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A causa social como objeto de desejo
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A causa social como objeto de desejo
As sondagens sobre o resultado das eleições que se realizarão em Espanha no próximo dia 20 de dezembro prognosticam o fim do bipartidarismo, da alternância no poder entre a direita e a esquerda convencionais. Nem o PP nem o PSOE conseguirão obter uma maioria absoluta e deverão ter de pactuar com as duas forças alternativas que ocuparam um espaço notável. Uma delas é o Podemos, semelhante ao Bloco de Esquerda de Portugal, que pretende, mostrando uma face mais simpática do que a do comunismo tradicional, impulsionar também a revolução coletivista. O outro partido na liça é o Ciudadanos, uma formação de cariz social-democrata moderado, que está a pescar votos entre os socialistas e, sobretudo, entre a direita. A força destes dois novos partidos vem do facto de não estarem contaminados pelo exercício do poder e de estarem livres dos casos de corrupção que feriram gravemente os de sempre. Os principais meios de comunicação do país parecem encantados com a nova situação. O seu interesse é que o próximo governo seja o menos mau dos possíveis e decidiram apadrinhar o Ciudadanos, que é uma formação moderada que poderia fazer de charneira entre a direita e os socialistas e dar lugar a um poder executivo que conservará a maior parte das reformas realizadas até à data e, inclusive, promoverá outras.
Até aqui parece tudo perfeito, de um taticismo plausível e razoável. Mas eu não estou disposto a deixar-me enganar. Não aceito que os novos partidos sejam verdadeiramente novos e muito menos que defendam um projeto capaz de despertar a esperança dos eleitores. O pretexto central do Podemos para esconder as suas verdadeiras intenções leninistas é que quer promover os direitos e a justiça social. No que respeita ao Ciudadanos, a imprensa a seu favor, que é maioritária, está num idílio com o seu líder, Albert Rivera, por um motivo que tem que ver com o apresentado por Pablo Iglesias, do Podemos: "Porque é um partido que está a saber combinar o livre mercado com a causa social."
A justiça social, ou a causa social, como o leitor preferir, converteu-se no objeto de desejo de todos os partidos, incluindo os tradicionais. A pergunta é: que diabo é isso do social? Instituir um rendimento mínimo financeiramente insustentável que instale as pessoas na pobreza e as acomode ao sustento permanente do governo? Blindar supostos direitos impossíveis como o da habitação, da luz e da água na Constituição, enganando as pessoas sobre as possibilidades económicas de um Estado desenvolvido? Políticas deste tipo, que já são antigas, podem ser muito respeitáveis, mas são as contrárias às de um projeto capaz de trazer esperança a um país.
Todos sabemos em que consiste a esperança. Implica trabalhar duramente por um sonho. Às vezes, este tem que ver com objetivos que poderiam parecer banais - e não o são - como comprar um apartamento maior, trocar de carro ou fazer um cruzeiro no próximo ano. Ou com questões mais fundamentais como adquirir mais formação ou encontrar um trabalho melhor. Para mim, a esperança é ter a segurança de que, trabalhando duramente, se pode prosperar e ganhar em nível de vida; que o Estado não o vá impedir ao confiscar com impostos, antes o vá favorecer tratando de impulsionar a concorrência perfeita. Este deveria ser o objetivo de qualquer governo. Mas a esquerda de todos os partidos, incluindo dos novos, mata a possibilidade de se ter esperança em qualquer coisa. O seu programa baseia-se em procurar a chamada justiça social. E que diabo é para a esquerda a justiça social? Explicá-lo-ei de forma simples. Assegurar às pessoas a ajuda correspondente para que não tenham com que se inquietar, garantir à empresa o subsídio que anda a pedir há anos para sobreviver sem se transformar, reconstruir, em suma, o nocivo Estado do bem-estar que a crise nos deu a possibilidade de liquidar. Este tipo de políticas é muito popular porque proporciona às pessoas tranquilidade e bons alimentos. Despreocupa-as. E é verdade que gera conforto, ainda que fugaz. O que jamais provocará é a esperança, porque carece da potência de que necessita um país que procure um lugar num mundo marcado pela concorrência feroz.
Um projeto político esperançoso passa por fundar um sistema educativo e um modelo económico que recompensem o trabalho duro, o mérito, a inovação e a responsabilidade pessoal. Mas nunca alcançaremos essa meta com uma assistência social em contínuo crescimento e um Estado cada vez mais pesado anulando a criatividade individual. É esta que há que desenvolver para que cada qual possa lograr o seu próprio sucesso. Que partido fala destas coisas tão simples? Nenhum da esquerda. Mas a direita também não o faz. Nem em Espanha nem em Portugal. Para promover a esperança é preciso recuperar a batalha das ideias. Quais? Uma delas é que a principal finalidade de qualquer política sensata é procurar que os pobres enriqueçam e progridam, não rasteirar com impostos aqueles que vão à frente. Outra é que há que favorecer a igualdade de oportunidades. Por isso convém reformar o mercado laboral para dar acesso aos jovens, incluindo aos que não têm formação, assim como combater os grupos de pressão já instalados que operam como barreiras de entrada para as novas empresas e para os profissionais.
Em lugar de fomentar a dependência e o clientelismo do Estado, a esperança nasce ampliando a esfera de liberdade individual e criando um padrão de incentivos adequados para que cada qual possa desenvolver o mais amplamente possível a sua criatividade pessoal. Há que reduzir a presença do político na vida civil e incentivar o protagonismo dos indivíduos no seu próprio destino. Não duvido que a aposta para que as pessoas sejam cada vez mais livres, independentes e responsáveis é uma tarefa tão árdua como incómoda, sobretudo quando o pensamento dominante as convenceu de que ser-se servil compensa mais. Mas é a aposta mais compatível com a natureza humana. A contrária, a que apregoam agora todos os partidos, a direita, a esquerda e os novos de um ou de outro cariz, é uma corrupção das aptidões e dos dons com que nascemos e que temos a obrigação de desenvolver. E, na medida em que endossa ao Estado a tarefa de combater artificialmente a desigualdade e a pobreza, castigando aqueles que têm êxito, fomenta a inveja e o ressentimento.
06 DE NOVEMBRO DE 2015
00:04
Miguel Angel Belloso
Diário de Notícias
Até aqui parece tudo perfeito, de um taticismo plausível e razoável. Mas eu não estou disposto a deixar-me enganar. Não aceito que os novos partidos sejam verdadeiramente novos e muito menos que defendam um projeto capaz de despertar a esperança dos eleitores. O pretexto central do Podemos para esconder as suas verdadeiras intenções leninistas é que quer promover os direitos e a justiça social. No que respeita ao Ciudadanos, a imprensa a seu favor, que é maioritária, está num idílio com o seu líder, Albert Rivera, por um motivo que tem que ver com o apresentado por Pablo Iglesias, do Podemos: "Porque é um partido que está a saber combinar o livre mercado com a causa social."
A justiça social, ou a causa social, como o leitor preferir, converteu-se no objeto de desejo de todos os partidos, incluindo os tradicionais. A pergunta é: que diabo é isso do social? Instituir um rendimento mínimo financeiramente insustentável que instale as pessoas na pobreza e as acomode ao sustento permanente do governo? Blindar supostos direitos impossíveis como o da habitação, da luz e da água na Constituição, enganando as pessoas sobre as possibilidades económicas de um Estado desenvolvido? Políticas deste tipo, que já são antigas, podem ser muito respeitáveis, mas são as contrárias às de um projeto capaz de trazer esperança a um país.
"Há que reduzir a presença do político na vida civil e incentivar o protagonismo dos indivíduos no seu próprio destino "
Todos sabemos em que consiste a esperança. Implica trabalhar duramente por um sonho. Às vezes, este tem que ver com objetivos que poderiam parecer banais - e não o são - como comprar um apartamento maior, trocar de carro ou fazer um cruzeiro no próximo ano. Ou com questões mais fundamentais como adquirir mais formação ou encontrar um trabalho melhor. Para mim, a esperança é ter a segurança de que, trabalhando duramente, se pode prosperar e ganhar em nível de vida; que o Estado não o vá impedir ao confiscar com impostos, antes o vá favorecer tratando de impulsionar a concorrência perfeita. Este deveria ser o objetivo de qualquer governo. Mas a esquerda de todos os partidos, incluindo dos novos, mata a possibilidade de se ter esperança em qualquer coisa. O seu programa baseia-se em procurar a chamada justiça social. E que diabo é para a esquerda a justiça social? Explicá-lo-ei de forma simples. Assegurar às pessoas a ajuda correspondente para que não tenham com que se inquietar, garantir à empresa o subsídio que anda a pedir há anos para sobreviver sem se transformar, reconstruir, em suma, o nocivo Estado do bem-estar que a crise nos deu a possibilidade de liquidar. Este tipo de políticas é muito popular porque proporciona às pessoas tranquilidade e bons alimentos. Despreocupa-as. E é verdade que gera conforto, ainda que fugaz. O que jamais provocará é a esperança, porque carece da potência de que necessita um país que procure um lugar num mundo marcado pela concorrência feroz.
Um projeto político esperançoso passa por fundar um sistema educativo e um modelo económico que recompensem o trabalho duro, o mérito, a inovação e a responsabilidade pessoal. Mas nunca alcançaremos essa meta com uma assistência social em contínuo crescimento e um Estado cada vez mais pesado anulando a criatividade individual. É esta que há que desenvolver para que cada qual possa lograr o seu próprio sucesso. Que partido fala destas coisas tão simples? Nenhum da esquerda. Mas a direita também não o faz. Nem em Espanha nem em Portugal. Para promover a esperança é preciso recuperar a batalha das ideias. Quais? Uma delas é que a principal finalidade de qualquer política sensata é procurar que os pobres enriqueçam e progridam, não rasteirar com impostos aqueles que vão à frente. Outra é que há que favorecer a igualdade de oportunidades. Por isso convém reformar o mercado laboral para dar acesso aos jovens, incluindo aos que não têm formação, assim como combater os grupos de pressão já instalados que operam como barreiras de entrada para as novas empresas e para os profissionais.
Em lugar de fomentar a dependência e o clientelismo do Estado, a esperança nasce ampliando a esfera de liberdade individual e criando um padrão de incentivos adequados para que cada qual possa desenvolver o mais amplamente possível a sua criatividade pessoal. Há que reduzir a presença do político na vida civil e incentivar o protagonismo dos indivíduos no seu próprio destino. Não duvido que a aposta para que as pessoas sejam cada vez mais livres, independentes e responsáveis é uma tarefa tão árdua como incómoda, sobretudo quando o pensamento dominante as convenceu de que ser-se servil compensa mais. Mas é a aposta mais compatível com a natureza humana. A contrária, a que apregoam agora todos os partidos, a direita, a esquerda e os novos de um ou de outro cariz, é uma corrupção das aptidões e dos dons com que nascemos e que temos a obrigação de desenvolver. E, na medida em que endossa ao Estado a tarefa de combater artificialmente a desigualdade e a pobreza, castigando aqueles que têm êxito, fomenta a inveja e o ressentimento.
06 DE NOVEMBRO DE 2015
00:04
Miguel Angel Belloso
Diário de Notícias
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