Moody’s: “A consolidação orçamental de Portugal tem de continuar por muitos, muitos anos”

A agência de “rating” diz que a notação financeira de Portugal não acompanha a da Irlanda devido à “capacidade da economia crescer”. E precisa de “ter maiores certezas” de que o crescimento assente nas exportações “terá os resultados desejados.”


“Quando levámos o rating [de Portugal] para ‘non-investment grade’ [lixo] receávamos a reestruturação da dívida”, explicou a vice-presidente e analista sénior da Moody's, Kathrin Muehlbronner, em declarações proferidas num encontro com jornalistas após uma conferência da agência de informação financeira em Lisboa.
 
A responsável salientou que apesar de Portugal ter recuperado o acesso ao mercado, “as perspectivas de crescimento e os níveis de endividamento continuam a ser uma preocupação”. A agência prevê uma “estabilização e um regresso a um crescimento moderado” da economia.
 
Kathrin Muehlbronner admite que “Portugal e outros países fizeram muito em termos de reformas estruturais e isso deverá levar a maior crescimento no futuro. A questão é quando e em que medida.”
 
“Mas ainda há muito a fazer, como alertou o FMI, a consolidação orçamental tem de continuar por muitos, muitos anos”, alerta a responsável.
 
A responsável da Moody’s rejeita fazer “recomendações ao Governos”, mas diz que “não faz muita diferença se há uma saída limpa ou uma linha cautelar”.
 
“Quando subimos o rating da Irlanda, não foi uma questão importante se o país iria ou não ter uma linha cautelar”, explicou Kathrin Muehlbronner, que recusa que a um país seja melhor do que o outro. Contudo, “o rating de Portugal não seguirá exactamente o da Irlanda, pela maior capacidade da economia de crescer. Estamos mais preocupados quanto à capacidade de Portugal de atingir um crescimento sustentável”, acrescentou.
 
“Portugal tem acesso ao mercado, temos de reconhecê-lo, tem tido a capacidade de se financiar nos mercados. No entanto, na Irlanda a diferença entre a taxa de juro (na altura) e a taxa de crescimento era inferior do que em Portugal”, acrescentou. “Seria importante ver as taxas de juro em Portugal caírem mais.”
 
“A Irlanda é uma economia mais aberta, ainda que Portugal esteja a registar um aumento das exportações, o que é um sinal positivo. Mas teremos de ter maiores certezas de que o modelo de crescimento em Portugal, através das exportações, terá os resultados desejados”, explicou a responsável que se encontra em Portugal. 
 
(Notícia actualizada às 13h09 com mais declarações)

26 Fevereiro 2014, 12:54 por Edgar Caetano | edgarcaetano@negocios.pt

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