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"Dêem cabo do papagaio!"
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"Dêem cabo do papagaio!"
"Viajam em económica? A culpa é do papagaio. Shoot the Parrot", incitava o consultor financeiro. Bora lá
O consultor de investimentos de uma prestigiada instituição bancária inglesa entrou na sala onde um grupo de pessoas com mais de 50, para sermos mais precisos com mais de 60, esperava conselhos sobre como aplicar as suas poupanças. Reformados, sobretudo, classe média, média alta, com algum dinheiro posto de parte, obviamente.
O homem correu com o olhar a assistência e disparou, desarmando-os a todos: "Gastem, gastem tudo o que puderem." E com uma lata incrível acrescentou: "Também não têm muito tempo para o fazer."
Os "velhinhos" riram às gargalhadas. Felizmente o humor britânico salva-os de se ofenderem com facilidade.
O consultor voltou ao ataque: "Digo- -vos porque não conseguem gastar - é por causa do papagaio. Mas é preciso abater o papagaio" (shoot the Parrot, no original, tem mais graça).
Decidiu consolidar a tese, com exemplos: "Vão fazer uma viagem à Austrália. Visitar um filho. Viajam em executiva? Não, preferem a classe económica porque assim poupam mil euros. Precisam desses mil euros nesta fase da vida? Não, não precisam. Mas o papagaio não deixa! E com os dedos da mão imitou uma boca a falar perto do ouvido. "O papagaio começa: 'É um exagero o que te passou pela cabeça, devemos poupar, pode ainda ser preciso! Que disparate, mil euros para dormir melhor quando até tens insónias?'"
A assistência reconhece-se imediatamente na situação. E reconhece o papagaio desmancha-prazeres, que os matraqueia todos os dias, a cada compra, a cada luxo que se permitem, de cada vez que decidem gastar consigo próprios um bocadinho do dinheiro que ganharam com o seu trabalho, o seu esforço. "E exactamente para quê?", pergunta o investidor, e dá a resposta que todos têm na ponta da língua: "Para terem uma vida confortável quando houvesse tempo para isso. Para hoje."
2. Delirei com este relato, que me foi feito por uma das pessoas da assistência. Um homem como aquele é um artista, e é certo e seguro que todos os presentes saíram dali a confiar-lhes as poupanças. Os papagaios de que fala temos todos nós às dúzias, gaiolas cheias deles. Papagaios, alter egos, grilos, aquilo que lhes quisermos chamar, vozes que incitam a que se pense sempre primeiro no dia de amanhã e só depois no de hoje, que nos garantem que vale a pena cumprir os deveres antes de ambicionar os prazeres...
É evidente que temos medo do futuro, sobretudo quando estamos cada vez mais seguros de que não vai haver um Estado que nos entregue todos os meses uma quantia certa, não sujeita a desvalorizações. E só os loucos não guardam, podendo fazê-lo, para a doença, para o hospital, para o lar, na ânsia de não sobrecarregarem um dia mais tarde os seus filhos.
Mas este papagaio papagueia muito para lá da razoabilidade. Este papagaio serve a ideia de que os mais velhos não têm direito a "esbanjar", a ter caprichos, a luxos. Não aceitam que merecem, não aceitam que o dinheiro pode ajudar à felicidade.
O discurso oficial, e que alguns filhos adoptam, quais perfeitos papagaios, não ajuda: prega que já é tarde, que agora não vale a pena, que a saúde não aconselha.
Para que precisa o pai de um carro que anda depressa quando pode escolher um modelo barato e seguro? Para que quer a mãe uma mala de pele se já tem tantas? E qual é a sensatez de embarcarem num cruzeiro quando a qualquer momento podem ter um enfarte?
E depois vem a chantagem: para que vão gastar em hotéis caros em Paris se os netos beneficiavam muito mais de uma experiência na neve, ou de um campo de férias em Londres?
Por outras palavras, papagueiam na lógica do Supremo Tribunal Administrativo: o prazer, ou a ausência dele, em quem tem mais de 50 anos, não conta nem metade daquele que se pode ter aos 20. Ou aos 30. Por isso siga o conselho do consultor e mate o papagaio. Com os tiros que for preciso.
Jornalista
Escreve ao sábado
Por Isabel Stilwell
publicado em 25 Out 2014 - 05:00
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