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Os ridículos que até fazem declarações de amor
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Os ridículos que até fazem declarações de amor
O atleta João Marinho desapareceu há meses algures nos Picos da Europa, nas Astúrias, e só há dias o seu corpo foi encontrado. Podem aqueles que o amaram em vida fechar, finalmente, o círculo da vida e da morte.
Não o conheci, fui-o "conhecendo" por tudo o que sobre ele foi contando Bárbara Baldaia no Facebook. Numa escrita lindíssima e enxuta como os músculos de um corredor de longo curso, deixa falar todo o coração, e deixa sem fala quem lê. Fez o luto através da pena (e com que beleza e suavidade o fez) e através do programa TSF Runners, onde (re)deu voz a João Marinho e escreveu "com amor na ponta dos dedos".
Se calhar, houve quem criticasse. Por mim, achei infinitamente bem, porque me sinto pequeno perante quem não tem medo de declarar o amor.
Pudesse, por isso, e impunha (a sério) um novo direito fundamental. Que cada um tivesse o direito, e o exercesse, de receber e fazer uma declaração de amor, mesmo daquelas malucas, arrebatadas, atabalhoadas, trapalhonas ou comoventes. Tonta como podem todas ser aos olhos de quem não amou ou não ama.
Miguel Esteves Cardoso é um praticante convicto, e aqui o invoco. A propósito ou nem tanto, diz-nos o amor que sente pela mulher que ama, e faz sempre bem, porque o amor se diz sempre bem. Richard Zimler é outro "maluco", também declara no Facebook o amor que sente pelo marido. Que coisa tão ridícula, mas que horror!
De facto, não é isto tido como de bom tom, como não o é o beijo em público ou outras expressões físicas de afeto - nada de especialmente pecaminoso, descansem as cabeças mais complicadas. Em três palavrinhas hipocritazinhas: não se faz.
Circula por aí, como se fosse escrito à mão, o poema de Pessoa sobre as cartas de amor, aquelas que em 2015 se escrevem nas redes sociais. O homem começa por dizer que "as cartas de amor, se há amor, têm que ser ridículas". Mas depois exprime a verdade mais verdadeira: "só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas".
Pessoa disse, está dito.Obrigado, Bárbara Baldaia.P.S. Como é verão, escrevi sobre esta coisa "ridícula" do amor, não sobre o que é realmente importante. Apesar de estar longe, digam a verdade e não me escondam nada, por favor: a senhora do cartaz do PS está mesmo desempregada desde o tempo de Sócrates?
Não o conheci [João Marinho], fui-o "conhecendo" por tudo o que sobre ele foi contando Bárbara Baldaia no Facebook. Numa escrita lindíssima e enxuta como os músculos de um corredor de longo curso, deixa falar todo o coração, e deixa sem fala quem lê.
09.08.2015
AZEREDO LOPES
Jornal de Notícias
Não o conheci, fui-o "conhecendo" por tudo o que sobre ele foi contando Bárbara Baldaia no Facebook. Numa escrita lindíssima e enxuta como os músculos de um corredor de longo curso, deixa falar todo o coração, e deixa sem fala quem lê. Fez o luto através da pena (e com que beleza e suavidade o fez) e através do programa TSF Runners, onde (re)deu voz a João Marinho e escreveu "com amor na ponta dos dedos".
Se calhar, houve quem criticasse. Por mim, achei infinitamente bem, porque me sinto pequeno perante quem não tem medo de declarar o amor.
Pudesse, por isso, e impunha (a sério) um novo direito fundamental. Que cada um tivesse o direito, e o exercesse, de receber e fazer uma declaração de amor, mesmo daquelas malucas, arrebatadas, atabalhoadas, trapalhonas ou comoventes. Tonta como podem todas ser aos olhos de quem não amou ou não ama.
Miguel Esteves Cardoso é um praticante convicto, e aqui o invoco. A propósito ou nem tanto, diz-nos o amor que sente pela mulher que ama, e faz sempre bem, porque o amor se diz sempre bem. Richard Zimler é outro "maluco", também declara no Facebook o amor que sente pelo marido. Que coisa tão ridícula, mas que horror!
De facto, não é isto tido como de bom tom, como não o é o beijo em público ou outras expressões físicas de afeto - nada de especialmente pecaminoso, descansem as cabeças mais complicadas. Em três palavrinhas hipocritazinhas: não se faz.
Circula por aí, como se fosse escrito à mão, o poema de Pessoa sobre as cartas de amor, aquelas que em 2015 se escrevem nas redes sociais. O homem começa por dizer que "as cartas de amor, se há amor, têm que ser ridículas". Mas depois exprime a verdade mais verdadeira: "só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas".
Pessoa disse, está dito.Obrigado, Bárbara Baldaia.P.S. Como é verão, escrevi sobre esta coisa "ridícula" do amor, não sobre o que é realmente importante. Apesar de estar longe, digam a verdade e não me escondam nada, por favor: a senhora do cartaz do PS está mesmo desempregada desde o tempo de Sócrates?
Não o conheci [João Marinho], fui-o "conhecendo" por tudo o que sobre ele foi contando Bárbara Baldaia no Facebook. Numa escrita lindíssima e enxuta como os músculos de um corredor de longo curso, deixa falar todo o coração, e deixa sem fala quem lê.
09.08.2015
AZEREDO LOPES
Jornal de Notícias
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