A economia é o principal motor das escolhas eleitorais?

Durante a legislatura que agora termina, falou-se muito de dinheiro, mas pouco de economia, enquanto objecto de estudo ou ciência. Para ver que assim foi, basta recordar os erros de palmatória dos economistas que estiveram no Governo ou que o apoiaram, a quantidade de não especialistas que sobre o assunto se pronunciaram e a ausência quase total de conversas sobre o que verdadeiramente interessa à economia, a saber: trabalho, conhecimento, investimento, tecnologia e organização.

A campanha eleitoral está mais uma vez apanhada pelas conversas sobre o dinheiro. Na verdade, os temas são ainda: se a segurança social é sustentável, se a TSU baixa ou sobe, se há buraco nas reformas, se se pode ir buscar dinheiro mais aqui ou mais ali. Existe um pretexto relativamente válido para que tal aconteça, que é o facto de haver muita gente literalmente sem dinheiro, mas é um pretexto. Também se deve reconhecer que a economia, sendo assunto fácil, nem sempre é bem explicada. Mas as causas desse enviesamento venal serão outras. Apelar à falta de dinheiro é um instrumento fundamentalmente político. Serve, como se viu, para defender privatizações, cortes em prestações sociais, diminuição de salários, aumento dos impostos, entre outras coisas. E serviu, inclusivamente, para escancarar as portas à troika, num gesto que, paradoxalmente ou não, feriu gravemente a economia do país.

Como fazer regressar a economia ao pensamento do povo e da sua magnífica elite? É uma questão importante e é sobretudo uma questão política. A economia regressará quando se pensar mais no conjunto do país, de todo o país, interior e litoral, mais e menos abonados, quando se pensar no que falta fazer, no conjunto internacional que circunda o país e em todos os problemas que ele implica. Afinal, para se debater a economia numas eleições é preciso ver tudo e todos e não apenas os sítios onde não há dinheiro. É possível? Talvez seja um bocado tarde, mas é possível. Um primeiro passo seria que todos aqueles que durante tanto tempo falaram tanto de dinheiro reconhecessem do que têm vindo a falar e fizessem uma pausa, abrindo assim espaço para se falar, sem complexos, de educação, conhecimento, investimento e afins. De economia, portanto.

Universidade de Lisboa, Instituto de Ciências Sociais

Pedro Lains 
25/09/2015 - 09:52
Público