Quem sabe, sabe. E o "mon ami Mitterrand" é que sabia!

Os Ingleses não gostam dos Franceses. Os Alemães não gostam dos Franceses. Os Franceses não gostam de ninguém. Nem de alguns Franceses. Especialmente dos ricos.


Por razões históricas sobejamente conhecidas, a França e a Alemanha não são propriamente amadas e respeitadas pelos restantes países que participaram na 2ª Guerra Mundial.

Desde então que a França tenta ocupar um papel de liderança da União Europeia ("UE"), fingindo para isso há muito tempo ser o melhor amigo da Alemanha para fingir que também manda na UE. E para evitar que o Reino Unido assuma essa liderança. Conseguiu, até agora...

Longe na memória vão os tempos de guerra na Europa, mas os confrontos estão de volta. Os intervenientes são os mesmos mas com diferentes alianças.

Alemanha e Reino Unido entraram em guerra aberta com França e Itália.

Depois dos treinos militares da Alemanha de tiro ao défice orçamental a Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, com o apoio da sua velha aliada Itália e da França mais uma vez rendida, vai começar a guerra a sério.

A limpeza orçamental e a criação de um sistema financeiro superior na Europa, levam agora a Alemanha a invadir as contas públicas e a stressar os bancos Franceses e Italianos, apoiada pelo Banco Central Europeu, o seu braço armado.

A Comissão Europeia irá decidir amanhã se França e Itália estão a violar as regras do Pacto Orçamental da UE ao apresentarem orçamentos que não cumprem as metas obrigatórias do défice orçamental.

Apesar das efusivas primeiras declarações de guerra por parte de Itália para não cumprir o défice orçamental acordado com a UE, será desta vez a Itália a render-se à Alemanha e entrar em negociações após ter perdido a primeira batalha com o BCE, sofrendo 9 baixas importantes no seu sistema financeiro por stress pré-traumático de outros tantos bancos.

Desta vez a França não se renderá à Alemanha e já entrou em guerra, tendo ganho a primeira batalha com o BCE, sem nenhum stress.

E defenderá as suas contas públicas com défice acima de 3%, mais uma vez, com o armamento de ser um "país grande" e de "merecer respeito".

Já dizia Mitterrand há 25 anos, antes mesmo da queda do muro de Berlim, que seria muito perigoso conceder poderes legislativos sobre política económica e monetária a um banco central europeu independente.

Mitterrand, um dos principais arquitectos da União Económica e Monetária ("UEM"), reconhecia já na altura que a UEM seria controlada pela Alemanha devido ao seu poder económico e representatividade na Europa. Mas que isso não seria suficiente para a Alemanha controlar a política económica e monetária de cada país europeu. Dizia Mitterrand que só a criação do BCE daria esse controlo à Alemanha. E como estava certo!

Mas a Alemanha conta desta vez com o apoio do Reino Unido que não quer pagar a conta pelos Franceses. Outra vez.

A UE apresentou a conta de €2,1bi ao Reino Unido para este pagar pela sua própria prosperidade. Para sustentar a respeitável e grande França que não quer cumprir o que acordou com mais austeridade.

É talvez a pior coisa que podiam fazer aos Ingleses! Até o mais leve pensamento que o pagamento adicional pelos Ingleses poderá estar relacionado com o incumprimento dos Franceses, já tira o sono a qualquer Inglês. Como se viu pela resposta de Cameron.

Paulo Barradas |
7:00 Terça feira, 28 de outubro de 2014
Expresso