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Portugal tem tudo. Só não cheira a maçãs

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Portugal tem tudo. Só não cheira a maçãs Empty Portugal tem tudo. Só não cheira a maçãs

Mensagem por Admin Sáb Out 03, 2015 10:39 am

Que ele gosta muito de Portugal é verdade sabida. Mas porquê? E de que gosta e não gosta este músico nascido em Benguela, cronista de vidas, permanente viajante ? Da língua mestiça, das paisagens urbanas, das saudades que o fazem telefonar para casa.


Debaixo deste sol, a vida consegue ser menos dramática. O sol tem esse efeito, nos faz sentir menos exilados. Em Portugal, não seria justo se a esta confissão não acrescentasse o fator língua como pretexto, razão até - sim gosto de Portugal porque aqui se fala português e não resisto aos verbos redondos, formas, estilos e tiques que se manifestam nos sotaques que lhe habitam. Tenho carinho pelos padroeiros dessa língua mestiça que nos une, o português, e não só o de Camões, mas também, esse da linha de Sintra, da Margem Sul, o do Rui Unas, o meu que, quando dito em voz alta, carrega um sotaque, que já não é nem benguelense nem lisboeta. Gosto de pensar que é simplesmente nosso, meu e vosso, nós que vivemos adulterados, reagimos e assimilamos tudo que nos chega à mão, seja via internet ou televisão, rádio ou feira do relógio, dos países do Leste ou das Américas. Inventamos verbos que não existem e criamos adjetivos novos todos os dias. Para tornar os dias mais simples, usando a palavra certa para o sentimento específico, tornando curta a distância que separa o pensamento da ação.

Foram vários os encontros, muitos deles, em cima de um retângulo com 5/5 de área útil, numa cidade nunca antes visitada, lugares remotos cujos nomes não retive, apenas recortes sobrepostos de rostos, luzes, cores e corpos pulsantes, girassóis-multidões-ao-vento à mercê de 110 decibéis de som. Uma imagem que se repetia tanto dentro deste espaço entre o Minho e o Algarve, como também fora, além-fronteira, ali onde a língua se faz pátria, onde a luz que cai sobre mim não me permite distinguir para além das pessoas que se encontram imediatamente junto ao palco. Os seus corpos em massa indicam--me até onde tenho chão; as suas mãos tocam-me na sua juventude contagiante. Oiço as suas vozes anónimas, germinando no escuro, gritando frases-desejo aleatórias, apelos identitários enquanto dançam. São vozes em movimento. Vozes de exaltação, roucas e apaixonadas, vozes que se sentem esquecidas, numa cidade estrangeira, vozes na minha língua, que entoam fragmentos de canções que assinamos e reclamam mais português.

Tanto o ruído como o silêncio me revelaram este país. Vila Nova de Paiva, Penalva do Castelo, Arruda ou Sobral de Monte Agraço, lugares que nunca me ocorreria visitar se não fosse pelo silêncio da palavra escrita, o gosto das palavras e a curiosidade em conhecer o outro. Colhi tanto prazer nisso que não o via como sacrifício. Contrariando os meus hábitos de notívago, despertava com uma alegria de criança aniversariante, antes de o galo cantar. Vestia a minha camisa e gravata favorita e corria para Santa Apolónia, cruzando-me no caminho com outros madrugadores como eu, lisboetas por nascimento ou afeto, africanos brancos e negros, desaguando na cidade naquele que, para mim, é um dos acontecimentos mais extraordinários a que alguém pode assistir numa capital europeia: o enorme contraste entre o lirismo paisagístico da cidade e a crueza concreta de quem vive nela.

O meu Portugal foi feito de encontros, nas ruas do Bairro Alto, na Ribeira da Invicta, em museus, praças e escolas como em Penalva do Castelo, uma vila do distrito de Viseu, não muito longe de Fornos de Algodres e Mangualde, tal como me informou o bem-intencionado anfitrião, que certamente não fazia ideia de quão limitados são os meus conhecimentos de geografia portuguesa. Na biblioteca daquela escola, um tanto retraídos, um pequeno grupo de alunos aguardava pacientemente a minha apresentação. Esforçavam-se para não perder a compostura e envergonhar os professores, visivelmente mais entusiasmados com a minha visita do que aquela jovem plateia, e eu tentando esconder o nervoso miudinho. É infinitamente mais fácil atuar para multidões no Coliseu dos Recreios em Lisboa, no Festival Rock Al Parque em Bogotá, em São Petersburgo ou até no Japão, do que é partilhar segredos com um grupo de adolescentes e explicar de forma detalhada, o que me fez querer preencher Atividade Artística e Literária no campo destinado a atividade exercida da minha declaração de rendimentos.

Confesso que os momentos em que cheguei mais perto da ideia de Portugal aconteceram no estrangeiro, nesses lugares "terra de ninguém" que são os hotéis. Não quero soar a anúncio de publicidade, mas já se viram na situação em que, ao chegar ao hotel, numa terra distante, ao desfazer a mala e pendurar a roupa no armário, foram transportados para dentro dum anúncio para amaciadores de roupa? O cheiro da roupa lavada, e com ele as memórias de casa que carrega, faz--me pegar no telefone e ligar e dizer todas as aquelas coisas que um homem apaixonado diz à sua amada. Adoro esses momentos que nos ajudam a perceber a importância de determinadas pessoas nas nossas vidas ou, mais profundo do que isso, o quão forte é o nosso amor por elas. O mesmo acontece com cidades, bairros, ruas, animais, automóveis, clubes de futebol, enfim, tudo aquilo com que nos relacionamos de forma afetiva.

Quando nos perguntam, por exemplo, por que amamos um país, a pessoa que nos coloca a questão espera, de forma inconsciente talvez, ouvir o velho desfilar de aspetos culturais de determinado lugar. Essas mesmas palavras são, por seu turno, as que esperamos ouvir dessa pessoa se a mesma questão lhe for colocada. Sendo assim, me pergunto: será este amor da mesma dimensão daquele sentido nas vísceras, onde, diante do objeto do nosso amor, todo o universo é insignificante? O tipo de amor que certamente toda a nação irá sentir quando a seleção principal finalmente vencer o seu primeiro mundial de futebol. A verdade é que esse amor dos lugares-comuns, da herança histórica, orgulho ou independência, embora seja sentido, e não acreditando muito em categorias nem comparações de tipos de amor, é sensato da minha parte dizer que não chega perto do amor que juramos sentir pela nossa amada quando esta nos surpreende com um amo-te e nós, meio em contramão, respondemos um lacónico "eu também te amo".

É sentido mas - sabem o que quero dizer... - é diferente daquele amor que nos chega de forma absoluta, como quando acordamos de manhã e o cheiro a pequeno--almoço percorre a casa ao nosso encontro, para nos dizer que a pessoa amada acordou minutos antes só para nos fazer esse agrado. Ou quando descobrimos um fio de cabelo desta pessoa perdido no nosso ombro e uma onda de memórias explode no nosso pensamento. Ou, ainda, quando a pessoa amada, irritada, desapontada, bate com a porta e leva consigo parte de nós. Fazendo-nos aperceber naquele gesto e de forma violenta a falta que nos faz. Esse amor oxigénio, esse amor vital, chega sempre desavisado. Agora, que estou longe da minha Baixa querida, posso afirmar que não é a saudade nem o aroma do Azeite Galo que me faz querer tanto Portugal, ao ponto de fazer aqui uma pequena declaração de amor nacional. Gosto da falta de cerimonia, do à-vontade e da rapidez com que os portugueses nos convidam para uma refeição em suas casas.

Mas voltemos. Quando a ocasião o permitir, depois de o ruído passar e deixarmos de nos preocupar tanto com o assunto moeda, partilhemos o gosto que criamos por essa língua-ninho, pátria até. Que fértil tem vindo a crescer mais em mim, sempre que lhe descubro uma nova palavra, perdida, reapropriada ou inventada, sempre que a oiço ser mastigada por outras bocas, outros sotaques. Para quê insistir com a lusofonia, quando é essa língua portuguesa, viva e múltipla, que nos dá tanta tesão.

Gostava de devolver, com igual cerimónia, aquelas madrugadas em que, no alto da colina de São Roque na freguesia da Encarnação, vi nascer um país dentro de uma cidade. Uma república, com tudo o que havia de anulação e otimismo - o poema UE, doze estrelas douradas num fundo azul, África tão perto e tão longe, o medo da velhice, uma sombra que cai sobre os ombros da nação.

Depois de desembarcar na Portela, isto antes de depositar todas as minhas economias emocionais nos teus cofres, apercebi--me de imediato de que este chegar representava um reencontro comigo mesmo, e nele não cabia o rótulo de imigrante que me foi imposto. Sabia, no íntimo, que tudo aquilo que me designava realizar neste espaço estaria irremediavelmente adiado, pois ao primeiro contacto com os arquitetos dessa Lisboa invisível, sem monumentos ou glórias, nas periferias culturais e geográficas, soube então que estaria, de um só golpe, perdido e salvo. Estaria em casa.

E sinto-me em casa. Quando me mudei para Lisboa, ainda que os primeiros meses na cidade das sete colinas tenham sido curiosos. No início estava crente de que não iria ficar muito tempo; não sei de onde tirei essa ideia, mas sentia que o bem-bom não iria durar e tarde ou cedo alguém iria dizer "acabou o tempo, arruma as tuas malas e põe-te a andar". Resultado, passava noites a fio a gravar música da rádio. Ainda tenho as cassetes dos programas que gravei do Portugália do Henrique Amaro e do Repto do José Mariño, os responsáveis por me mostrarem que existia boa música na minha língua e que, ainda que indiretamente, foi fundamental para criar em mim o bichinho da música e me convencer de que teria algo a dizer e a acrescentar à música feita em português.

Mas antes da língua e do verbo, antes de ouvir na rádio a Amália a cantar canções tristes e de a minha mãe me dizer que aquilo que ouvia se chamava fado. Bem antes de ler num livro de História o nome de Diogo Cão e a sua chegada à foz do Rio Zaire. Antes das mil formas de cozinhar o bacalhau descritas num velho livro de receitas portuguesas na casa da minha avó. A ideia de Portugal surgiu-me desavisada. Festejávamos o regresso de um familiar de umas férias passadas em Lisboa. A sala encheu-se de histórias; fotografias de uma praça onde as pombas sem medo vinham comer na palma das mãos mostravam-se ao som do rasgar de papel de embrulho, por entre um cheiro novo, doce e frutado, que invadia o ar. Nunca mais me esqueci do cheiro das maçãs de casca verde e azeda tão saborosas, tão distantes das que nos chegavam da Huíla. E as prendas... As prendas eram de cortar o fôlego. Em minha casa as crianças nunca se prenderam aos brinquedos. Por isso, qualquer livro de banda desenhada me deixava nas nuvens. Mas aquela dúzia de livros Disney e Marvel fizeram de mim simplesmente o kandengue mais feliz de Benguela. De mim e de todos os miúdos lá da rua, porque esses objetos de culto pop não ficavam muito tempo na posse dos seus proprietários. Corriam o bairro todo até voltarem; muitos nunca voltavam. Raros e desejados, estes livros só eram possíveis de obter via Portugal. E foi por essa via que começou a ganhar forma em mim a ideia de Portugal, o lugar-donde--vinham-os-livros-de-BD-e-que--cheirava-a-maçãs-granny-smith.


Hoje, sempre que viajo por Portugal, inconscientemente procuro aquele lugar. Não me recordo bem quando mas certa vez. Amanhecemos em Guimarães e com o dia todo para domingar. Para não nos sentirmos deslocados evitámos o registo turista e decidimos fazer o que supostamente um nato da terra faria. Uma chuva miudinha insistia em não parar, talvez por isso metade da cidade hibernava, sem que isso ofuscasse a beleza da cidade. A busca de um restaurante levou-nos até Vizela, onde encontrámos um que merecidamente nos fez dedicar três horas do nosso tempo e apetite. A tarde corria acelerada para o seu fim e restavam-nos poucas escolhas de entretenimento. Talvez por isso fomos naturalmente conduzidos para o interior de um shopping center. Não fizemos grandes juízos, aceitámos o facto e deambulámos por ali de montra em montra. Escolhemos um filme, comprámos pipocas e coca--colas e entrámos na sala que se encontrava com o maior número de pessoas . Talvez fosse por causa do efeito Soraia, mas penso que não poderíamos ter escolhido um melhor filme para aquele fim de tarde - Call Girl. Ao sairmos do cinema com um sorriso estampado no rosto, sem aquela culpa que às vezes nos pesa quando seguimos determinada tendência popular. Lembrei-me da satisfação que sentia depois de ler um livro de BD, quase como se saboreasse aquele lugar-donde-vinha-a--banda-desenhada; só não cheirava a maçãs.

por KALAF EPALANGA
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