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Nascer num mundo e viver noutro
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Nascer num mundo e viver noutro
A maioria dos profissionais que hoje lidera organizações nasceu num mundo com pouco mais de 3.000 milhões de pessoas. Hoje a população mundial é mais do dobro. É fácil encontrar pessoas com 90 anos e mesmo com 100 anos.
Há uns anos, na festa do 105.º aniversário de um ex-governante português, uma jornalista perguntou ao aniversariante qual era o segredo para viver tanto tempo? "Sabe menina, deixei de fumar muito cedo." Perguntou então a repórter: "Quando deixou de fumar?" "Aos 75", foi a resposta.
Isto não acontece com o simples passar do tempo. Como diria La Palice, vive-se mais porque se morre menos. A esperança média de vida à nascença em Portugal é hoje de 83 anos para as mulheres e 78 para os homens. Em inícios do século XX, nos Estados Unidos essa marca estava nos 48 anos. Na Europa, em 1800, há duzentos anos, estima-se que não ultrapassasse os 37 anos. Para não falarmos da Grécia antiga, onde Platão chegou aos 80 anos, mas onde a maioria não passava dos 30. Ou no antigo Egipto, onde a esperança de vida se ficava pelos 25 anos de idade.
A medicina, os cuidados de saúde, o conhecimento sobre a vida saudável e sobretudo a institucionalização de sociedades que promove o bem-estar e a vida digna mudaram o mundo nestas. No século XXI já se criou mais conhecimento, mais ciência e tecnologia do que em toda a história da humanidade anterior. A ciência já gerou mais descobertas, novidades e mudanças do que toda a ciência dos séculos anteriores. Mais de 90 por cento do conhecimento científico foi gerado nos últimos 15 anos.
Mais de 90 por cento da informação criada hoje em dia, em cada dia, nunca mais vai ser acedida por ninguém. Estima-se que a humanidade acumulou 180 exabytes de informação entre a invenção da escrita, há mais de 4.000 anos, e os inícios do século XXI. Um exabyte é igual a 1 milhão de terabytes; um terabyte são 1.000 gigabytes; ou seja, 1 exabyte é o número 1 seguido por 18 zeros. Pois bem, 180 exabytes desde sempre até a inícios do século XXI e umas dez a vinte vezes esse valor a cada par de anos hoje em dia, uns 1.000 ou 2.000 exabytes por ano.
Em cada dia são gerados dados, textos, números, fotografias, vídeos, etc., suficientes para encher todas as bibliotecas do mundo, várias vezes. Desde 2007 o mundo gera mais informação do que a que tem capacidade para guardar, afirma Luciano Floridi, na revista Philosophy and Technology. É um dos problemas do mundo de hoje: apagar informação, o "delete" dos textos, das fotografias e dos vídeos. Não é só cada um de nós que tem pouco espaço no telemóvel ou no computador; é toda a gente. Não há memória suficiente para tanta informação. Não há memória.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
Fernando Ilharco
02 de março de 2017 às 20:25
Negócios
Há uns anos, na festa do 105.º aniversário de um ex-governante português, uma jornalista perguntou ao aniversariante qual era o segredo para viver tanto tempo? "Sabe menina, deixei de fumar muito cedo." Perguntou então a repórter: "Quando deixou de fumar?" "Aos 75", foi a resposta.
Isto não acontece com o simples passar do tempo. Como diria La Palice, vive-se mais porque se morre menos. A esperança média de vida à nascença em Portugal é hoje de 83 anos para as mulheres e 78 para os homens. Em inícios do século XX, nos Estados Unidos essa marca estava nos 48 anos. Na Europa, em 1800, há duzentos anos, estima-se que não ultrapassasse os 37 anos. Para não falarmos da Grécia antiga, onde Platão chegou aos 80 anos, mas onde a maioria não passava dos 30. Ou no antigo Egipto, onde a esperança de vida se ficava pelos 25 anos de idade.
A medicina, os cuidados de saúde, o conhecimento sobre a vida saudável e sobretudo a institucionalização de sociedades que promove o bem-estar e a vida digna mudaram o mundo nestas. No século XXI já se criou mais conhecimento, mais ciência e tecnologia do que em toda a história da humanidade anterior. A ciência já gerou mais descobertas, novidades e mudanças do que toda a ciência dos séculos anteriores. Mais de 90 por cento do conhecimento científico foi gerado nos últimos 15 anos.
Mais de 90 por cento da informação criada hoje em dia, em cada dia, nunca mais vai ser acedida por ninguém. Estima-se que a humanidade acumulou 180 exabytes de informação entre a invenção da escrita, há mais de 4.000 anos, e os inícios do século XXI. Um exabyte é igual a 1 milhão de terabytes; um terabyte são 1.000 gigabytes; ou seja, 1 exabyte é o número 1 seguido por 18 zeros. Pois bem, 180 exabytes desde sempre até a inícios do século XXI e umas dez a vinte vezes esse valor a cada par de anos hoje em dia, uns 1.000 ou 2.000 exabytes por ano.
Em cada dia são gerados dados, textos, números, fotografias, vídeos, etc., suficientes para encher todas as bibliotecas do mundo, várias vezes. Desde 2007 o mundo gera mais informação do que a que tem capacidade para guardar, afirma Luciano Floridi, na revista Philosophy and Technology. É um dos problemas do mundo de hoje: apagar informação, o "delete" dos textos, das fotografias e dos vídeos. Não é só cada um de nós que tem pouco espaço no telemóvel ou no computador; é toda a gente. Não há memória suficiente para tanta informação. Não há memória.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
Fernando Ilharco
02 de março de 2017 às 20:25
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