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Quem com ferro mata
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Quem com ferro mata
A ameaça do Sindicato Nacional dos Motoristas, a concretizar-se, criará um facto político novo na Democracia portuguesa: um sindicato fazer uma manifestação contra o PCP.
Um episódio político recente que mereceu pouca atenção dos analistas é o da Carris, que o Governo resolveu dar à Câmara Municipal de Lisboa. Ora, o PCP contesta esta decisão do executivo, e reclama a sua apreciação parlamentar, seja lá para o que isso sirva, como aliás serviram outras apreciações parlamentares. Ora, esta contestação do PCP está a ser fortemente criticada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas, que ameaça até fazer uma manifestação à porta do PCP, o que criará um facto político novo na Democracia portuguesa: um sindicato fazer uma manifestação contra o Partido Comunista. Evidentemente que tal manifestação, a acontecer, fará correr tinta, mas o facto principal ficará seguramente na penumbra: por que se expõe o Partido Comunista a ter um sindicato contra si, até porque ninguém vai acreditar que o sindicato não fez a sua mensagem chegar ao Partido, e este ignorou-a. Porquê?
Isto fará discorrer longamente o Dr. Pacheco, o Dr. Coelho (o do PS) e o Dr. Xavier, mas creio que todos eles evitarão ir ao fundo da questão, até porque já tiveram os seus envolvimentos partidários. A explicação está num facto conhecido, mas escondido, parcamente estudado: trata-se de masoquismo político, na vertente lacaniana (de Jacques Lacan, psicanalista e investigador francês), que Filip Kovacevic define no seu ‘Masochism in political behavior: a Lacanian perspective’, publicado no International Journal of Applied Psychoanalytic Studies, como “qualquer comportamento político no qual o protagonista se autoinflige de boa vontade dor e sofrimento para atingir os seus objetivos políticos”. E não vale a pena pensarmos que o desenvolvimento social nos vai libertar disto, pois já Rousas Rushdoony sustentou que “o crescimento da prosperidade e o desenvolvimento cultural só vão aumentar o desejo masoquista de pagar pelo progresso”. Ou seja, nesta matéria o PC é como os outros e como a sociedade: quanto mais me bates…
A experiência do governo Coelho e do atual PSD são nada mais que prova disto. Fora de Portugal, a eleição de Trump pelos americanos fica também explicada, embora se possa demonstrar que na verdade os EUA são sadomasoquistas: querem magoar-se, mas querem fazer doer ao Mundo inteiro. “É isto racional?”, podemos perguntar-nos. Sim, pois há gente que faz tudo por um voto. Como disse H. L. Mecken, ‘there are two kinds of income recipients in the world: people who work for a living, and people who vote for a living.’
Aliás, o episódio Carris ilustra mais uma característica do PC: é um partido masculino. Edward Hirt, da Universidade de Indiana demonstrou que nesta coisa de nos autopunirmos, os homens têm maior tendência de dar um tiro no pé que as mulheres – o que, diga-se, replica o que acontece no caso dos “verdadeiros” tiros nos pés: dos 667 autoinfligidos registados nos EUA entre 1993 e 2013, 89,6% foram-nos por homens.
Em síntese, podemos assentar que o Partido Comunista Português é masoquista, e até que é masculino. Mas não é burro.
Nota biográfica: Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, ativista e lutador político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de “escutar às portas”. Abandona a política em 1999, deixando Praga para residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque “gostaria de viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros.”
Hemp Lastru
10:05
Jornal Económico
Um episódio político recente que mereceu pouca atenção dos analistas é o da Carris, que o Governo resolveu dar à Câmara Municipal de Lisboa. Ora, o PCP contesta esta decisão do executivo, e reclama a sua apreciação parlamentar, seja lá para o que isso sirva, como aliás serviram outras apreciações parlamentares. Ora, esta contestação do PCP está a ser fortemente criticada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas, que ameaça até fazer uma manifestação à porta do PCP, o que criará um facto político novo na Democracia portuguesa: um sindicato fazer uma manifestação contra o Partido Comunista. Evidentemente que tal manifestação, a acontecer, fará correr tinta, mas o facto principal ficará seguramente na penumbra: por que se expõe o Partido Comunista a ter um sindicato contra si, até porque ninguém vai acreditar que o sindicato não fez a sua mensagem chegar ao Partido, e este ignorou-a. Porquê?
Isto fará discorrer longamente o Dr. Pacheco, o Dr. Coelho (o do PS) e o Dr. Xavier, mas creio que todos eles evitarão ir ao fundo da questão, até porque já tiveram os seus envolvimentos partidários. A explicação está num facto conhecido, mas escondido, parcamente estudado: trata-se de masoquismo político, na vertente lacaniana (de Jacques Lacan, psicanalista e investigador francês), que Filip Kovacevic define no seu ‘Masochism in political behavior: a Lacanian perspective’, publicado no International Journal of Applied Psychoanalytic Studies, como “qualquer comportamento político no qual o protagonista se autoinflige de boa vontade dor e sofrimento para atingir os seus objetivos políticos”. E não vale a pena pensarmos que o desenvolvimento social nos vai libertar disto, pois já Rousas Rushdoony sustentou que “o crescimento da prosperidade e o desenvolvimento cultural só vão aumentar o desejo masoquista de pagar pelo progresso”. Ou seja, nesta matéria o PC é como os outros e como a sociedade: quanto mais me bates…
A experiência do governo Coelho e do atual PSD são nada mais que prova disto. Fora de Portugal, a eleição de Trump pelos americanos fica também explicada, embora se possa demonstrar que na verdade os EUA são sadomasoquistas: querem magoar-se, mas querem fazer doer ao Mundo inteiro. “É isto racional?”, podemos perguntar-nos. Sim, pois há gente que faz tudo por um voto. Como disse H. L. Mecken, ‘there are two kinds of income recipients in the world: people who work for a living, and people who vote for a living.’
Aliás, o episódio Carris ilustra mais uma característica do PC: é um partido masculino. Edward Hirt, da Universidade de Indiana demonstrou que nesta coisa de nos autopunirmos, os homens têm maior tendência de dar um tiro no pé que as mulheres – o que, diga-se, replica o que acontece no caso dos “verdadeiros” tiros nos pés: dos 667 autoinfligidos registados nos EUA entre 1993 e 2013, 89,6% foram-nos por homens.
Em síntese, podemos assentar que o Partido Comunista Português é masoquista, e até que é masculino. Mas não é burro.
Nota biográfica: Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, ativista e lutador político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de “escutar às portas”. Abandona a política em 1999, deixando Praga para residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque “gostaria de viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros.”
Hemp Lastru
10:05
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