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Razões para o divórcio "da política"
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Razões para o divórcio "da política"
O facto é que há cada vez menos eleitores a participar na festa da democracia e cada vez mais, entre os que participam, a votar branco ou nulo. Há muitas teorias a explicar este facto, mas nenhuma se sobrepõe à ideia de que os eleitores confiam cada vez menos nos eleitos. É transversal o preconceito de que eles são todos iguais, mas quando se prolonga um pouco mais a conversa percebe-se que o "todos" diz quase exclusivamente respeito aos partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS), aqueles que se libertaram da ideologia para se agarrarem ao pragmatismo mas que, mesmo assim, são incapazes de assumir antecipadamente o mínimo compromisso.
Percebe-se que, em pré-campanha eleitoral, todos neguem a possibilidade de um entendimento alargado entre quem teve a responsabilidade de governar Portugal nos últimos 40 anos. Eles não querem parecer iguais. Afinal, se há cada vez mais gente a acreditar que não está nada de substancial em causa quando somos chamados a votar, é natural que haja cada vez menos gente a dar-se ao trabalho de o fazer. Por outro lado, se há cada vez mais partidos e movimentos a apresentar-se contra o sistema, é natural que os eleitores descontentes, mas que ainda assim desejam votar, o façam nesses partidos.
Regressando aos partidos do arco da governação, em que o voto é feito com uma expectativa acrescida de que conte para a escolha do governo. O afastamento dos eleitores tem tendência para crescer quando a diferença entre estes partidos está cada vez mais centrada na escolha do líder. Se há cada vez menos ideologia e cada vez mais o culto da personalidade, a consequência óbvia é que numa sociedade onde parecemos todos cada vez mais iguais, no pior dos sentidos, os eleitores considerem que não há diferença entre estes partidos. Podem os actuais líderes fazer juras de ódio ao bloco central, tentando assim evitar serem vistos como fazendo parte do mesmo problema, mas os eleitores percebem que lhes estão a atirar areia para os olhos.
O que devia distingui-los é a ideologia, a defesa de um modelo de sociedade mais justo, a convicção de que governar não é apenas fazer a gestão corrente. Com a ausência de compromissos, sem expectativas de que ele possa vir a acontecer, os partidos do arco da governação estão a dizer aos eleitores que não são capazes de tomar decisões que influenciem positivamente a vida do país, mesmo que apenas num momento em que os políticos agora no activo tenham democraticamente cedido o poder a outros. Quanto mais os eleitores se afastam deles, mais eles os empurram para longe, com a suprema arrogância de quererem dizer como se pode e não se pode votar. Em democracia, a soberania é exercida pelo povo. Convém que não se esqueçam disso.
por PAULO BALDAIA
17/05/2015
Diário de Notícias
Percebe-se que, em pré-campanha eleitoral, todos neguem a possibilidade de um entendimento alargado entre quem teve a responsabilidade de governar Portugal nos últimos 40 anos. Eles não querem parecer iguais. Afinal, se há cada vez mais gente a acreditar que não está nada de substancial em causa quando somos chamados a votar, é natural que haja cada vez menos gente a dar-se ao trabalho de o fazer. Por outro lado, se há cada vez mais partidos e movimentos a apresentar-se contra o sistema, é natural que os eleitores descontentes, mas que ainda assim desejam votar, o façam nesses partidos.
Regressando aos partidos do arco da governação, em que o voto é feito com uma expectativa acrescida de que conte para a escolha do governo. O afastamento dos eleitores tem tendência para crescer quando a diferença entre estes partidos está cada vez mais centrada na escolha do líder. Se há cada vez menos ideologia e cada vez mais o culto da personalidade, a consequência óbvia é que numa sociedade onde parecemos todos cada vez mais iguais, no pior dos sentidos, os eleitores considerem que não há diferença entre estes partidos. Podem os actuais líderes fazer juras de ódio ao bloco central, tentando assim evitar serem vistos como fazendo parte do mesmo problema, mas os eleitores percebem que lhes estão a atirar areia para os olhos.
O que devia distingui-los é a ideologia, a defesa de um modelo de sociedade mais justo, a convicção de que governar não é apenas fazer a gestão corrente. Com a ausência de compromissos, sem expectativas de que ele possa vir a acontecer, os partidos do arco da governação estão a dizer aos eleitores que não são capazes de tomar decisões que influenciem positivamente a vida do país, mesmo que apenas num momento em que os políticos agora no activo tenham democraticamente cedido o poder a outros. Quanto mais os eleitores se afastam deles, mais eles os empurram para longe, com a suprema arrogância de quererem dizer como se pode e não se pode votar. Em democracia, a soberania é exercida pelo povo. Convém que não se esqueçam disso.
por PAULO BALDAIA
17/05/2015
Diário de Notícias
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