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Acordo de comércio pode abrir portas da Europa ao gás de xisto americano
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Acordo de comércio pode abrir portas da Europa ao gás de xisto americano
O acesso a uma nova fonte de energia é uma boa notícia para a Europa, tanto para estabilizar o preço do gás natural nos mercados como em termos ambientais, com a redução do uso do carvão e da exploração de gás de xisto no Velho Continente.
A Europa e os Estados Unidos estão a negociar um acordo comercial há mais de dois anos. E o Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês) também tem um capítulo dedicado à energia e ambiente.
Mas o que têm a ganhar consumidores, empresas e governos europeus com este acordo na área de energia? O acesso a mais uma fonte de energia é uma das vantagens deste acordo. Esta fonte de energia é o gás natural de xisto dos Estados Unidos.
Isto mesmo foi defendido por vários participantes do debate sobre energia e ambiente inserido na conferência "TTIP: diálogo entre parceiros" que teve lugar esta sexta-feira, 27 de Março, em Lisboa.
"O acesso a mais uma fonte de combustível é fundamental, esse é o aspecto importante, o que está em cima deste acordo", disse Jorge Cruz de Morais da EDP.
Actualmente, a dependência europeia de energia é crítica, com 50% da energia a ser importada. Já em Portugal, 80% da energia consumida é importada.
Por isto mesmo, é "sempre vantajoso ter acesso a mais uma fonte, porque isso aumenta a criação das condições de mercado", com o gás norte-americano em condições de tornar-se num "concorrente ao gás da ex-União Soviética e do Qatar".
Neste momento estão em execução vários terminais de liquefacção na Europa e "quantos mais pontos de entregas de gás houver, mais o preço vai estabilizar, mais segurança de abastecimento existe".
O também presidente da Associação Portuguesa de Energia (APE) sublinha assim a importância destes projectos para os preços do gás natural. "O petróleo tem um preço instantâneo que é colocado em todo o mundo com a mesma de referência de preço, o gás ainda não é assim mas tenderá a ser se houver mais pontos de entrega".
Contudo, apesar de reconhecer que é positivo ter uma fonte de energia extra, apontou uma desvantagem: os elevados custos de transporte. "No caso do gás, viaja caro, não existem pipelines a atravessar o Atlântico".
O milhão de BTU (unidade de medida térmica) é negociado nos Estados Unidos a quatro dólares e transportá-lo para a Europa custa cinco dólares. "Se o gás sai de lá a quatro dólares, chega aqui a nove dólares, o que é mais ou menos o preço do gás aqui na Península Ibérica".
Também o líder da Endesa considera que esta é uma oportunidade para a Europa, incluindo em termos ambientais, com a redução do uso do carvão. "Nós aqui na Europa queimamos carvão em quantidades colossais como nunca se queimou, essencialmente porque o gás natural está muito caro", disse Nuno Ribeiro da Silva.
E explicou a actual situação. Como os Estados Unidos têm muito gás de xisto disponível, o carvão deixou de ser utilizado. Desta forma, as empresas do ramo carbonífero dos Estados Unidos "ficaram sem o seu cliente 'in house'" e lançaram na Bacia Atlântica carvão a preços muito baratos".
Isto levou "a Europa a queimar carvão, o que é muito mais agressivo para o ambiente", apontou o CEO da Endesa Portugal, dando o exemplo dos preços entre os dois lados do Atlântico.
Nuno Ribeiro da Silva defende assim que o gás de xisto norte-americano é bom para a Europa. Primeiro, porque é a "melhor maneira de afastar o carvão do índice de combustíveis para a produção de electricidade" e depois porque a "melhor maneira de diminuir a pressão para explorar gás de xisto na Europa é abrir, forçar ou seduzir os Estados Unidos a abrir as exportações de gás de xisto para a Europa", cuja tendência actualmente é desenvolver a sua própria produção.
Por outro lado, o líder da Endesa sublinhou também a importância da "posição estratégica" de Portugal, com os barcos de gás natural liquefeito (GNL) a "entrarem pelo terminal de Sines" e "reforçarem os argumentos para a importância deste flanco ocidental na Europa para a injecção de gás no topo europeu e diminuir a importância dos abastecimentos russos ou de outras zonas críticas".
27 Março 2015, 20:33 por André Cabrita-Mendes | andremendes@negocios.pt
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