possuir esta informação, não aumenta o preço. Mas, e se aumentasse? E se a livraria online presumir o nosso poder económico com base no histórico de compras (ou no cartão de crédito registado, ou noutra informação a que tenha acesso) e nos pedir mais por um livro do que a outro visitante que presume menos abastado. Os exemplos podem multiplicar-se.
A transição para o digital e a inerente maior informação sobre o cliente que proporciona permite às empresas diferenciar o preço de forma mais precisa. Aquilo que antes era feito de forma “arcaica”, por exemplo, praticando preços mais altos para a população ativa e mais baixos para jovens e idosos, pode agora ser levado a cabo de modo mais certeiro.
Claro que se colocam aqui várias questões, entre as quais as relativas à legitimidade e admissibilidade da discriminação de preços. A teoria económica identifica-lhe efeitos ambíguos pelo que proibições ‘tout court’ são perigosas e indesejáveis. Se, por um lado, há um tema de potencial injustiça para quem paga mais, por outro, a discriminação pode também permitir aumentos de vendas como um todo, viabilizando assim o acesso a produtos ou a serviços por parte de grupos de consumidores que, de outra forma, poderiam não ter capacidade para os adquirir.
O tema é complexo e suscitam-se questões de privacidade, de concorrência e de proteção do consumidor, entre outras. Os desafios para os reguladores são óbvios. Que questões endereçar e em que sentido é o que importa definir. Até onde deixar o mercado e a tecnologia funcionarem sem interferências. Se há algo que neste momento, em vésperas da Web Summit, faz sentido não perder de vista, é que a ação regulatória deve ser convenientemente amadurecida e coordenada de forma a termos mercados digitais mais seguros e vantajosos para o consumidor. A reflexão neste domínio está já em curso em diversos fóruns internacionais e por iniciativa de reguladores de outros países. Seria interessante que Portugal apanhasse a carruagem dianteira e não ficasse atrás.
Ricardo Junqueiro, Advogado
00:08
Jornal Económico
Tópicos semelhantes
» O principal cliente, a MSC, "está vinculado", mas se você a reduzir custos pode levantar "MOVE" - Noatum: estiva em Valência é 50% mais caro do que os seus portos concorrentes
» Um iate de luxo é o 6º mais caro visitou o Porto de Sines
» Portugal é o sétimo País da Europa com o gasóleo mais caro (antes de impostos)
» Um iate de luxo é o 6º mais caro visitou o Porto de Sines
» Portugal é o sétimo País da Europa com o gasóleo mais caro (antes de impostos)
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin